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Uma Janela para o Entendimento

Por admin

A greve dos médicos terminou e ainda bem. Foi um período tumultuoso em que o sector de saúde e o governo pareciam desavindos, mas que terminou de forma airosa e feliz.

Greves acontecem em todo mundo, sendo apanágio quase sempre de classes profissionais em estado de afirmação, sob direcção de sindicatos lutando pelos seus direitos.

No fim, o consenso foi obtido. Quem venceu foram os moçambicanos e a sua democracia, em mais uma demonstração de maturação. Quem terá ficado frustrado, são aqueles que por tudo e nada atiram pedras ao Executivo de Armando Guebuza. E uma certa media que foi apontando defeitos à folha salarial na Função Pública, ora empolando o desnivelamento salarial nas várias categorias profissionais, sem nunca mencionar que o Estado moçambicano é o maior empregador no país. De racionalização do Estado nem sequer uma linha.

Segundo uma reconciliação orçamental feita pelo Fundo para o Desenvolvimento da Comunidade (FDC), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o Fórum das Organizações da Sociedade Civil para os Direitos da Criança (ROSC), os recursos alocados, pelo Executivo, para a despesa de funcionamento tendem a crescer nos últimos anos. Só as despesas com os bens e serviços no Ministério da Saúde (MISAU) aumentaram 36% de 2011 a 2012.

No que se refere a 2012, nos cerca de oito mil milhões de meticais previstos gastar com a despesa de funcionamento, 80% do valor foram destinados à aquisição e distribuição de medicamentos.

Esta situação pode explicar a razão dos salários magros no sector da saúde. Aliás, a questão salarial foi uma das razões de fundo para a greve dos médicos que só foi abafada na última terça-feira.

E para terminar tudo aponta que caso se confirme a revisão salarial dos médicos resultado da greve, é voz corrente e que muito provavelmente teremos uma greve dos enfermeiros, será?

 

Como disse, a greve dos médicos terminou e ainda bem, daí passar a um outro tema:

Não que eu seja pelo unanimismo político ideológico. Contudo, rebato a opinião e contra-senso de alguns portugueses situados ao centro e direita político e ideológico, que dizem que Mário Soares vendeu as ex-colónias aos africanos. Ora, como é que o homem iria vender o que quer que fosse se não havia nada para vender? Tratou-se de saber interpretar a Lei, a razão e a dinâmica da história. A terra e o destino da mesma pertenciam aos africanos e que há 500 anos vinham sendo ocupados e explorados pelos portugueses.

 

Ora, eu pergunto se desgostam assim tanto de Mário Soares pelo seu papel no processo que levou à descolonização, como podem respeitar os africanos, e sua luta pela sua autodeterminação liderada pelo MPLA, Frelimo, PAIGC que os levou à soberania como estados independentes? Se desgostam assim tanto de Mário Soares que é a referência viva, um grande pedaço da identidade do estado democrático que Portugal vive hoje, como podem respeitar a integridade e transparência na lusofonia?

A obsessão ideológica induz ao extremar de posicionamentos, que para lavar o estado de alma, amiúde, julgam zelosamente opiniões de quadrantes políticos contrários aos seus. São as mesmas pessoas que passadas décadas, viram as convicções trespassadas por uma ordem universalmente aceite, onde predominam os direitos humanos a inclusão racial, cultural, social e económica.

 

O Ex-presidente moçambicano, Joaquim Chissano, semana passada, em Lisboa, dissertou eloquentemente sobre o tema lusofonia. Disse  que era um legado cultural e um compromisso politico; mas um compromisso condicionado à visão que cada país membro tem sobre a matéria. E sobre o conceito, definiu as expressões culturais, como elemento fundamental e decisivo na afirmação da identidade nacional

Efectivamente, nenhum povo existe sem as suas línguas nacionais, danças, cantares. No fundo, trata-se tentativamente de harmonizar as realidades de cada país membro, enquanto se  encontra um denominador comum para que a lusofonia seja minimamente inteligível e eficaz.

Pode não ter pernas para andar e ser mesmo uma utopia. Contudo, uma língua não deve ser monopólio de ninguém, nem de um país. Ela é propriedade de quem a fala e domina, sendo país livre, pelo que deseja fazer dela. Por outro lado, entende-se só é lusofonia e só é útil, sempre que não sufoque a cultura dos outros. Desde que não signifique a exclusão da diversidade.

Posso mesmo afirmar que o ideal político moçambicano, angolano e de outros membros dos denominados PALOPs continua intimamente rendilhado ao patriotismo, embora revestido de componentes mais consentâneos com o universo pragmático e moderação que o momento exige.

Efectivamente, a lusofonia deve ser concebida como uma expressão política de vontade de união expressa de países soberanos, unidos por uma língua, o português, mas respeitando as variantes culturalmente bem distintas de cada país membro. Não se pode, fora desse conceito, perspectivar a união, sem relevar o pomo da discórdia a uma saída, susceptível de reprodução de elementos tangíveis edificantes.

 

Como frisou Joaquim Alberto Chissano na mesma dissertação e depois na entrevista dada à RTP “os maiores desafios são como usar para o interesse comum as capacidades de todos”. E antes disso, definir o que é “interesse comum”.

 

Num certo período, usamos abreviaturas para não gastar tinta, e mesmo assim orgulhamo-nos de ter levado a Nação inteira, nas suas várias expressões que nos definem como povo, a ler nas entrelinhas as mensagens dos hinos que nos levaram a elevar a Pátria amada ao universo das Nações. Hoje, adornados nesse mosaico cultural, fomos construindo um modelo que não soçobra nos limites no horizonte que vai do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Indico.

O que nos une não é a língua, mas o que decidirmos fazer com ela.

 

E passando a um outro tema:

 

A recente confissão de um ex-agente da secreta sul-africana pôs a nu aquilo que presumivelmente todos desconfiávamos. O nosso querido e saudoso presidente Samora Machel foi assassinado. Resta saber quem foram os decisores. Compete ao Executivo moçambicano ir ao fundo nesta questão e mandar levantar o véu par se saber quem foram todos os actores da tramóia e fazê-los pagar caro.

Assassinatos políticos vivem protegidos na diplomacia secreta, mas este caso pode ser desvendado se houver das partes interessadas empenhamento, boa vontade e transparência total.

 

Quanto à questão do Mali, a questão resta presente. A acção francesa é uma acção unilateral, pois o mandato do Conselho de Segurança apenas previa um apoio logístico às forcas de intervenção africana da África Ocidental. Não sei se esta pretensa guerra é contra o terrorismo ou o islamismo?

Um presidente é deposto e em seu lugar um vazio do poder preenchido por um presidente eleito do Parlamento. A rebelião a norte com os tuaregues a tomar o norte, apenas acontece devido o desgoverno de um governo e um Exército à deriva. Chefe do estado-maior e primeiro-ministro agindo à revelia do presidente; e um presidente que chama a ex-potencia colonial, neste caso, a Franca, para intervir, etc. A desgovernação leva a que o neocolonialismo esteja sempre presente.

 

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