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Do consumismo compulsivo ao consumismo comedido

Por admin

Hoje já não se discute o consumo, por fazer parte dos nossos dias. O que talvez se discuta, é o consumismo compulsivo e os seus efeitos nas famílias e sociedade. O que se discute é o facto de as

pessoas navegarem constantemente os sites na net ou andar pelas malls das grandes cidades e vilas à procura da última novidade de um produto de consumo de marca. Não parece haver vínculos reais, apenas o prazer do momento em alimentar o ego. Dá-nos a sensação de sermos eternos, irremovíveis…A idade nem constitui obstáculo, o objectivo é arrasar….Muitos de nós, quando saímos à rua, sentimo-nos donos do espaço quer por sermos jovens, de meia idade e até alguns idosos.

Movidos pelo ego, queremos ter o melhor carro, um blackbarry ou hipone 5, Samsung Galaxy, melhor jeans, melhor casa ou sermos vistos na companhia de mulher atraente elegante e moderna.

Culpa do capitalismo? Há quem diga que o capitalismo de hoje não é de produção, mas de consumo. Mudança dos tempos? É verdade que o capitalismo não pode ser indiferente ao paradigma do consumismo compulsivo global, embora considere que a crise económica possa a curto prazo alterar o quadro, injectando conceitos mais moderados de consumo consentâneos ao momento.

O atraso económico da África não se deve a factores de natureza cultural, mas a factores de dominação como as invasões sofridas, escravatura, o colonial capitalismo, o marxismo ateu, e agora está o consumismo capitalismo, todos de origem ocidental.

As várias civilizações reinantes soçobraram à fúria de invasores que de outras paragens foram ocupando espaços e alterando a ordem. Vinham com objectivos que, nada tinha a ver com a concepção africana de sociedade que baseava na harmonia e crescimento comunitário e da família.

A globalização de hoje deve-se a esse universo de dominação económica capitalista com origem no Ocidente, hoje com várias escolas e tendências. Quem nos trouxe a nós africanos  a este século como povo foi a resistência e renitência em sermos portadores  dessas lembranças como comunidade, usando como máscaras que definem o mosaico cultural que nos identifica no que são hoje os países. A nossa história recente e do passado é feita de dominação e resistência, não nos fica, pois, bem lidar com o supérfluo como herdeiros dessa cultura de dominação que não é nossa. Tirando o facto de termos de consumir o necessário para sobreviver, o supérfluo é um elemento alienante a expurgar, por interferir socialmente, separando-nos dos amigos, da família, da comunidade, dando-nos a sensação de estarmos num patamar acima de todos eles.

Foi sempre assim ao longo dos séculos, e, tirando algumas excepções, o fim tem justificado os meios a exigir reconhecimento e afirmação de classe, enquanto outros cumprem por negação a um pleito que não consideram seu. Quem vive no pleito, afinal é o pobre que não pode escolher, apenas aceitar as regras do jogo no fundo de uma hierarquia imposta do poder económico.

 É fundamental percebermos as manifestações da ciência e a tecnologia como ferramentas que nos permitem ajustarmo-nos ao tempo real globalizado, que poderá também ser nosso, caso saibamos dele tirar as devidas ilações.

A preservação da família e dos valores que vem de longe deve estar acima do conceito de civilidade, mesmo que esta se apresente como espelho do progresso.

 Quem faz compras ou se veste em lojas como Ashley Tyler, Erica Cortney, Fred Segal ou Darling são as vedetas do cinema americano ou alguém rico, interessado em manter o status social.

Gostos não se discutem. O bolso determina a escolha. A loja novaiorquina Bloomingdales resolve o problema de classes, reservando cada andar da loja produtos a preços que correspondem a cada bolso do cliente. As estatísticas do consumo vêm demonstrando que as classes mais baixas consomem tanto como as que têm mais posses. Afinal, não é uma questão de posse, mas de satisfação do ego. Um ego que foi desafiado e modelado ao gosto de uma indústria insaciável e predisposta a reinventar-se para estar sempre presente.

Existe uma conexão estreita entre consumismo e modernidade, o que faz com que as pessoas sintam a necessidade de autosatisfação consumindo para serem felizes e actualizadas. Muitos de nós, para satisfazer o ego, passamos a consumir mais do que podemos e devemos. Dever ou ter crédito está na moda. É uma relação em função das exigências do estereótipo, em permanente insaciável insatisfação criada. Assim como as novelas, cinema e videogames têm os seus consumidores predilectos. Os gostos são sempre monitorizados por aqueles que determinam o estilo e o timing, como relógios sem ponteiros.

Certas pessoas com posse, preferem o regime de leasing, a comprar carros. Isto porque passados cinco anos podem trocá-lo por um modelo mais avançado. Um capricho que nem todos podem sequer sonhar. O parque automóvel de países em desenvolvimento, tirando algumas excepções, é velho e necessita de actualização. Sistemas mecânicos e acessórios deveriam ser renovados, dando lugar a um novo tipo de consumo mais comedido e de acordo com as possibilidades económicas dos países.

Em alguns países, importar carros de luxo, só poucos se podem dar a esse luxo. O que acontece é que importa carros de segunda mão. Como é que economias pobres se podem impor de forma sustentável, tendo de sustentar esses caprichos, quando o crédito bancário deveria dar prioridade à importação de produtos básicos como óleo de cozinha, arroz, mandioca ou milho e outros cereais? 

É preciso tomar conta do património nacional através dos moçambicanos qualificados. Se a terra pertence ao Estado, as empresas estrangeiras a trabalharem na agricultura moçambicana devem ter como sócio um parceiro moçambicano. Ninguém defende melhor o património nacional do que aquele que o viu nascer e o defendeu da agressão inimiga.

Projectos agrícolas baseados em modelos de desenvolvimento comunitário devem ser desenvolvidos nas periferias das cidades, sendo necessária a mobilização das comunidades locais, homens de negócios, municípios e governos locais.

As periferias poderiam alimentar as cidades, como acontece ainda timidamente em países africanos como o Quénia, Republica Democrática do Congo, Tanzânia e Uganda.

Cooperativas agrícolas, de pecuária, de vestuário, de calçado ou de habitação, podem ser alternativa aos “fast foods” como a Macdonalds, Wendys ou Kentucky Fries Chicken.

Não podemos imitar o Ocidente na sua vocação pela exclusão social política e económica. Não devemos copiar o Ocidente naquilo que tem de pior: o exclusivismo que permitiu as elites acumular fortunas à custa da escravatura e do colonialismo.

As acusações do Congresso americano contra empresas chinesas Huawei e ZTE, ligadas à tecnologia e fabricantes de smartphones, não têm fundamento nem fazem sentido numa economia de mercado como os Estados Unidos da América. Mais: aparecem laivos de nacionalismo em momento de cultura em crise?

O que se passa é que alguns membros do Congresso dominado pelos republicanos, vêem com dificuldade a intromissão da China na economia americana. Os chineses têm comprado os títulos da dívida do tesouro americano a um ritmo no qual o retorno imediato é quase impossível. Neste momento, detêm 1.16 triliões de dólares do volume de títulos da dívida americana. Este volume todo está nas mãos do governo chinês. Para alguns, na direita conservadora americana, a dificuldade dos Estados Unidos em lidar com a sua dívida externa, vulnerabilizou o mercado americano em relação à China. Por outro lado, este tipo de mexericos só pode ter a ver com as próximas eleições presidenciais este Novembro.

O relatório da comissão de segurança do Congresso recomenda mesmo às empresas norte-americanas que não façam negócios com a Huawei e com a ZTE por causa das alegadas ligações destas duas companhias ao Governo chinês: “Com base em várias informações – sigilosas e públicas – não podemos considerar que a Huawei e a ZTE estejam livres da influência de um Estado estrangeiro e, portanto, constituem uma ameaça à segurança dos Estados Unidos e aos nossos sistemas”.

Esta afirmação nem parece americana, uma sociedade descartável a viver destas tendências que banalizam o velho e buscam sempre a novidade, que pode penetrar por uma porta, onde menos se esperava. Não se podem retirar concorrentes do mercado para beneficiar quem quer que seja, mesmo com alegações pondo em causa a segurança do Estado.

Hoje, não se sabe ao certo até que ponto este consumismo afectou a relação homem/mulher. De facto, o homem actual ou moderno sente-se atraído pela mulher moderna, que bem pode ser de porcelana ou barro. Algumas parecem demasiado artificiais, projectos laboratoriais de cosmética. Quando se lavam ou ficam sem as maquilhagens não parecem as mesmas. Ora, um homem que vive de aparências, olhando no espelho o seu objecto de desejo, pode-se sentir traído, sentindo-se no direito de devolvê-la à procedência ou com vontade de atirá-la ao lixo.

O pior de tudo é que o homem também se decidiu por entrar neste jogo de imagem, com o machismo a dar lugar a um tipo afemininado.Com efeito, o homem moderno gosta de usar camisas berrantes, calças justas, pintar a cara, arranjar as unhas dos pés e das mãos nos spas e usar perfumes unisexo.

É verdade que, cada dia que passa, mais pessoas se queixam de serem transformadas em números codificados para poderem ser reconhecidas. E apesar de as pessoas terem sentimentos e serem seres inteligentes e sensíveis, qual a ameaça à integridade deste, quando se trata de codificar o individuo através de senha de identificação para facilitar as contas, a contabilidade, as estatísticas, ou para se entrar no programa de computador.

Se somos números, facilitamos a vida a quem nos governa, o comércio e as instituições financeiras existentes e distribuídas em cada esquina da rua ou viela.

Nos últimos 25 anos, os bancos, na sua ânsia de multiplicarem os lucros, colocaram vários produtos bancários. Acto contínuo, isto levou muitas instituições financeiras e pessoas, das várias classes, a consumirem acima das suas possibilidades, até que a falência foi decretada.

Hoje, temos mais pessoas com perturbações psicóticas, pessoas a dormirem nas ruas e a viver da sopa dos pobres, quer na Europa quer na América, como resultado dessas políticas. Temos mais do que nunca países com tremendas dificuldades sociais, mas com todas as classes com hábitos de consumo fútil, enraizado até à raiz.

O capitalismo, com os seus excessos, criou este tipo de alienação que classifica as classes em hierarquias, com uns a consumirem o produto mais caro e o mais pobre, os mais barato. A crise económica apenas veio adensar a situação, trazendo com ela a contracção do consumo, precariedade e insolvência, como reflexo da falta de saída duma sociedade com o seu modelo de desenvolvimento esgotado.

Essa marcas e esses produtos tendem a desaparecer da mesma forma como os governos vem cortando nas despesas. Mais empresas irão decretar falências e a classe média e média-alta vão cair na pobreza. Doravante, o consumo compulsivo vai aos poucos dar lugar ao consumo comedido.

Mas o que faz a Igreja perante este fenómeno dos tempos? Umas dizem manter a sua equidistância em relação ao poder político. Outras, que respeitam a ciência e os avanços tecnológicos. Mas quanto à moral e a preservação dos bons costumes, limitam-se a lavar as mãos e a orar.

O Papa, que é um ideólogo, critica os desvarios duma sociedade à deriva, o esbanjamento e o supérfluo da sociedade capitalista. De facto, uma sociedade de consumo que matou Deus, não pode querer ressuscitá-lo. A ideia de Cristo de que dá a Deus o que é de Deus e a César o que de César é, é de difícil coabitação numa sociedade capitalista de consumo.

Apoiamos a libertação e emancipação da mulher para depois se descobrir que apôs a consagração material desta o seu focus, a sua agenda mudou. O seu papel de mãe, camarada de luta em favor das minorias vem se diluindo, especialmente na Europa e nos Estados Unidos. Graças à luta levada a cabo no inicio dos anos 70, elas ocupam hoje lugares de relevo quer nos governos, como na gestão de negócios, CEOS de empresas, etc. Em Toronto, Canadá, por exemplo, a família nuclear está em crise. Uma entre quatro mulheres é mãe solteira. O estatuto económico adquirido permite-lhes ter um filho por opção, sem pai. Trata-se de direito adquirido. Mas, pergunto: valerá a pena? Tanto as riquezas como o capital político devem ser usados para o bem comum. O índice altíssimo de divórcios e prostituição no mundo pode ter essa explicação.

A lei vulgarizou em demasia a relação homem/mulher a ponto de ser banal e de graça obter-se o divórcio. Por outro lado, o modernismo vulgarizou em demasia a mulher a ponto de desconfiarmos da sua verdadeira imagem. Em África, América Latina e algumas regiões da Ásia, prostitui-se por uma calça de jeans de marca.

Se pudéssemos definir a mulher ideal pela aparência, nenhum casamento era estável. Será essa a explicação para haver mais divórcios que casamentos? Então, porquê o casamento?

O sentido da família nuclear anda pelas ruas da amargura, urgindo por uma nova educação sobre o conceito familiar. São necessários debates nos quais, o conceito cristão, muçulmano judeu, hindu, etc., de família, devem ser dissecados para ver qual deles se ajusta melhor ao século XXI.

Se governos e a sociedade de negócios colocassem os biliões que são esbanjados no supérfluo para melhorar a vida daqueles que vivem em condições precárias e subhumanas nas grandes metrópoles e em países em desenvolvimento, a humanidade estaria a cumprir o seu verdadeiro papel histórico. Infelizmente, essa não é a vontade das elites, donos das indústrias e de alguns governos da direita que preferem os lucros e a ostentação que os define e identifica acima das outras classes.

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