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Zumbu: escola de combate à cólera

Por admin

No distrito de Zumbu, Oeste da província de Tete, há cerca de oito anos que ninguém padece de cólera, pese embora todos bebam água com uma qualidade suspeita. Turva. Retirada directamente do rio Zambeze. O sucesso neste campo da saúde resulta do facto de toda a comunidade estar envolvida em acções de prevenção. O distrito é uma escola de combate à cólera.

O médico-chefe do distrito de Zumbu, Miguel João, recusa ser tratado como “médico-chefe”. Diz que esse rótulo está errado porque ele não chefia a nenhum médico. É o único e, por isso, não pode ser chefe dele mesmo. “Sou médico do distrito”, disse logo após as apresentações de praxe.

Sentamo-nos numa marquesa colocada numa das enfermarias que se encontrava vazia naquela manhã. O Hospital Distrital de Zumbu estava quase às moscas. A meia dúzia de pacientes que perfilavam no pátio aguardavam pacientemente pelos resultados de diferentes análises.

Depois de colocar o estetoscópio sobre os ombros e de abrir levemente a cortina da janela com vista à zona do laboratório, contou que fora para ali destacado há cerca de cinco anos e que assistiu à construção desta unidade sanitária.

Recordou que a Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) investiu um total de 70 milhões de meticais para oferecer um hospital como deve ser ao distrito, a qual compreende espaços feitos de raiz para consultas, maternidade, bloco operatório, lavandaria e cozinha. Com o mesmo dinheiro foi possível reabilitar a farmácia, salas de pequena cirurgia, estomatologia, entre outros.

Apesar do hospital estar a funcionar em pleno há uns dois anos, o distrito de Zumbu conseguiu a proeza de se desfazer do vibrião que provoca a cólera em 2007, ou seja há cerca de oito anos. O administrador do distrito, José Chissale toma essa vitória como principal “figura de cartaz” que apresenta a quem chega de outras paragens. O “médico do distrito” faz o mesmo.

Conforme revela Miguel João, o sucesso neste domínio resulta do envolvimento de todos em matérias de prevenção. “A administração do distrito, líderes comunitários, agentes de saúde e população em geral aderem às campanhas de sensibilização e cumprem com as mais elementares regras de higiene individual e colectiva”, disse.

Para além da adesão em massa às sessões explicativas sobre como se proteger, os residentes de Zumbu também aceitam usar o cloro para purificar a água turva que colhem nas margens do rio Zambeze, visto que o sistema de abastecimento de água ali existente funciona assim-assim e não vai longe em termos de abrangência da sede do distrito, para não mencionar os postos administrativos, localidades e companhia.

Apesar da qualidade da água que se consome, somos um distrito feliz no que se refere ao combate à cólera”, disse Miguel João para depois acrescentar que a HCB quis construir dois furos e um sistema de captação, tratamento e bombagem de água, mas o filme que rolou a seguir foi um desastre.

O orçamento que aquela empresa tinha disponível era de longe inferior àquele que as empresas cobraram. Foram feitos concursos e quatro empresas vieram fazer as suas avaliações e se recusaram a receber o valor proposto pela HCB”, lamentou.

Para não deixar aquela população ao “Deus dará”, foram feitos investimentos à maneira, dos quais resultou a construção de dois furos e um poço, mas como não há bela sem senão, “um dos furos era bastante salobre e o poço não resultou em quase nada. Sobrou um furo”.

UM MÉDICO PARA 76 MIL PESSOAS

Com o sucesso garantido no combate à cólera, as autoridades sanitárias do Zumbu desdobram-se para o segundo grande problema de saúde pública que é a malária. “No ano passado, o número de casos subiu apesar de todo o aparato que criamos para a prevenção”, disse o “médico do distrito”.

Para além da prevenção, com recursos a redes mosquiteiras e sensibilizações comunitárias, as autoridades sanitárias deste distrito investiram na melhoria da qualidade dos registos dos pacientes, alargaram as suas áreas de influência e levaram a que mais pessoas aderissem ao tratamento médico nas unidades sanitárias do distrito e não na Zâmbia e Zimbabwe, países com os quais Zumbu faz fronteira.

Nos últimos cinco anos, o governo investiu em duas unidades sanitárias que ajudaram a reduzir as distâncias entre as comunidades e os serviços de saúde. O que notamos é que, na conjugação de todos estes elementos, o número de doentes caiu muito este ano porque, também, choveu muito e a água correu mais rápido, sobrando poucos pontos de procriação dos mosquitos”, sublinhou.

Onde a “porca torce o rabo” no quesito saúde é quando se observa que Miguel João é o único médico a quem as 76 mil pessoas do distrito de Zumbu podem recorrer quando as situações se complicam. De outro modo, só do outro lado da fronteira. Na Zâmbia ou no Zimbabwe.

Aliás, situações de aflição é o que não falta naquele distrito onde a população humana disputa território com elefantes, crocodilos, búfalos, hipopótamos e cobras que trafegam entre Zumbu e o distrito de Mágòe, que tem uma área de conservação a paredes meias, na outra margem da albufeira de Cahora Bassa, mais os animais que vem e vão dos dois países vizinhos.

Mesmo a este propósito, Miguel João relatou que o que mais o deixa angustiado é o facto de rotineiramente aparecerem ao hospital pessoas com lesões graves resultantes do conflito Homem-fauna bravia e, por limitações diversas, assistirem as vítimas a perderem a vida.

Deu o exemplo de uma mulher que recebeu dentadas de um crocodilo numa das nádegas enquanto lavava a roupa na margem do rio Zambeze. Dada a gravidade da lesão e o tempo que a paciente levou até chegar ao hospital, a ferida ficou infectada.

Tivemos que transferi-la para o hospital de Catondo, na Zâmbia, que fica a uns 40 quilómetros daqui, mas era tarde demais. Perdeu a vida”, lamentou e logo a seguir descreveu a rotina que é preciso seguir quando casos desta natureza acontecem.

COOPERAÇÃO MÉDICA

Quando temos uma situação complexa, telefonamos para os colegas da Zâmbia e pedimos que o recebam. Levamos o doente até à margem do rio para apanhar um barco que o vai levar para a margem zambiana. Precisamos também levar um bidão de 20 litros de diesel para abastecer a ambulância que virá levar o nosso doente e trazê-lo de volta depois do atendimento”, disse.

Mas, ao contrário do que se pode pensar, quem recebe um grande número de doentes estrangeiros não é o hospital zambiano de Catondo, mas, sim, o Hospital Distrital do Zumbu, que acolhe cerca de 20 pacientes zambianos por mês.

Estes cidadãos forasteiros procuram na unidade sanitária moçambicana um bom atendimento em laboratório, para testes de HIV/Sida, análises do estado imunológico, vulgo CD4, serviços de estomatologia, entre outros. “E nós não lhes cobramos nada, porque não há nada escrito que diz que devemos cobrar. Tratamo-los como moçambicanos”.

Outro factor que concorre para que os zambianos que acorrem àquele hospital sejam tratados sem distinção é que falam as mesmas línguas que os moçambicanos, pelo que o exercício para descobrir quem é quem é posto de lado. Naquela vila fronteiriça, tanto lá como cá fala-se tchicunda, ntsenda e nyanja.

Num outro desenvolvimento, Miguel João disse que por ali não há falta de medicamentos porque a Direcção Provincial de Tete já conhece a rotina local e possui um plano pré-definido que é obedecido sem sobressaltos por um camião exclusivamente reservado para o efeito.

Porém, “não temos transporte. O land Cruiser tem a caixa de velocidade avariada. Usamos a ambulância e viaturas da administração para fazer as visitas às unidades sanitárias localizadas nos postos administrativos”, revelou.  

Para além da falta de meio de transporte, o Hospital Distrital de Zumbu “padece” da falta de água em alguns locais como a área de consultas, bloco operatório e maternidade. O sistema de ar-condicionado não funciona como deve ser no laboratório e no bloco operatório.

Jorge Rungo

jrungo@gmial.com

 

 

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Hotel Charme Fonte do Boi 24 de Setembro, 2023 - 18:35

Hotel Charme Fonte do Boi

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