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O papel do enfermeiro

Por admin

Domingotraz na edição desta semana uma reportagem sobre o dia-a-dia do enfermeiro. A mesma nasceu a propósito da passagem do 12 de Maio – Dia Internacional do Enfermeiro, uma efeméride criada para comemorar e enaltecer o importante e essencial papel dos profissionais da Enfermagem na sociedade. São homenageados em reconhecimento do trabalho que fazem em benefício do bem-estar da humanidade e da sua dedicação a cuidar e a salvar as vidas dos outros.

Longe de falar do dia como apenas uma simples efeméride que se assinala todos os anos, domingo quis desta vez ouvir a voz de quem no seu dia-a-dia dá esperança de vida a quem já não pensa sequer na vida. Estes profissionais dão esperança de vida, de quem, pelo contrário, dada a condição humana, já entrou no tornado da obsessão da morte. Eles labutam todos os dias imbuídos do espírito de que é na compreensão do ser humano, enquanto pessoa, que se pode desenvolver a sociedade humana.

Em Moçambique, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) conta actualmente com 10.582 enfermeiros. Nampula é a província com maior número de enfermeiros. Tem mil e 501 enfermeiros. Zambézia é a segunda província com mais enfermeiros no país. Conta com mil e 460. A terceira província com um número considerável de enfermeiros é Sofala com mil e 106, seguida de Gaza com mil e onze profissionais. Inhambane conta com 758 enfermeiros distribuídos pelas unidades sanitárias, enquanto Tete possui 709. Estão afectos à província de Niassa, 680 enfermeiros, enquanto a cidade e província de Maputo contam com 652 e 533 enfermeiros, respectivamente.

São estes profissionais, que colocados nas zonas urbanas, nas zonas rurais e nos mais recônditos cantos do país, fazem das tripas coração para permitir que a doença não vença o Homem na sua vontade de viver, apesar de se saber que o ciclo vital não é infinito. O que nasce e ganha vida tem de morrer um dia.

Eles labutam conscientes do seu papel não só profissional como também social. Dos episódios contados pelos nossos entrevistados (ler páginas 19 a 23), o leitor pode ficar com uma pequena ideia sobre o que é o dia-a-dia dos nossos enfermeiros. Alguns destes episódios parecem surreais. As condições em que trabalham não são ainda das melhores. Eles próprios correm, por isso risco de vida, por poderem, a qualquer momento, contrair doenças mais ou menos graves no exercício da sua profissão.

Tudo isto porque assumiram, à partida, um compromisso descomunal do que deve ser o seu papel perante o mundo, perante a vida e perante a pessoa, buscando reconhecer o seu posto e seu respectivo papel em transformar a realidade opressora de saúde que aflige a população moçambicana, num campo onde é possível estar-se doutra maneira. Trata-se de um encaminhamento iniludível. O seu papel rompe com o limite do silêncio dos hospitais à noite, do desconhecido e do ignoradodas doenças. Sai do campo teórico e envereda-se para o campo da prática, entendida como necessária para a transformação das acções de saúde perante as pessoas com as quais se relacionam, quer seja na promoção, na restauração ou no seu tratamento. Os enfermeiros moçambicanos, apesar dos parcos recursos de que dispõem, assumem uma atitude proactiva diante das desigualdades e injustiças que os cercam e que também cercam os seus pacientese entendem que é por meio da solidariedade diante do outro, expressa no reconhecimento da sua cidadania, que se constrói a condição necessária para a mudança de práticas na saúde.

Por isso, o papel do enfermeiro é reconhecido pela capacidade e habilidade de compreender o ser humano como um todo, pela integralidade da assistência à saúde, pela capacidade de acolher e identificar-se com as necessidades e expectativas dos indivíduos e das famílias, pela capacidade de acolher e compreender as diferenças  sociais, bem como, pela capacidade de promover a interacção entre o doente, a família e a equipa de saúde.

Nesta reflexão sobre o seu papel, apraz-nos embrenhar pela diacronia do surgimento do 12 de Maio. Dados históricos referem que a data é comemorada, em referência a Florence Nightingale, um marco da enfermagem moderna no mundo e que nasceu em 12 de Maio de 1820, em Florença, Itália. Diz-se dela que possuía inteligência incomum, tenacidade de propósitos, determinação e perseverança – o que lhe permitia dialogar com políticos e oficiais do Exército, fazendo prevalecer as suas ideias. Dominava com facilidade o inglês, o francês, o alemão, o italiano, além do grego e do latim. Em 1845, em Roma, no desejo de realizar-se como enfermeira, estudou as actividades das Irmandades Católicas e, em 1849, decide servir a Deus, trabalhando em Kaiserswert, Alemanha, entre as diaconisas. O seu primeiro papel como enfermeira de guerra foi em 1854, na Guerra da Crimeia.

Durante os combates da Guerra da Crimeia, os soldados fizeram de Florence o seu anjo da guarda pois, de lanterna na mão, percorria as enfermarias dos batalhões e acampamentos, atendendo os doentes, o que a fez ficar conhecida mundialmente como Lady With The Light (a senhora da lanterma).

Ao retornar em 1856, atacada pelo tifo, Florence recebe um prémio em dinheiro do governo inglês, em reconhecimento ao seu trabalho e ela usa o dinheiro e dá início à Primeira Escola de Enfermagem, fundada no Hospital Saint Thomas, em 1859, e que passou a servir de modelo para as demais escolas que vieram depois.

 Porém, a profissão de enfermeiro tem uma origem milenar e data da época em que ser enfermeiro era uma referência a quem cuidava, protegia e nutria pessoas.

Para nós, os enfermeiros são aqueles que semeiam ciência e saber para alívio e recuperação dos doentes que acorrem nos hospitais do país, muitas vezes desesperançados de viver. Não somos louvaminhas, mas entendemos que esta classe profissional, assim como os professores, deve ser postos em relevo, sem ser, obviamente à custa de nenhuma outra profissão.

Que hajam os enfermeiros do nosso país que salvam vidas, todos os dias nos nossos hospitais.

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