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SOBRE MINORIAS

Por admin

Gostaria que aqueles que se empenham em discutir sobre minorias no nosso país, primeiro identificassem qual o grupo étnico, religioso, linguista que não faça parte de uma 

minoria e qual o que faz parte da maioria. Feitas as contas todos pertencem a minorias, maiores ou menores. De igual modo a busca do cidadão original fora dos parâmetros sabiamente definidos pela Constituição e a Lei da Nacionalidade também se mostra, para mim e para quem analisa, como algo de falso e, sobretudo, visando atingir interesses muito egoístas.

Fora da definição constitucional entramos em águas bem turvas, ouvi ao longo dos tempos as mais variegadas concepções:

1.    Original, quem no tempo colonial se classificava legalmente indígena;

2.    Original, o que possui os quatro costados (os 2 avós paternos e 2 avós maternos) moçambicanos (? indígenas ou também assimilados, mistos, indianos, chineses, brancos?). Trata-se de uma exigência para o candidato a Presidente da República.

3.    Original, o preto, negro.

4.    Original, etc.

Na verdade isto leva-nos a caminhos bem perigosos e lesivos à unidade e coesão nacionais, faz-nos regressar às tentativas infames que a FRELIMO sempre combateu e expurgou, desde o I Congresso.

Vejamos:

1.    Indígena? Afastamos todos assimilados, os que lutaram para fazer a 4.ª classe colonial, os que cursaram enfermagem, cursos médios comerciais e industriais, que ingressaram no funcionalismo, nos cursos superiores. Desejamos isso?

2.    Avós nos quatros costados? Uma grande parte, senão a maioria esmagadora da população moçambicana do Rovuma ao Maputo, possui um ou mais avós vindos da Tanzânia, Malawi, Zâmbia, Zimbabué, Suazilândia e África do Sul, não apenas da Europa e Ásia. Talvez há que rever o dispositivo constitucional sobre os requisitos dos quatro costados para Chefe de Estado.

3.    Tez negra? Há mistos e indianos mais escuros que muitos ditos negros. Como medir? Nos aparentemente mais escuros não existe um dos avós branco, indiano, chinês? No DNA não vamos encontrar origens de fora do continente, sabendo que desde sempre para aqui navegaram árabes, indianos, chineses, indonésios e, claro, desde o século XV brancos?

Uma amiga minha, de Inhambane, analista de DNA, a quem perguntei numa conversa sobre os seus olhos achinesados, estranhos na sua tez bem negra, respondeu-me que no seu DNA como de muitas pessoas da sua província, havia origens indonésias.

Lembremo-nos da História. Os bantos, progressivamente, entre os séculos IX e XIV chegaram à África Austral, subjugando os nativos, assimilando-os também. No século XIX, fugindo às perseguições de Chaka, ndebeles, changanes, suazis, ngunis abandonaram a região zulu e emigraram para os actuais territórios da Suazilândia, Moçambique, Malawi, Zâmbia, Tanzânia e até para o Quénia. Resumindo: todos descendemos de um modo ou de outro de variadas emigrações.

Num encontro com populações numa zona libertada de Cabo Delgado, alguém se queixou a Samora de que o seu distrito não estava representado no Comité Provincial. Samora retorquiu que Fulano era desse distrito, ah não, diz o mesmo, queria dizer, da nossa localidade, mas esse Fulano é mesmo dessa localidade.

Concluiu o Presidente: não digas que não vem da tua povoação, porque afirmarias que não era da tua rua e, se fosse… O que queres dizer é apenas que tu devias estar lá. Já chegaste ao Localismo!

Muito do discurso localista, etnicista, religioso, tribalista, racista, não passa de uma mera cortina de fundo, para que X obtenha uma base de apoio para as suas ambições e ganâncias meramente pessoais e egoístas. Muitos se regozijaram com a eleição do afro-americano Obama para Presidente dos EUA em 2008. Na América ninguém chama misto a um afro-americano (caso de Obama, filho de branca americana e pai negro queniano), todos o consideram negro. Ora bem, a eleição de Obama marcou o fim da mistificação racial na América, onde já com Colin Powell e Condolezza Rice se iniciou a consagração do não racismo nas sedes do poder supremo. Estaremos piores que os americanos?

O discurso da autenticidade, da raça, cor da pele, crença religiosa não parte do camponês na aldeia, da população operária, massas trabalhadoras. A porcaria vem dos frustrados que não se conseguindo afirmar-se na sociedade pela qualidade refugiam-se nas buscas de bases de apoio para aquilo que nunca confessam. Complexos de inferioridade de pobres coitados, jamais seguidores de um Mondlane, Samora, Chissano, Guebuza, de gentes que não buscam muletas para caminharem e exemplos de moçambicanidade. Mais grave: indícios de fascismo.

 Um abraço à moçambicanidade e à causa da unidade nacional,

Sérgio Vieira

P.S. Fora dos Estados Unidos a opinião inclinava-se a favor da reeleição de Obama. Este desejo concretizou-se.

Obama melhorou a situação social de muitos, os tais 47% menosprezados por Mitt Romney. Herdando a colheita da crise financeira e económica preparada pelas políticas ultra liberais dos governos de Bush, soube suster o desastre. Obama obteve o apoio das minorias étnicas e sexuais, atacadas pelo racismo e fundamentalismo dos sectores mais conservadores do país. Obama não cumpriu a promessa de encerrar as jaulas de Guantánamo. Prosseguiu uma política belicista contra vários países.

Votos? Que encerre Guantánamo, que não ceda à vocação beligerante de Netanyahu, que não caia nos pântanos da agressão ao Irão, da continuação das mortandades colaterais com os ataques pelos aviões sem pilotos, que não mande assassinar inimigos desarmados, como Bin Laden. Que não resuma as visitas ao nosso continente ao ritual de ir saudar o Presidente Mandela e o Gana pró-americano.

Um abraço ao sucesso deste primeiro genuíno no seu segundo mandato como Presidente dos Estados Unidos,       

SV

R. PS Curioso que pela segunda vez consecutiva um bispo de Pemba se demita do seu cargo. Mistérios da Santa Igreja ou graves problemas de sociedade?.

Para que se investigue e não se disfarce a realidade designando um estrangeiro, o meu abraço,

SV

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