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Quando o lixo vira dinheiro

Por admin

A 8ª edição da Feira Ambiental e a 4ª Exposição sobre Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos, realizadas sob o lema “Tecnologias Ambientais Rumo a uma Sociedade Bioagradável”, por ocasião da celebração dos 128 anos da cidade de Maputo, trouxeram vários exemplos sobre como se pode transformar o lixo em dinheiro vivo.

Promovido conjuntamente pelo Conselho Municipal de Maputo e pelo Fundo do Ambiente, os eventos juntaram cerca de 30 expositores oriundos de diversos pontos do país e tinham como objectivos consciencializar as pessoas sobre os cuidados ambientais e incutir a necessidade de mudança de atitudes na gestão de resíduos sólidos urbanos no seio da sociedade.

Na abertura da exposição, o presidente do Conselho Municipal de Maputo, David Simango, disse que os resíduos sólidos podem ser reaproveitados para outros fins, quer de forma directa, quer indirecta. De forma directa, de acordo com o edil, os resíduos podem gerar energia e, de forma indirecta, servem de matéria-prima para a produção de diversos utensílios domésticos.

São vários os exemplos de reaproveitamento que trazemos em textos separados, de modo a levar o leitor a ter uma ideia de como cada um dos intervenientes faz daquilo que se considera lixo, o seu “ganha-pão”.

Produzir bacias

com caixas de papelão

Estudantes da Faculdade de Ciências da Terra e Ambiente da Universidade Pedagógica dedicam-se à reciclagem de caixas de papelão e de garrafas para a produção de bacias que servem para decoração ou depositar objectos de peso reduzido. 

Segundo Marieta Matias, com base no papel pode se produzir material didáctico da área de geografia, como cubos, pirâmides e até demonstrações de minerais.

Para a concretização do processo de reciclagem, tal como soubemos, o papelão é cortado e depois colado com fita-cola até se conseguir formar o objecto que se pretende.

Ainda com base no papelão, o grupo de estudantes produziu uma amostra de um perfil hidrológico de uma das bacias hidrográficas que desagua no Rio Rovuma, no limite entre Moçambique e a Tanzânia.

Já a massala, fruta silvestre existente no nosso país, também tem sido aproveitada para produzir objectos, como é o caso do globo terrestre, depois de se extrair as respectivas sementes. Para as pinturas dos objectos produzidos por aqueles estudantes têm usado guaches e aguarelas.

Papel de jornal

serve para produzir jóias

O Projecto Swamavoku tem estado a trabalhar na produção de máscaras feitas com papel de jornal, caixas de cartolina e “tecidos” feitos a partir de sacos de plástico.

Os tecidos que se produzem a partir de sacos de plástico, tal como explicou Fernando Tchelene, podem ser usados para a produção de cestos e/ou bolsas unissexos.

“Com o papel de jornal, também produzimos jóias e fazemos questão de deixar a textura original para que as pessoas possam percebam que é papel de jornal. Depois pintamos”, explicouFernando Tchelene.

Tal como referiu Tchelene, os impulsionadores do Projecto Swamavoku dedicam-se igualmente à produção de candeeiros que podem ser usados numa casa ou num escritório.

“Temos comprado jornais e apanhamos pedaços de jornais na rua para reciclar. No caso dos sacos de plástico, apanhamos na rua ou aproveitamos dos supermercados”, disse.

Cápsulas servem

para obras de arte

Gildo Ernesto, pertencente a uma organização juvenil que se dedica à produção de obras de arte feitas com base em material de alumínio, defende que nem tudo que se deita fora é lixo.

Tal como nos disse, as latas podem ser transformadas em obras de arte, assim como as cápsulas de garrafas. O seu grupo tem estado a fazer a recolha nas ruas de arame, madeiras como sândalo e pau-preto, bem como missangas para a produção de obras de arte que servem para decorar, tantas casas como escritórios.

“Todo o material é recolhido no lixo, desde latas de refresco, de cerveja, para produzir brinquedos como carrinhos, aviões, guitarras, girafas. Recolhemos também o lixo nas barracas, nos contentores e na própria lixeira.Muitos objectos pode ser feitos com latas, ferros e cápsulas”, disse.

Catadoras de lixo

formam cooperativa

Um grupo de sete mulheres, ex-catadoras de lixo da Lixeira de Hulene, na cidade de Maputo, decidiu constituir uma cooperativa, a qual baptizaram com o nome de “COMSOL”.

As cooperativistas fazem a recolha de lixo nos bairros da cidade, designadamente papel, papelão, latas, vidro e plástico, seleccionam os resíduos para vender, obtendo dessa actividade os seus rendimentos.

Albertina Sono, representante da “COMSOL” naquele evento, disse que as ex-catadoras também compram lixo que outros catadores vendem junto da sede da cooperativa, situada próximo da linha-férrea do Bairro Ferroviário.

Aquele grupo de cooperativistas procura, através de mensagens, incutir no seio das pessoas o espírito de reutilização de material reciclável, facto que se traduz no lema “Cooperativa de Maputo para Soluções Ambientais”.

A “COMSOL” pretende montar brevemente um eco-ponto, instalação para a recolha de resíduos, nas imediações da FEIMA (Feira de Gastronomia e Artesanato de Maputo).

Produtos do mar

fazem utensílios

Uma organização de carácter familiar, cuja sede se localiza no Bairro dos Pescadores, tem vindo a produzir diverso tipo de utensílios para ornamentação com base em produtos extraídos do mar.

Segundo Francisco João, representante daquela organização criada há dois anos, aquele material que as pessoas pensam que já não serve, dá para produzir quadros, vasos para flores, até utensílios que podem ornamentar as igrejas.

Aquele grupo apresentou na ocasião uma planta que, segundo João, em termos de mensagem demonstra que não se deve destruir o mangal pois, se assim for, algumas espécies marinhas poderão estar em perigo.

Candeeiros feitos

de chaleiras estragadas

As principais matérias-primas usadas por Paulo Dércio para a produção de utensílios domésticos têm sido cascos de coqueiro e o cafulo de coco, com os quais envolve chaleiras e panelas jogadas na lixeira.

Conforme explicou, faz porta-canetas, porta-moedas, utensílios para guardar telemóveis, candeeiros, entre outros bens que servem para decorar o interior de casas e escritórios. Usa também pedaços de ferro, pequenos ramos de árvore e sacos de sisal para a produção de utensílios domésticos.

“Com as caixas de papelão que as pessoas deitam fora, tenho feito pastas para o uso diário. Tenho usado também as conchas da praia. Uma das coisas que estou a fazer são pastas com base em sacos de sisal, uma vez que se fala em acabar com o uso de sacos de plástico”, disse.  

Plantas que produzem pomadas

Carlos Gaspar Correia, expositor oriundo da cidade da Beira, província de Sofala, apresentou no seu “stand”, como principal novidade, plantas medicinais existentes no nosso meio ambiente.

No dizer daquele expositor, algumas das espécies vegetais são consideradas ervas daninhas, enquanto se tratam de plantas medicinais, como são os casos das Beldroegas, Pervincas, entre outras.

Mesmo as folhas de cajueiro e de mangueira, que as pessoas deixam de qualquer maneira, conforme frisou aquele expositor da cidade da Beira, são potencialmente para uso medicinal.

“Nesta exposição, estamos a apresentar plantas como a moringa, o fedegoso, folhas de goiabeira, a argila estéril e virgem, folhas de mangueira. Temos outras plantas que produzimos pomadas que são úteis para o tratamento da pele. Para produzir xarope, usamos açúcar, bem como plantas como o eucalipto, a buva e a pervinca. O xarope serve para a tosse e gripe e não para curar a tuberculose”,explicou.

Restos de vegetais

produzem fertilizantes

A Associação Bio Verde, cuja actividade tem estado a ser desenvolvida junto do Mercado de Xiquelene, em Maputo, dedica-se à produção de compostos orgânicos feitos com base em resíduos sólidos.

Conforme nos explicou Sidónio Monjane, o seu grupo faz a recolha de restos de vegetais que são despejados nos contentores pelas vendedeiras de verduras do Mercado de Xiquelene, os quais são processados num centro de compostagem.

“Os compostos por nós produzidos servem como condicionador dos solos e aumentam a sua fertilidade. É um ciclo fechado a partir da própria cultura. Também recolhemos aquelas folhas que, no senso comum, as pessoas pensam que é lixo, mas nós aproveitamos para voltar a produzir uma coisa melhor para a prática agrícola”, explicou.  

Aquela associação juvenil produz igualmente repelentes com base em restos de velas de iluminação doméstica.

“Quando se acende a vela, a medida que ela vai derretendo, deixa cair para o lado os restos da cera. Nós levamos aqueles restos, juntamos com folhas de eucalipto e de camomila para produzir o repelente”, frisou.

Brinquedos feitos

de latas de bebidas

O Arte Cade Projecto ocupa-se da reciclagem de resíduos sólidos, designadamente papéis, garrafas, restos de lápis afiados, entre outros, como forma de produzir brinquedos para que servem de auxílio no ensino pré-escolar.

Tal como disse o representante daquele projecto, com os resíduos recolhidos em lixeiras e barracas, são feitos aviões, casinhas, comboios, palhotas e objectos didácticos.

Estes brinquedos são uma sugestão para que as crianças em idade pré-escolar possam brincar livremente sem colocar em perigo a sua saúde, afirmou Sérgio Almeida.

Os impulsionadores do Arte Cade Projecto têm aproveitado latas de refresco e de cerveja para produzir uma gama variada de brinquedos para  crianças.

As latas de refrescos e de cerveja são usadas para fazer rodas dos carrinhos ou chocalhos para a actividade musical das crianças. Tudo deve estar decorado de modo a não por em perigo a vida da criança, explicou.

“Tonners” reciclados

por metade do preço

A empresa de informática, “Procomputers”, apresentou naquela feira um conjunto de equipamento informático reciclado, com destaque para tinteiros que são usados nas impressoras e fotocopiadoras.

Trata-se, geralmente, de componentes consumíveis que, depois de utilizados pelas instituições, a tendência tem sido de deitar fora quando podem ser reciclados. De acordo com Dércia Machava, da “Procomputers”, a sua empresa está a incentivar as pessoas para não deitarem fora aquele tipo de componentes, uma vez que é possível reutilizar e poderem ser comprados a metade do preço que tem sido vendido no mercado.

Para a reutilização daqueles consumíveis, decompõe-se o cartucho vazio e colocam-se componentes novos. 

Fotos de Inácio Pereira

Texto de Benjamim Wilson

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