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LICENCIADA EM ECONOMIA: Sou produto da venda de tomate

Por Idnórcio Muchanga

Adquirir conhecimento e experiência é relativamente difícil para qualquer um de nós, seres viventes. Muitas vezes, a vida leva-nos a provar de sabores amargos e, por fim, faz-nos crescer, olhar para trás e dizer: foi difícil, mas venci! Eis o verso que caberia na extensão de um poema, dito ou cantado. Mas, por hora, espelha acertadamente e sem reservas a vida de uma jovem que veio ao mundo há 30 anos em Maputo e passou a sua infância no popular bairro da Malhangalene.

Falamos de Síria Jenquete, uma figura que se tornou popular ao encher os olhos da gente, exibindo tão contente, há alguns meses, o esperado “troféu” pelo qual tanto se bateu, semestre após semestre, na Universidade Eduardo Mondlane, quando se formou em Economia. O feito tornou-se possível graças aos rendimentos de um pequeno negócio que, aos molhos e aos quilos, lhe trouxe consideráveis louvores.

Hoje, canta vitórias. Contudo, fá-lo num discurso contaminado por um passado “não tão feliz”, sobretudo quando se tem em conta episódios sombrios como a perda do seu pai, numa altura em que tinha apenas 8 anos de idade. Enfrentar essa realidade “foi muito difícil, porque ele se tinhaseparado da minha mãe. Eu fiquei praticamente sob os cuidados dos meus irmãos. Não podia contar muito com a minha mãe, porque ela estava num outro lar”, afirma.

Consequentemente, “tornei-me madura muito cedo. Lembro-me que chegámos a passar fome, por causa das dificuldades financeiras que tínhamos. Algumas vezes, fui à escola sem me ter alimentado”.

Conforme narra, a sua progenitora sabia de tudo e até se mostrava disponível para ajudar. Mas os órfãos de pai preferiam não a incomodar, pois “ela tinha outra família por cuidar”.

No mesmo ano, com os seus 8 anitos, Síria encostou-se ao negócio da mãe, que desde 1997 se estacionou num ponto da parte baixa da capital, para vender tomate. Nos seus momentos vagos, saía da Malhangalene até lá e punha a mão na massa, tal como faria um adulto.

A verdade é que a sua visão do mundo transcendia as fronteiras da ingenuidade e da incapacidade. Colocava-a num patamar dos vigorosos e astutos. Já na fase da adolescência, quando tinha 12 anos, “aprendi a trançar cabelo e ganhei dinheiro com isso. Comprava roupa para mim e para os meus irmãos… sempre quis ser uma mulher independente”, revela.

Facto ainda a destacar é que os seus conceitos e planos de vida foram traçados sob orientação da sua mãe:“sempre me incentivou a estudar, a olhar para a escola como o primeiro marido”. 

Texto de Carol Banze
carol.banze@snoticicas.co.mz
 

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