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Urge disciplinar professores e alunos

Por admin

O sector da Educação em Morrumbala, distrito da província da Zambézia, é caracterizado por anomalias que de alguma forma comprometem uma boa formação do Homem Novo. Há graves falhas por parte de professores, alunos e pais ou encarregados de educação.

Frequentemente professores e alunos não se fazem presentes nas escolas, sobretudo no período de frio, de Maio a Junho. Os professores alegam que os seus educandos ficam em casa a se aquecerem em lareiras, estes por sua vez acusam os docentes de faltarem ao serviço quando lhes apetece, por vezes para se ocuparem de bebedeiras na vila-sede do distrito.

Felizmente, pela obra do Governo e seus parceiros, em Morrumbala não há escassez de escolas. Em algumas zonas o número de escolas ou salas de aulas é para além das reais necessidades, havendo professores que mais não fazem senão esperar pelo dia de salário. Há salas de aulas por todo lado, dentro das paredes de areia, por cima de telhados de capim ou de chapas, debaixo de cajueiro ou de mangueiras, etc, etc.

O que, provavelmente, deve estar a faltar é boa qualidade de ensino e aprendizagem. Não se explica como é que em cada trimestre ou semestre em quase todas as escolas os alunos são quase na totalidade atribuídos notas positivas, se eles e os seus professores andam longe das escolas. Os professores não querem “complicações” com as autoridades distritais da Educação, nem com os pais ou encarregados de Educação.

A cerca de dez quilómetros, em direcção ao posto administrativo de Megaza, deparamo-nos com uma sala escola sem paredes nem tecto e sem alunos nem professores. Em conversa com um grupo de pais e encarregados de educação ficamos a saber que as crianças se escusavam a frequenta-la por só ser de estacas.

“A escola é aquela que viram. Os nossos filhos negam ir estudar nela porque não têm onde sentar e temem sofrer de frio ou de calor”, informaram. Quando questionados se no fim do ano os seus filhos passam ou não de classe, os nossos interlocutores responderam positivamente, garantindo que “o bom dos professores é de nunca se esquecerem da avaliação, mesmo que não dêem aulas. No fim de cada ano todos os alunos passam de classe.” Ficamos espantados, mas foi essa a realidade que nos contaram.

Na Escola Primária Completa de Denguma, cerca de sete quilómetros da vila, deparamo-nos com salas praticamente vazias, em pleno período de aulas, tendo a direcção justificado que “os alunos não vêm estudar, mesmo que se faça campanha junto das comunidades.”  

Por sua vez, as crianças confidenciaram-nos dizendo que “os professores não são sérios, faltam muito.” 

Professores em curtição na vila-sede

 

Inexplicavelmente, muitos, mas muitos mesmos, professores do distrito de Morrumbala vivem na vila-sede do distrito, também Morrumbala. Os mais ousados só se fazem às suas escolas à quarta-feira, depois de um fim-de-semana que começa na sexta-feira e termina na terça-feira. Outros fazem o esforço de se deslocarem aos postos de serviço todos dias. Estes passam mais tempo nos percursos da vila às suas escolas, já que as suas motorizadas vezes pelo caminho ficam sem combustível ou avariam, mas pelo menos fingem de que vão dar aulas diariamente.

Em qualquer canto de Morrumbala se cruza com professores que deviam estar a dar aulas, mas estão mais tempo nas barracas a beber ou a gerir seus negócios. Nos mesmos locais passam os alunos, uns vendendo galinhas, patos, bananas, ratos… outros bebendo a mesma “Tentação” que anima os docentes de todos níveis escolares leccionáveis no distrito, com destaque para o primário. Dizer que em Morrumbala funciona um instituto de formação que anualmente fornece professores às escolas locais, da Zambézia e de Moçambique.

 

 Da anarquia ao abismo

 

O ambiente é de anarquia total, que leva o sector da educação ao abismo. Para além de gazetarem ao trabalho caprichosamente, existem professores que não saem da vila-sede à espera do dia em que os ATMs do único balcão bancário existente no distrito comece a “vomitar” dinheiro do seu salário. É receber hoje, pagar dívidas e continuar a esperar pelo salário seguinte.

Porque normalmente os professores se casam com as professoras, é frequente que nas escolas as esposas substituam os esposos faltosos e vice-versa. E, por vezes, o director da escola é esposo da directora adjunta pedagógica, então anda tudo facilitado. Tudo em família. Nada de queixa chega às autoridades distritais da Educação. Só quem com eles convive se apercebe de toda trafulha.  

É de frisar que muitos pais e encarregados de educação não ajudam para o bom funcionamento do sector de Educação em Morrumbala. Em tempo de lavrar querem os filhos ao seu lado nas machambas, assim com em tempo de colheita. Fica pouco tempo para os aprendizes se apresentarem às escolas. E quando chega o período de caça aos ratos…as escolas do interior quase que ficam às moscas.

 

ADE para directores

 

As escolas primárias do país beneficiam de um fundo denominado Apoio Directo às Escolas (ADE). Cada uma recebe um valor monetário consoante o número de alunos que tiver matriculado. Pela ganância de receber muito dinheiro, há direcções de escolas que apresentam números de alunos que não correspondem com dos matriculados. Não é por acaso que têm havido professores sem horário completo em certas escolas, mas que reclamam horas extras.    

Em muitos casos os números de alunos por turma são fictícios. Alguns professores sentem-se desmotivados por nunca terem presentes mais de dez alunos, quando em papéis as mesmas salas se apresentam com mais de cinquenta alunos, conforme os dados do sector pedagógico.

O ADE permite às escolas terem dinheiro para compra de material não duradouro, como cadernos, borrachas, lápis, bolas, plásticos para coberturas de salas, vassouras e para pequenos reparos de portas e janelas e produção de hortícolas. Mas nem sempre o dinheiro recebido é destinado à compra desse variado material, pois em muitos casos é desviado para o apetrechamento das barracas dos senhores directores e esposas. Em algumas nem bola de futebol é comprada com esse dinheiro. Pior do que isso, é não constar na cabeça de alguns directores a importância da prática de Educação Física e Desporto por parte dos alunos, apesar de alguns ostentarem quase sempre camisolas com os emblemas do Sporting, Benfica e Porto.

O atraso na atribuição do ADE de 2013 vinha sendo de agrado para alguns professores por nunca saberem do seu real emprego e desagrado por parte dos directores que viam os seus negócios sem financiamento. Alguns desses directores têm parceria com determinados comerciantes para lhes passarem recibos onde, por exemplo, uma bola de 150 meticais pode custar 1500 meticais ou um lápis de dez meticais chega a custar cem meticais.

Em gíria, os professores não beneficiários do ADE traduzem esta sigla assim: Apoio (A) aos Directores (D) e Esposas (E) – ADE.   

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1 comment

visit site 13 de Fevereiro, 2024 - 7:02

I’ve observed that in the world of today, video games include the latest popularity with kids of all ages. Often times it may be not possible to drag your son or daughter away from the video games. If you want the very best of both worlds, there are various educational gaming activities for kids. Interesting post.

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