Artes & Letras

Kapa Dech era um grupo promissor

Nascida em Yaoundé (Camarões), magra, de voz doce e um sorriso sempre presente, Valérie Belinga, é corista de profissão. Canta com paixão e uma entrega total à música. Reside em Paris (França), na cidade cultural, onde faz colaborações com músicos como Manu Dibango, Bonga, Lura e com a banda moçambicana Kapa Dech com quem gravou o disco Katchume. Por ironia do destino esta banda se desfez e ela lamenta. “Era uma banda com futuro”.

Encontrámo-la no estúdio Ferber, onde fazia coros para a música Soul Makossa, de Manu Dibango. Fascinou-nos a sua dedicação à música e de imediato prestamos atenção especial. No dia seguinte, reapareceu em estúdio com seu jeito humilde. Desta vez vinha fazer coros da música, Unga Hlupeki Nkata nitabuya nitakutxata (Não sofra mulher que virei casar-te), da autoria de Fanny Mpfumo. Impressionante foi a maneira como ela, em tão pouco tempo se apegou à letra e cantou com facilidade.

É fácil ficar apaixonada por músicas como esta. Uma música que toca-nos a alma e vai directo para a nossa cabeça. Quando isso acontece, cantamos com facilidade”, afirmava Valérie, sorridente.

A propósito da música de Fanny  Mphumo, ela disse conhecer muito bem o país. “ Estive em Moçambique no Pemba Beach Hotel, em Cabo Delgado. Mas estive em Maputo várias vezes e frequentei com muito gosto o Mini Golf. Maputo é uma cidade bonita. Eu poderia ir viver lá sem problemas, desde que tivesse oportunidade de continuar a cantar”, afirma Valérie.

Para além da beleza que constatou em Maputo, mesmo sendo por poucos dias, Valérie tem uma referência do país: a banda musical Kapa Dez. “Quando eles estiveram cá na França para gravar um disco, creio que era Katchume, eu fiz os coros nas músicas deles. Era um grupo promissor”, considera Valérie que admira Isabel Novella e aprecia a qualidade dos vídeos clips dos músicos moçambicanos.

Valérie  é uma das vozes referência em Paris, quando se trata de acompanhar os músicos que lá gravam. Isso é devido ao seu engajamento, ensaios e auto-aprendizagem.

“  Aqui em Paris gravei com vários músicos. Cesárie Évora, Bonga, Kapa Dez.  Muitos  destes gravaram na Lusáfrica, cujo editor é José da Silva. Participei nos discos da Lura, Grace Évora, entre outros”.

Uma das facetas da corista camaronesa é o profundo estudo que fez à música brasileira.“ Estudei Jazz e Bossa Nova, por isso não foi difícil acompanhar músicos que cantam em Português. Chico Buarque, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Ellis Regina, são músicos que eu dediquei meu tempo a estudá-los”, explica Valérie.

A história de África e a música do mundo são fontes da sua perseverança e inspiração. “ Leio muito sobre África e antepassados. Estudei muito Carlinhos Brown e trabalhei com o angolano Filipe Mukenga”.

Admiradora confessa de Manu Dibango, Valérie afirma ser sempre uma honra trabalhar ao lado do saxofonista camaronês. “ Gosto do papa Manu Dibango porque ele trabalha muito, mesmo com  a idade que tem. Ele é um músico de verdade. Sempre que estamos ao lado dele aprendemos muito. Ele ensina que um músico tem de ouvir outras músicas”.

Reconhece os avanços da música, mas é defensora da identidade. “Hoje temos uma abertura para o mundo, mas temos que saber preservar. Muitos músicos quando vem para França, não querem voltar mais. Ficam por cá. E alguns são influenciados em termos de ritmo, com facilidade. Isso é preocupante porque estamos a perder a nossa tradição”, opina.

Convidada a transmitir uma palavra de apreço aos jovens, Valérie afirma: “Os jovens  tem de ser sempre pacientes. Devem ler  muito para fazer o possível da melhor forma. Sendo músicos é preciso praticar. Mas só se pratica o que se sabe”.

UMA CARREIRA À SOLO

Depois de vários anos acompanhando, trabalhando com músicos e bandas, Valérie julga ter chegado o momento para criar a sua estrutura. “Tenho muita experiência adquirida ao longo dos tempos em muitos músicos. E pretendo agora transmitir esse saber. E é fácil para mim pois, neste momento sou free lancer, não estou preso a nenhum grupo”, explica Valérie.

Valérie Belinga & Rio dos Camarões– The Girl from Yaoundéé o título do disco  à solo da Valérie. É o primeiro trabalho discográfico dela.

Rio dos camarões; Berimbau (Baden Powel/ Vinicius de Moraes); One note Samba (António Carlos Jobim); A felicidade (António Carlos Jobim); Wave (António Carlos Jobim); O que será (Chico Buarque); The girl from Ipanema (António Carlos Jobim/Norman Gimbel);  Corcovado (António Carlos Jobim); Mbyo (Denis Tchangou); Desafinado (António Carlos Jobim/Jon Hendricks/Jessie Cvanaugh); Toda menina baiana (Gilberto Gil), são as doze faixas musicais que compõem o disco da Valérie Belinga.

O disco Rio dos Camarões é fruto da minha convivência com a música brasileira. Há neste disco uma mistura do ritmo tradicional camaronês, em parte, e o brasileiro através de músicas famosas”, explica Valérie Belinga.

Frederico Jamisse
frederico.jamisse@gmail.com

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Artigos Relacionados

Botão Voltar ao Topo