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O homem dos barcos

Por admin

Tratam-no por Artur Mapapai, até pelos organismos estatais, mas seu nome é Artur Ham Hoi. Nasceu no dia 5 de Abril de1959, no distrito de Govuro, província de Inhambane. Seus antepassados provieram da Beira, onde foram machambeiros, cujas peugadas segue. Vive da água e do que dela pesca. Está na Katembe desde que para lá foi levado pelo“Serviço Militar Obrigatório (SMO)”. Luta contra a pobreza. Dia 3 de Fevereiro de 2014 foi condecorado pelo Presidente da República, Armando Guebuza, com o Grau Económico, como reconhecimento pelo seu envolvimento na melhoria de vida dos moçambicanos.

Artur Mapapai frequentou o ensino primário em Nova Mambone, Inhambane, de 1966 a 1970. Não pôde fazer o ensino secundário por falta de escola perto. Começou a trabalhar para uma empresa de apanha de holutúrias (invertebrados dominantes no fundo dos mares) no distrito de Vilankulo, onde permaneceu até 1970. De 1972 a 1974 foi motorista de arrasto de redes de pesca, em Inhassoro, outro distrito de Inhambane.

Nessa altura, quando era motorista, fui eleito Secretário do Grupo Dinamizador do Bairro dos Pescadores da Vila de Inhassoro”, recorda-se Artur com muito orgulho. “A partir desse tempo, 1972-1974, fiquei membro do partido Frelimo, até hoje.

Aos poucos, Artur descobre-se. Torna-se mergulhador para apanha de lagosta na Ilha de Bazaruto, actividade que exerceu de 1974 a 1978.

DE SOLDADO A EMPRESÁRIO

Artur não escapou ao Serviço Militar Obrigatório (SMO), ora em vigor no país. O jovem Artur foi incorporado para o SMO em 1978. Dos vários cargos que ocupou na tropa, destaque vai para o de chefe da Técnica de Manutenção de Viaturas Militares, em 1996, ano em que é desmobilizado. Cumpriu o serviço no Centro Oficinal da Matola e nos quartéis de Boquisso e Katembe.

Já livre do SMO, Artur opta em seguir o ramo empresarial. Mas como começar? Faz um empréstimo bancário destinado à actividade de pesca à linha. Durante três anos desenvolve pesca na Baía de Maputo e no alto mar. Depois transfere-se para a actividade de arrasto de camarão na zona da Katembe.

Para quem percorre a travessia Maputo-Katembe sabe da existência e da importância das embarcações denominadas Mapapai, que transportam diariamente pessoas e mercadoria diversa. E muitos se interrogam: que quer dizer Mapapai?

Antes, Artur prefere explicar como criou a sua empresa, hoje com dez anos de existência. “Em 1998 criei a empresa Transporte Marítimo Mapapai, Ltd, através da qual exerço a actividade de transporte marítimo de passageiros e carga, no trajecto Maputo-Katembe. Desde Junho de 2005 também exerço a actividade de indústria hoteleira, nestas instalações construídas por mim, aqui no Bairro Guachene – Katembe – que se denominam Retiro Lodje da Katembe.

Actualmente diz ser segundo vogal do Conselho Consultivo do Distrito Municipal da Katembe.

Este é o homem  que até em documentos oficiais, como este diploma, é tratado de Artur Mapapai”, observa Artur Ham Hoi.

Quem trabalha

vive sempre preocupado

Prosseguindo a nossa conversa. Que quer dizer Mapapai?

Espera! Os nossos parentes vieram da cidade da Beira. Eram machambeiros, actividade que foi passando de geração para geração. Agora vou-lhe explicar o que significa Mapapai.

Estou muito ansioso!

Escuta o que vou dizer: onde vivíamos, em Vilankulo, na zona litoral, havia muitas papaias. Portanto, na nossa casa havia muitas papaeiras que produziam papaias. Então, os vizinhos diziam “vai ou vamos para casa do Mapapai”, o que bem colava em língua local. A designação Mapapai passou a ser cognome do meu pai. Percebeu? É isso mesmo. A minha empresa assim se chama por homenagem ao falecido meu pai.”

Este negócio de Mapapai é rentável?

Acho que o meu negócio vai bem. Dez anos não são poucos. É uma batalha vencida.

Fale da sua condecoração, dia 3 de Fevereiro, na Praça dos Heróis. Justa?

Não se condecora alguém por ser rico, mas por prestar bom trabalho ao povo. Se houve quem terá contribuído para que eu fosse condecorado, essa pessoa viu e avaliou o trabalho que faço para o bem dos outros.

Não exerceu influência junto dos decisores?

Eu como militar na reserva costumo dizer que a chefia conquista-se pelos actos de trabalho. Não se pede. Então, esta medalha é uma conquista. Não a pedi. O trabalho de transporte que faço é do povo, é das pessoas. É esse povo e são essas pessoas, cuja vida facilito, que me indicaram para receber esta medalha. Não fiz jogo de influências. As pessoas que facilito a chegarem cedo ao serviço e à casa são as que votaram em mim. E nem querem que eu transfira as minhas embarcações para outra província. Andam satisfeitas com o meu trabalho.

Não ficou surpreso com a sua escolha para a condecoração?

Eu próprio na Praça dos Heróis ouvi pessoas que se interrogavam: quem é esse Artur Mapapai? Poucos me conheciam.

Que experiência teve de secretário do Grupo Dinamizador?

Faltavam alguns meses para a Independência Nacional. Tínhamos de organizar as pessoas sobre o conceito liberdade. Tínhamos de as dizer que Moçambique já era nosso país. Que os colonos portugueses já tinham partido.

Essa tarefa foi bem executada?

Na altura foi. Já não existe Grupo Dinamizador. Houve mudanças no país. Hoje tenho,na minha terra independente, espaço onde cultivo laranjeiras e mangueiras.

Vive bem?

Uma pessoa que trabalha vive sempre preocupada. Todos os dias pensa em trabalhar.

Sem ambição

não se faz nada

Faz muita coisa. Qual é o segredo?

O segredo é ter ambição. Se não a tens, não fazes nada. Tens de dizer  ‘eu quero fazer isto para ter aquilo’.

Neste momento nada o preocupa na vida?

Estou preocupado pela cedência do um meu espaço para a construção da ponte Maputo-Katembe, a obra que também me vai beneficiar.

Qual é o seu constrangimento quanto a essa cedência?

A minha preocupação é não dispor de outro espaço para o estaleiro de manutenção das minhas embarcações. Tenho de ter uma zona de praia com acesso ao estaleiro onde possa trabalhar na manutenção contínua das embarcações.

Portanto, este estaleiro desaparece. E não sabe onde construir outro.

Eu vou ceder este espaço para a construção da ponte. Também vou ceder parte das instalações do Retiro Lodje de Katembe, outra minha propriedade. Temos estado à procura de novo espaço para o estaleiro.

Senhor Artur, quantos filhos tem?

Tenho seis filhos. Ter muitos filhos é riqueza africana. São todos adultos, dos quais dois trabalham com o pai. Foi difícil formar os primeiros. Uns nasceram quando estava na tropa, outros depois. São três mulheres e três homens.

Tem muitas recordações da tropa?

A nossa tropa era complicada. Estávamos sempre bem aquartelados. Hoje vemos soldados por todos lados a passearem.

Sente-se político?

Eu não sei se me sinto político. Sou membro activo do partido Frelimo. Só por ser membro de um partido, sou político.

 Está satisfeito com os feitos do seu partido?

Estou muito satisfeito com o meu partido. É por isso que estou lá.

Nada lhe irrita de momento?

Nada me irrita. Cada momento tem seus desafios. E são esses desafios que temos de os encarar.

É ou não desportista?

Não sou desportista. Eu amo o desporto. Sou da comissão organizadora da Travessia Maputo-Katembe a nado. Tenho estado a apoiar várias iniciativas desportivas cá na Katembe.

Quantos barcos tem neste momento?

Tenho três barcos de pequeno porte.

Já agora, quem faz a manutenção dos seus barcos?

Eu sou técnico de manutenção dos meus barcos, graças ao curso que tirei em 1979 nas Oficinas Centrais da Mecânica Auto da Direcção Técnica de Auto Blindados de Maputo.

Não sou amigo

de leitura e festas

Gosta de viver na Katembe?

Fiquei muitos anos a cumprir o serviço militar aqui. Ganhei hábitos daqui. E sinto-me bem aqui, pertinho da capital do país. Eu não gosto de viver na cidade de Maputo.

Já não faz actividade de pesca. O que se passou?

Parei. Mas conheço muito bem a actividade de pesca, porque nasci na pesca e sou filho de pescador.

Gosta mais de comer carne, verdura ou peixe?

Gosto mais de comer peixe.

Tem lhe restado tempo para ler?

Não. Leio muito pouco. O meu tempo livre é para o telejornal. Não folgo. Não tenho fim-de-semana nem férias e feriados.

O estar sempre a trabalhar não lhe faz mal?

Faz, mas quando o tempo permite vale a pena trabalhar para depois descansar. Quem dá descanso é Deus. Nós podemos dizer que vamos descansar, mas, afinal, nos dedicamos a pensar.

Vai às festas?

 Não gosto muito de festas. Não sou mesmo amigo de festas.

Já tem herdeiro?

Isso me preocupa. Meu sonho era ter um filho com muita ambição de fazer o que eu estou a fazer. Esse será meu herdeiro.

Ainda não nasceu esse filho?

Tenho um que ainda está a estudar. Tem de haver alguém para continuar com as minhas obras, tal como eu estou a dar continuidade o que aprendi com o meu pai.

Tem admiração por alguma personalidade?

De fora não conheço ninguém. Só saio para África do Sul. Nós não temos cultura de admirar aos outros. Mesmo assim, admiro os que me indicaram para a condecoração de 3 de Fevereiro. Já fiquei por duas vezes primeiro classificado em galas organizadas pela Associação de Luta Contra Pobreza. 

Parece ter uma vida muito fechada!

Eu não sou de muitos convívios. Falta-me tempo. Poucos me conhecem. E eu não conheço a muitos.

Disse que ter filhos é riqueza em África. Outros dizem que ter muitas esposas também é riqueza. É polígamo?

Não.

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