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Vende-se músculos!

Por admin

Texto de Abibo Selemane e Fotos de Jerónimo Muianga 

Os principais centros urbanos do país estão a assistir ao surgimento de ginásios onde pessoas de todas as idades procuram desenfreadamente perder a barriga e ganhar uma silhueta jovial. 

Entretanto, especialista em Educação Física referem que muitos destes locais não oferecem condições mínimas para serem assumidos como ginásios e, pior do que isso, os instrutores não percebem uma vírgula do assunto, o que pode levar os frequentadores a ganharem defeitos físicos de difícil reversão. Cuidado!

A nossa equipa de Reportagem visitou há dias alguns destes locais onde ficamos a saber que os preços praticados por sessão de treino variam de 30 a 150 meticais, ou mais, por dia, dependendo da sua localização e da finalidade dos exercícios que serão ministrados.

Alguns destes funcionam nas varandas de residências, no fundo do quintal, garagens, enfim, em qualquer local que tenha o mínimo de espaço para se juntarem candidatos a perder barriga ou ganhar alguma definição dos músculos.

Para que o negócio atraia o máximo de clientes, alguns empreendedores da área juntam alguns ingredientes como ginásio mais balneário, para que depois de soar as estopinhas, o cliente encontre água fresca para minimizar os odores corporais. Outros fazem um “mix” de ginásio com salão de beleza, café, mini-bar com bebidas energéticas, massagem, entre outros.  

Entretanto, enquanto o negócio ganha “músculos”, muitos profissionais de Educação Física começam a manifestar a sua preocupação em relação ao futuro dos frequentadores de ginásios de surgimento espontâneo porque ninguém sabe ao certo que tipo de exercícios são oferecidos, que tipo de formação aqueles técnicos possuem, se o equipamento que é usado é adequado, entre outras questões.

Porque existe um profundo risco de mazelas físicas irreversíveis, os “experts” em Educação Física que foram abordados pela nossa equipa vão mais longe ao sugerir que se comece a cogitar na regulamentação do funcionamento destes recintos para se evitar o pior, sobretudo entre adolescentes e jovens. Segundo eles, o corpo humano precisa de actividade física, sim, mas, há limites que devem ser respeitados para cada indivíduo.

Conforme dizem, a prática excessiva de actividades desportivas sem acompanhamento de indivíduos qualificados pode provocar vários problemas para o praticante, nomeadamente, a ruptura muscular, desalinhamento da coluna vertebral e, em alguns casos, hérnias. No auge do esforço, podem ocorrer acidentes cardiovasculares e rompimento de vasos sanguíneos.

ASSUNTO EM DEBATE

O presidente da Federação Moçambicana de Ginástica, Mussa Tembe, diz que o surgimento de ginásios “clandestinos” um pouco por todo o país tem sido objecto de debates ao nível desta agremiação. Porém, o assunto não passa de conversa porque a regulamentação do sector depende da deliberação do Ministério da Juventude e Desportos.

Para Mussa Tembe a expansão deste tipo de actividade não é má, o que é mau é existirem centros clandestinos onde, para além da prática desportiva, podem ser oferecidas substancias proibidas como anabolizantes. “Poderíamos entender os ginásios como clubes onde há frequentadores e atletas. Eles podiam desenvolver uma parte para a saúde e outra para o desporto. A nossa preocupação é de ter ginásios com técnicos devidamente qualificados para que os frequentadores desses lugares não tenham problemas físicos,disse.

Edmundo Ribeiro, director do Centro de Investigação e Denvolvimento do Desporto e Actividade Física, da Universidade Pedagógica, entende que o surgimento de ginásios informais está a deixar a classe preocupada porque alguns cidadãos se fazem passar por treinadores particulares (personal treiner) quando não possuem capacidade técnica para tal.

Alguns aparecem em jardins e praças onde organizam grupos de pessoas e orientam várias actividades desportivas e, dos 10 exercícios que observo a serem ministrados oito são muito perigosos a saúde dos praticantes. Acho que esses treinadores devem estar identificados para que se saibam quem é quem nesta área”,disse.        

Na definição de Ribeiro, um treinador pessoal é um profissional com formação em Educação Física, deve estar capacitado para ministrar e supervisionar os treinamentos seguindo os objectivos de quem o contrata e respeitando os princípios básicos do treinamento.

Num outro desenvolvimento, Edmundo Ribeiro referiu que a Universidade Pedagógica, em parceria com a Direcção Provincial da Juventude e Desportos da Cidade de Maputo estão a levar a cabo um estudo cujo objectivo é identificar os tipos de ginásios que funcionam na capital do país e se estão estruturados tanto tecnicamente como profissionalmente.

Até ao momento, foram visitados cerca de 30 locais onde foram constatadas várias irregularidades como a falta de pessoal formado, balneários, sistema de segurança aos utentes, como saída de emergência, extintor de incêndios, controlo de magnetização, entre outros.

As duas entidades estão a trabalhar para encontrar a classificação que se enquadra a realidade moçambicana, por exemplo, ginásio do tipo 1, 2, 3, ou mais. “Na minha opinião essas iniciativas são bem-vindas, porque nas cidades já não há espaço para a prática de actividades físicas. O que é mau é que ninguém controla este negócio e muitos que estão a trabalhar não são formados e podem levar àqueles que pretendem emagrecer a ingerir substâncias nocivas,referiu.

Edmundo Ribeiro recomenda que antes iniciar qualquer actividade desportiva em ginásios é preciso certificar-se de que o local é conhecido por entidades competentes, se tem técnicos formados e se possui condições mínimas de acompanhamento. “De outro modo, é preferível caminhar sozinho durante 15 minutos por dia que é saudável, do que estar a submeter-se a um ginásio não autorizado”,recomendou. 

A MAIORIA

QUER MÚSCULOS

Alguns proprietários dos ginásios que funcionam na cidade de Maputo contaram à Reportagem do domingo que maior parte das pessoas que procuram os seus serviços pretendem aumentar a sua musculatura, como acontece no Ginásio Salvador, de Salvador Cossa, localizada no interior do bairro da Polana Caniço, onde tem equipamento para musculação e abdominagem.

A maior parte dos frequentadores daquele centro são jovens amigos e vizinhos que procuram aumentar os seus músculos e, por essa viam prevenir mazelas. Segundo Cossa quem pretende aumentar a musculatura faz o carregamento de vários pesos durante uma hora e meia, por dia. Trata-se de pesos que tem entre 15 a 140 quilos.

Falando sobre a segurança disse que os iniciantes recebem o acompanhamento dos mais antigos, nomeadamente quatro preparadores físicos que terão sido formados numa campanha havida algures no passado. “Aqui ajudamo-nos. As vezes recebemos indivíduos com problemas de trombose e ajudamos a recuperar, mas antes de começar com os treinos exigimos um documento médico, disse.

Por sua vez, Cossa Nhambir, proprietário do Ginásio Nhambir, localizado no bairro do Maxaquene, cidade de Maputo, disse que explora o negócio de ginásio desde o ano de 2010 e que actualmente tem cerca de 70 frequentadores regulares que buscam uma melhor musculatura.

Nhambir reconhece que na medida que o tempo vai passando a procura dos seus serviços tem vindo a aumentar, mas também há muita concorrência.

Neste momento trabalho com três pessoas, divididos em dois turnos.O espaço que tenho é pequeno. Estou a procura de outro local para montar um ginásio grande onde pretendo trabalhar com pessoas formadas. Actualmente, trabalho com técnicos que apenas entendem a matéria, disse.

Enquanto uns procuram os ginásios para melhor “bater estilo”, outros procuram-nas para se aliviarem de dores musculares e para, por via dos exercícios físicos, se recuperarem de doenças diversas. É o caso de Paulo Gonçalves que pratica ginástica, particularmente a musculação, desde final de 2013 para manter o seu estado físico.

O nosso entrevistado conta ainda que começou a frequentar aos ginásios quando soube que a prática de actividades desportivas ajudar a combater os problemas de saúde com maior destaque para asmas. “Tinha problemas de asma. Comecei a jogar futebol foi desaparecendo aos poucos, e agora há um ano e meio estou a praticar ginástica. E já me sinto livre dessa doença, referiu.

Por seu turno, Dominical Nhamposse disse que está a praticar a ginástica desde ano passado, depois de estar no futebol e basquetebol. “O que mais me incentivou a praticar as actividades desportivas é a minha situação de saúde, nasci asmático. Para viver bem, sem perturbação de saúde tinha que praticar o desporto”,disse.

ginásio por “receita médica”.

Segundo o Ministério da Saúde (MISAU), pelo menos um terço da população adulta nacional tem a pressão arterial elevada, o que pode conduzir a doenças cardiovasculares do tipo acidentes cerebrovasculares, insuficiência cardíaca e enfartes agudos de miocárdio.

Por incrível que pareça, até há poucos anos, este problema era raro em países em vias de desenvolvimento e muito mais raro ainda entre a população rotulada de pobre. Porém, nos dias que correm, esta enfermidade se generalizou a ponto de ser corriqueiro ouvir o pessoal médico recomendar ao paciente rural para se mexer para evitar o pior.

Em parte, este quadro resulta das novas formas de vida onde muitos se locomovam de carro até ao local mais próximo possível do destino e quase todas as actividades profissionais são feitas comodamente sentado, o que contribui para o acumulo de gorduras no corpo, particularmente no abdómem, e também para a formação de “pneus” na cintura.

Fruto disso é que o número de cidadãos obesos tende a crescer, incluindo entre crianças, a ponto de parecer familiar e tranquilo estar em fóruns onde a maior parte dos presentes têm a barriga a espreitar por entre os botões da camisa ou por baixo da camisete.

Para agravar a situação, o stress do dia-a-dia funciona como factor de risco porque ninguém dorme tranquilo com dívidas malparadas, engarrafamentos nas estradas, complicações com a obra, despesas com o carro e com a escola das crianças, cerimónias que nunca mais acabam e brigas com o cônjuge, chefe, colegas e vizinhos.

Como se não bastasse, parte da população jovem e adulta não dispensa uma prolongada sessão de bebidas alcoólicas, agora facilitado pelo modelo 3/100, com petiscos de cabeça de vaca, porco, dobrada, água e sal de peixe ou frango, a que se juntam quilos de carne assada e worse, tudo repleto de sal, mais os cigarro, que concorrem para a formação de uma autêntica “bomba-relógio” nas artérias e no coração.

Perante este quadro, os médicos recomendam, entre outros, à prática de exercícios físicos a um número cada vez crescente de jovens e adultos que são diagnosticadas com hipertensão ou com potencial para desenvolver a doença.

Aliás, como forma de detectar casos de hipertensão, o MISAU orienta o pessoal médico a medir a pressão arterial a todos os adultos independentemente dos motivos que os levam às unidades sanitárias porque a situação só tende a agravar.

Porque a maior parte dos bairros não dispõe de infra-estruturas adequadas para a prática de desporto, com particular destaque para caminhadas e corridas, empreendedores locais inventam ginásios no primeiro cubículo onde possam caber “ferramentas” básicas.

Conforme refere o presidente da Federação Moçambicana de Ginástica, Mussá Tembe, secundado por Edmundo Ribeiro, do Centro de Investigação e Desenvolvimento do Desporto, da Universidade Pedagógica, para além do facto de alguns destes locais não serem adequados para a prática de exercícios físicos, a administração dos treinos é determinada pela espontaneidade do treinador.

Fotos de Jerónimo Muianga 

Abibo Selemane

habsulei@gmail.com

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1 comment

autoclass 14 de Fevereiro, 2024 - 14:55

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