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Maldito “pombe” envenenado!

Por admin

Texto de Jorge Rungo e Fotos de Jerónimo Muianga

A vila de Chitima, sede do distrito de Cahora Bassa, em Tete, está a viver momentos simplesmente dramáticos. Horríveis. Já não há lágrimas para chorar pela tragédia que se abateu sobre esta pacata população camponesa e pescadora. Tudo por causa do consumo do “pombe” envenenado.

Na verdade, “pombe” é aquilo a que muitos chamam de mal-coado, uma bebida tradicional feita à base de milho e que, em condições normais de temperatura e pressão, “não faz mal a uma mosca”. Bebe-se a rodos nas cidades e no campo, geralmente em espaços apelidados por “senta-baixo”.

Naquelas rodadas de copos, canecas ou cabaças se consolidam amizades, se celebra a vida, se discute o passado, presente e futuro, enfim, vive-se à espera do dia seguinte que vai chegando ao passo da leve ou pesada embriaguez e ao som de músicas e cânticos típicos. A maior parte dos consumidores são pessoas de baixa renda, mas há um e outro bem colocado que puxa dum copo para lembrar as suas raízes.

Apesar de se desconhecer o exacto teor alcoólico desta bebida, muitos equiparam-na à cerveja, pois, leva algum tempo a embriagar, ao contrário do aguardente ou caipirinha que “arruma” com o consumidor em dois tempos.

Aliás, quando a fermentação do “pombe” inicia, o seu sabor lembra o “maheu” (bebida feita à base de farinha de milho) e, por isso, os produtores não hesitam em servir a crianças e adolescentes como se de um refresco se tratasse.

Ora, se o “pombe” não faz mal a ninguém, então o que aconteceu com os residentes do bairro “Cawira-B”, na vila de Chitima, na sexta-feira, dia 9 de Janeiro? Esta pergunta permanece sem resposta e a inquietar meio mundo, tendo em conta que foi na sequência do consumo daquela bebida que 177 pessoas foram parar ao hospital com violentos e fatais sintomas.

Conforme testemunhamos no local, os que consumiram a bebida começaram por transpirar (siderose), passaram para um estágio de fraqueza generalizada (astenia) acompanhada de dor na boca do estômago (dor epigástrica) e constante sensação de vómito (náusea). Nenhum deles tinha febre, diarreia ou vómito.

Num ápice, muitos pacientes começaram a apresentar um quadro clínico mais grave e difícil de perceber. Começaram a ficar agitados, a ter alucinações, o abdómen inchava e desinchava violentamente, progrediram para a paragem cardio-respiratória e faleceram às dezenas. Um horror.

Poucas horas depois, enquanto o pessoal médico procurava entender o que se passava, o número de pacientes subiu de 10 pacientes para 50 e a capacidade do Centro de Saúde de Chitima se esgotou. Nesta altura, grande parte dos pacientes chegavam em estado crítico e a capacidade de resposta foi mínima devido ao factor surpresa, falta de pessoal médico, meios de assistência e, pior, não se conhecia (e não se conhece até hoje) o veneno consumido para lhe fazer frente por via de um antídoto.

A nossa Reportagem percorreu as ruas e vielas de Chitima à cata de uma resposta. Misturámo-nos com agentes da polícia, médicos, agentes de Segurança do Estado, jornalistas de outros órgãos de informação nacionais entre outros pesquisadores, mas, e como é sabido, até ao fecho desta edição prevalece o incómodo mistério.

A maior parte dos sobreviventes diz que só provou aquele líquido e, por mero acaso não passou disso. Entretanto, consta que os que morreram tiveram o azar de bebericar canecas inteiras sem nunca se aperceberam da existência do veneno.

O facto de a substância ali colocada não ter produzido nenhum cheiro e não ter alterado o sabor do “pombe” fez com que aquelas cerca de 200 pessoas bebessem tranquilamente desde as 5 horas da manhã até ao fim do dia, conforme revelou Sarifa Rufino, filha de Olívia Olocane que produziu a bebida e que viria a falecer deitada no seu leito sem que ninguém se apercebesse.

Com Olívia Olocane morreram outras 73 pessoas, entre elas professores, um enfermeiro, quatro jogadores de futebol famosos em Chitima, alguns antigos combatentes e muitos anónimos idos de pontos muito distantes e que terão sido sepultados sem o conhecimento das autoridades locais.

Para infortúnio geral sobraram sequelas sociais que nunca mais vão sarar, nomeadamente, mais de vinte crianças que perderam os pais e que carecerão de assistência até se tornarem adultos. Observámos ainda que alguns residentes daquela vila que assistiram à tragédia e que não beberam o “pombe” começam a comparecer ao hospital a solicitar apoio médico.

Segundo Alex Bertil, médico que lidou directamente com o caso, alguns se queixam de siderose, astenia, dor epigástrica e náusea (transpiração excessiva, fraqueza generalizada, dor na boca do estômago e sensação de vómito. “Estamos a intervir oferecendo acompanhamento psicológico porque percebemos que se trata de trauma”, disse. 

“Pombe”: a bebida que

semeou terror em Chitima

Os residentes do bairro Cawira-B nunca se vão esquecer do que aconteceu na noite de sexta-feira, dia 09 de Janeiro de 2015, um dia que parecia igual a todos os outros, mas que terminou numa tremenda tragédia. Como era rotina por ali, os eventos sociais eram regados de “pombe” e, naquele dia, havia mais de 200 litros à venda. O que ninguém imaginava era que aquela bebida estava envenenada. domingo traz o retracto do terror vivido desde aquela fatídica sexta-feira.

Tudo começou quando se anunciou o falecimento de uma jovem conhecida por Cesaltina e cujo funeral tinha sido marcado para o princípio da tarde do dia 09 de Janeiro no cemitério local. A jovem tinha perecido no Hospital Rural de Songo que dista uns 35 quilómetros de Chitima.

Familiares, vizinhos e amigos chegaram de todos os quadrantes, inclusive dos distritos vizinhos de Mágoe e Chiúta, e também da cidade de Tete para oferecer a sua solidariedade à família enlutada e dizer o último “Adeus” à Cesaltina que era uma pessoa muito querida por ali.

Aliás, por tradição, toda a comunidade de Chitima cultiva o hábito de ir a todas as cerimónias fúnebres que ocorrem na vila porque receiam que quando o azar lhes bater à porta podem ser ignorados pela maioria ou ser tidos como feiticeiros e serem renegados para sempre. 

Ainda no domínio dos hábitos e costumes, durante o velório tocam-se batuques, entoam-se canções e dança-se, o que pode parecer esquisito para a maior parte da população da região sul do país. Outro elemento que não pode faltar nestas cerimónias é o “pombe”, a tal bebida feita à base de milho que a cantora sul-africana Yvonne Chaka Chaka celebrou no tema “Mtlomboti”, rotulando-a de “african beer” (bebida africana).

No velório de Cesaltina tinha batucada, gente a cantar e a dançar, mas não havia “pombe”. Quem trouxe a bebida foi a senhora Olívia Olocane que tem o seu bar (eles chamam de Bawa) montado no quintal ao lado. Importa referir que os quintais não levam nenhuma vedação pelo que o limite entre uma casa e outra é invisível.

Enquanto a família de Cesaltina realizava o velório, Olívia Olocane dava início à venda de “pombe”, com direito a música de festa expelida por enormes colunas e um amplificador desbotado pelo uso. É óbvio que houve bate-boca entre as partes porque a família da malograda entendia que aquilo era um abuso. “Como é que a senhora liga música e quer vender “pombe” aqui ao lado sabendo que temos uma cerimónia fúnebre?

A vendedeira Olívia retorquia que estava a fazer o seu negócio de sobrevivência no seu Bawa, entenda-se bar senta-baixo, pelo que não via problema nenhum em prosseguir com as vendas e com a sua música estridente. Aliás, parte dos que participavam nas exéquias fúnebres, por falta de um limite físico entre os dois territórios, “pulavam a cerca invisível” e trocavam copos do “outro lado”.

Quando a urna que continha os restos mortais de Cesaltina chegou, os ânimos amainaram e todos seguiram em direcção ao cemitério que dista uns dois quilómetros dali. Olívia Olocane, a vendedeira, largou o negócio e seguiu a comitiva tal como todos esperavam.

A tarde fatídica

Quando o funeral foi dado como terminado, a maior parte dos participantes acompanhou a família da finada até à casa onde retomaram o consumo do “pombe” num clima de harmonia com a vendedeira Olívia que servia a todos ao mesmo tempo que dava alguns tragos.

Homens, mulheres e crianças sorveram aquele líquido tranquilamente, como sempre fizeram, enquanto procuravam esquecer a morte de Cesaltina. Com a fermentação no ponto, o cheiro original e o paladar afinadíssimo, ninguém se deu conta do perigo que digeria. Nem mesmo os provadores-mor do bairro. Alguns deram goles sem fim e outros, por mero acaso, ficam-se pelo primeiro copo.  

A tarde caía lentamente e, de forma isolada, alguns começaram a queixar-se de fraqueza mas, porque até àquela hora pouco ou nada tinham comido, desconfiaram que se tratava de efeito de “pombe” em estômago vazio. Alguns trataram de se despedir e partiram para as suas casas levando consigo porções da bebida como “take away” para sarar a ressaca que chegaria infalivelmente no dia seguinte.

Aliás, três jovens que se ofereceram para servir de coveiros no funeral de Cesaltina receberam um garrafão como agradecimento da família enlutada pelos excelentes préstimos oferecidos no cemitério. O trio agradeceu e foi consumir o “pombe” num lugar exclusivo sem imaginarem que ingeriam veneno. No dia seguinte, os três estavam mortos.

Relatos colhidos junto de Alex Bertil, o único médico que o Centro de Saúde de Chitima tinha disponível, indicam que os primeiros pacientes chegaram àquela unidade sanitária no começo da madrugada de Sábado, dia 10 de Janeiro. “Tinham fraqueza generalizada, transpiravam muito, queixavam-se de dor na boca do estômago e de sensação de vómito”. Assim começava a tragédia.

Pouco depois, Alex Bertil tinha 10 pacientes à sua porta. Todos com os mesmos sintomas. “No começo pensei que fosse um caso normal e não solicitei apoio mas, por volta das 05 horas da manhã, já não tinha onde colocar os doentes. Tive que lançar o alerta e solicitar ajuda”, disse.

Hospital lotado

O Centro de Saúde de Chitima conta com 73 camas, incluindo as que estão reservadas para a Maternidade, Pediatria, Medicinas, Banco de Socorros e Casa de Mãe Espera. Para atender aos doentes envenenados pelo “pombe”, Alex Bertil só tinha disponíveis 50 casas.

Quando eram 08 horas daquele Sábado, o número de pacientes envenenados tinha ultrapassado a capacidade do hospital e, porque não se sabia qual era a origem do problema, a equipa de serviço receou duplicar os doentes nas camas. Por causa disso, muitos tiveram que “se virar” no chão. Por aquela altura, alguns já começavam a ter diarreias e vómitos.

Porque o tempo começava a esgotar, o pessoal médico iniciou uma “campanha” de lavagem gástrica aos doentes, acto que consiste em introduzir uma sonda (tubo) pelo nariz do paciente até este atingir o estômago e colocar soro fisiológico no estômago para depois, por meio duma seringa, extrair as substâncias existentes na barriga repetindo este processo até o estômago ficar “limpo”.

Conseguimos aliviar a muitos. O número não me ocorre porque estávamos a trabalhar em contra o relógio. Sei que muitos conseguiram sobreviver até hoje porque o veneno ainda não tinha entrado para a corrente sanguínea”, diz o médico Alex Bertil.

Aliás, naquele frenesim nenhum trabalhador do centro de saúde podia ficar de braços cruzados a contemplar à tragédia, pelo que até agentes de serviços, o equivalente a serventes ou auxiliares de limpeza, foram mobilizados a prestar algum tipo de ajuda. Até ao meio da manhã, e fruto do alarme lançado a todos os quadrantes, o Centro de saúde de Chitima contava com 50 profissionais de saúde idos dos distritos vizinhos e da capital provincial, Tete.

Sintomas violentos e morte cruel

Ainda em relação ao cenário que se viveu naquele centro de saúde, Alex Bertil afirma que “o que levou à morte de muitos pacientes foi o facto de não conhecermos a substância venenosa que tinha sido colocada no “pombe” para que pudéssemos administrar um antídoto capaz de neutralizar a sua entrada na corrente sanguínea”.

No meio de tamanha tragédia, o pessoal médico de Chitima encontra uma réstia de alegria nos sobreviventes salvos graças à lavagem gástrica e naqueles que beberam pequenas quantidades daquela bebida. “Mas muitos tinham consumido muito e chegaram ao hospital em estado crítico. Foi preciso ajudá-los a respirar por máquinas nos cuidados intensivos”.

No que se refere aos sintomas apresentados pelos pacientes que foram parar aos cuidados intensivos, testemunhas oculares apontam que, depois de se queixarem de náuseas, dor epigástrica, astenia e siderose, os doentes passavam para um estágio de agitação e alucinações, o que indicava que estavam a entrar para um quadro de degradação do sistema nervoso.

Na fase terminal, a respiração começava a falhar e tinham aquilo a que os médicos chamam de paragem cardio-respiratória e era o fim trágico de homens, mulheres e crianças, para o desespero dos sobreviventes e de grande parte da população que se aglomerou no recinto hospitalar e lá permaneceu dia e noite em pranto.

O que tornou a dor daquela morte em massa ainda mais perturbadora é que entre os perecidos estavam crianças de tenra idade, com particular destaque para uma de escassos dois anos, que terá dado uns goles de “pombe”  servidos pela própria mãe inocentemente. “Ainda temos um menor de seis anos e outro de 15 anos internados”, revelou o médio Alex.

Suspeitas recaem

sobre um curandeiro

A tragédia que se abateu sobre Chitima mexeu por completo com a vida e rotina dos residentes daquela vila e não só. Todos querem saber que veneno é esse, quem o colocou nos tambores de “pombe”, porquê e para quê? A resposta tarda a chegar e “a espera enerva”, como diziam os gauleses.

Enquanto a polícia e autoridades sanitárias palmilham o terreno e se desdobram em análises clínicas e pesquisas criminais à busca do mais ténue indício, entre a população adensa a convicção de que quem causou aquele estrago só pode ter sido o curandeiro que andou por ali nas últimas semanas e que terá tido um comportamento estranho nos momentos que se seguiram ao desastre.

Manhengo Marcelino, jovem de 31 anos, era um dos tocadores de batuques da cerimónia fúnebre onde tudo aconteceu disse à nossa equipa que escapou por pouco, pelo que a partir de agora vai se esquivar do “pombe”. “E se encontrar alguém a produzir vou entornar os tambores”. É claro que falava tendo ainda alguma dor de barriga, tontura e muito trauma pelo que assistiu.

Prosseguimos com a conversa e Manhengo acabou revelando que suspeita que o veneno tenha sido colocado nos tambores de “pombe” por um certo curandeiro ido de Chiúta, mas com passagens regulares pelo Malawi. Segundo ele, este médico tradicional terá circunvagado pela vila portando uma maleta repleta de remédios tradicionais.

Disse ainda que sobreviveu ao “pombe” envenenado porque só tomou um copo que, horas depois, provocou-lhe náuseas e alguma diarreia que passou pouco tempo depois. “Andou por aqui um curandeiro que acreditamos que seja o causador desta desgraça. Estamos à sua procura”, disse.

Ainda torcíamos o nariz em relação a esta revelação quando abordamos Berta Arnaldo, de 19 anos de idade, que também sobreviveu ao envenenamento. Esta jovem repisou que o curandeiro em causa frequentava a residência onde “pombe” foi produzido. “Quando ele apareceu no Bawa (bar) serviram-lhe cinco litros e ele não quis beber o que para nós é estranho porque ele sempre bebeu”, disse.

Perante estas revelações intrigantes, decidimos percorrer o bairro “Cawira-B”, onde tudo se desenrolou, à busca de fontes capazes de sustentar as afirmações colhidas no recinto do Centro de Saúde de Chitima. Aqui encontrámos Albino Quissimisse que confirmou que o famigerado curandeiro andou por ali, sempre bebeu, mas naquele dia recusou-se.

Angela Rodas, residente naquele bairro, aproximou-se e também confirmou que havia um curandeiro na área que é tido pelos locais como principal suspeito do envenenamento. Prosseguimos com a nossa volta pelo bairro e os guias de ocasião conduziram-nos a um segundo “Bawa” para onde o referido curandeiro se terá deslocado naquela tarde fatídica. Aqui também nos foi assegurado que o mesmo teve um comportamento estranho ao recursar-se a beber num dia em que todos tinham um copo na mão.

Perante estes relatos, abordamos o administrador do distrito de Cahora Bassa, Abel Chongo, que disse que “as autoridades policiais e sanitárias estão a investigar e não se sabe nada sobre o suposto curandeiro. Temos especialistas no terreno pelo que sugiro que aguardemos com serenidade pelos resultados das investigações”.

Com as investigações a meio, é óbvio que a polícia jamais revelaria algo, pelo que decidimos ir ao encontro da família que produziu o “pombe” para entender se de facto existia um curandeiro na área, o que ele fazia, onde está, entre outros. Ainda em estado de choque, Sarifa Rufino, filha de Olívia Olocane (mulher que produziu o “pombe” do qual foi vítima mortal) aceitou conversar com a nossa equipa.

Sarifa confirmou que o referido curandeiro era um conhecido da família. “Era nosso hóspede e, desta vez, estava aqui há três semanas. Costumava receber e tratar alguns doentes aqui na vila. Sei que foi ouvido pela polícia, mas não conheço o conteúdo da conversa que ele teve lá”, disse.

Para o nosso desalento, Sarifa e outros membros da família que ali se encontravam disseram que não conheciam o nome do referido indivíduo. Entretanto, a revelação mais intrigante estava por chegar. “Como a comunidade está a desconfiar dele, alguns secretários do bairro e autoridades tradicionais vieram ouvi-lo aqui em casa. Nessa conversa ele disse que não sabia de nada e que tinha bebido o “pombe”, que teve diarreia, mas é tudo mentira”.

Segundo Safira, a falsidade das palavras do curandeiro reside no facto dele ter apontado um alibi bastante movediço. “Disse que bebeu com um amigo, mas toda a gente sabe que ele não bebeu. Tanto mais que o tal amigo, que de facto bebeu, perdeu a vida”.   

Para além da suspeita que se agudiza em torno do inominado curandeiro, a população de Chitima jura a pés juntos que o veneno depositado nos tambores de “pombe” “só pode ser bílis de crocodilo. Se fosse ratex (veneno para ratos)teríamos tido diarreia e pouco menos”, asseguram.

Voltamos ao Centro de Saúde de Chitima para perceber se a tal bílis tem tamanho poder de destruição de vidas humanas e não só. Alex Bertil, médico que lidou com o “caso pombe” disse ao nosso jornal que “clinicamente não parece haver nada que indica que bílis de crocodilo mata. Penso que estamos perante uma crença popular apenas”.

Calor da solidariedade interna

Entre a dor e a esperança pela neutralização do autor do envenenamento, caso não se encontre entre as vítimas mortais, os sobreviventes e demais residentes de Chitima também reina um sentimento de gratidão pelo esforço empreendido por várias entidades colectivas e singulares que ofereceram assistência humanitária desde que soou o alarme da tragédia.

Entre tais entidades destaque vai para a Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) que desencadeou um programa de solidariedade que compreendeu a disponibilização de veículos ligeiros e pesados para cobrir as necessidades de transporte e a fabricação de caixões para os funerais das vítimas mortais da tragédia.

Logo a seguir, a HCB ofereceu uma centena de conjuntos de produtos alimentares, contendo cada um arroz, farinha de milho, óleo alimentar, açúcar, sal, feijão, pão, peixe e frango. Os conjuntos foram entregues às famílias através do governo do distrito de Cahora Bassa.

Na mesma senda, a HCB procedeu à entrega de produtos alimentares de primeira necessidade ao Centro de Saúde de Chitima, para permitir que esta unidade sanitária possa fazer face à pressão de busca de assistência que ainda se verifica. A par de produtos alimentares mencionados, a HCB disponibilizou pessoal médico e paramédico e medicamentos para assistir às pessoas que se encontram internadas e a receber tratamento nas unidades sanitárias do distrito.

A Agência do Zambeze também se aproximou das vítimas oferecendo produtos alimentares diversos às unidades sanitárias de Songo e Chitima. Gabriel Chamba, representante daquela instituição, disse ao nosso jornal que “o que aconteceu aqui é bastante estranho e parece um acto criminal. Tudo indica isso e estamos apreensivos porque a pessoa que praticou este acto pode estar ainda a monte e ser capaz de envenenar mais pessoas”.

O governo da província de Tete, a Associação dos Amigos de Nyusi (Anyusi), Vodacom, BCi, entre outras entidades também afluíram a Chitima para oferecer bens alimentares e materiais essenciais para a recuperação das famílias atingidas pela tragédia.

Paulo Sebastião, coordenador provincial da Anyusi disse ao nosso jornal que aquela agremiação está a recolher apoios para a assistência às crianças órfãs, particularmente neste período de arranque do ano lectivo e a negociar a possibilidade de encaminhar algumas crianças a orfanatos locais.

Jorge Rungo e Fotos de Jerónimo Muianga

jrungo@gmail.com

 

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