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Mesmo a sofrer não troco Frelimo por outro partido

Por admin

Chama-se Mataca Beca. Diz ter 71 anos de idade e assegura que participou na Luta de Libertação Nacional. Contudo, não recebe qualquer pensão de antigo combatente. Sente muito por saber que no distrito de Morrumbala, na Zambézia, nem todos os que se afirmam “Libertadores da Pátria” o são na verdade.

 Vive do que ganha da arte de fazer cestos de bambu, no Fardo, povoado que dista a cerca de vinte quilómetros da vila sede de Morrumbala.

Ainda estávamos a visitar as instalações da Escola Primária Completa de Fardo, quando um homem de meia estatura, de veste rota, franzino e de falsa timidez se aproximou de nós.

“É aquele velho que nos segue. Chama-se Mataca. Podes falar com ele em português ou sena, é um bom orador”, apontou o nosso acompanhante, o professor Hilário Nhapuanha.   

Na primeira troca de palavras, percebemos que Mataca se expressava bem em língua portuguesa, tendo sido fácil acompanhar, por isso, o relato que faria da sua trajectória na Luta Armada deLibertação Nacional.

 “Quando a luta começou eu já era da Frelimo”, recorda, com orgulho, explicando que vivia em Mutarara, na província de Tete, quando a pátria chamou por ele.   

“Eu e mais quatro amigos fomos levados para Doa, na Zona de Nhapale, carregados de bagagem de que não conhecíamos o conteúdo. Entramos no Malawi à noite, na companhia de outras 25 pessoas, comandados por um tal Mota de Zimbinga, Tete”, conta o nosso entrevistado, ressalvando que o grupo viu-se forçado a atravessar o território malawiano sem que ninguém se apercebesse que se iam juntar à Frelimo, que entretanto já se preparava para o início da luta armada em Moçambique.

“Viajando de dia e à noite, chegamos à província do Niassa, de onde seguimos para Cabo Delgado e, mais tarde, entramos no território tanzaniano. Recordo-me que foi em 1964”, relata o velho Mataca, rematando, logo a seguir: “Ficamos três dias em Nachingweia, onde conhecemos um comandante maconde de Mueda. Ouvimos dizer que Mondlane tinha estado lá.”

“LUTEI MAIS NO NIASSA”

Recorda que quando a guerra iniciou, a 25 de Setembro de 1964, o seu grupo já tinha instrução suficiente para atacar o inimigo. “Lutei mais no Niassa. Depois fui mandado para Tete. Já no fim da guerra, alinhei para Zambézia, comandado por Bonifácio Gruveta Massamba, já falecido”, conta.

Mataca explica que entrou para a província da  Zambézia através do distrito de Morrumbala, o que significou o seu regresso triunfal à terra-natal.

Uma vez em Morrumbala instalou-se na base de Monguè, Chire,  de onde viria a transitar para Mumbudi, em Marundo.

A guerra acabou e Samora Machel proclamou a Independência Nacional a 25 de Junho de 1975, no Estádio da Machava, em Maputo.

“Depois da independência ficamos à bandalha. Entregamos as armas. Procuramos mulheres e casamos. Nunca mais voltamos à base. Diziam-nos que íamos de férias e que regressaríamos”, lembra-se.

Impedido dizer algo

ao Presidente Chissano

Mataca relata, com certa mágoa, aquilo que aconteceu na última reunião que o Presidente da República, Joaquim Chissano, orientou em Morrumbala, no seu último mandato.

“Não me lembro exactamente da data, mas sei que foi a última vez que Chissano discursou na vila-sede de Morrumbala, junto à administração distrital. Nesse comício eu quis dizer algo ao Presidente da República sobre a condição do antigo combatente no distrito. Fui impedido por polícias, alegadamente porque eu estaria embriagado, o que não correspondia à verdade. Como eu estava roto e desgraçado me acharam embriagado. Eu queria dizer que, apesar de ter lutado do princípio ao fim, estava a sofrer. Eu queria que o chefe (Joaquim Chissano) orientasse às autoridades locais para me ajudarem, porque julgava que tinha feito algo importante na luta de libertação do meu país. Fui empurrado até cair sobre pedras. Depois daquela humilhação desisti de pedir apoios…”  

Frelimo devia governar

500 anos consecutivos

Mesmo a passar por necessidades, Mataca diz que sempre será da Frelimo.

“Não estou zangado com a Frelimo. Estou no meu cantinho a viver da venda de cestos que fabrico. Não peço dinheiro a ninguém, nem roubo. Sempre que há eleições voto pela Frelimo, o meu partido. Digo mais, a Frelimo devia governar Moçambique no mínimo quinhentos anos consecutivos, período que durou a colonização portuguesa”, sublinha.

 

Ajuntou que se a Frelimo mandou embora os colonialistas portugueses quinhentos anos depois da sua instalação no nosso território, então é legítimo que governe durante igual período.

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