Início » O AMIGO CHINÊS

O AMIGO CHINÊS

Por admin

O Ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Oldemiro Baloi, começa auspiciosamente o ano de 2016: recebe esta terça-feira em Maputo o segundo ministro dos negócios estrangeiros mais poderoso do mundo, Wang Yi, da República Popular da China.

Lendo o comunicado emitido pelo Ministério moçambicano dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, discerne-se que a “ visita de trabalho” de Wang Yi a Moçambique resume-se a três objectivos essenciais: (1) avaliar o actual estágio de cooperação bilateral, (2) passar em revista a situação política, económica e social prevalecente em Moçambique e (3) assinar um acordo sobre a isenção mútua de vistos para os titulares de passaportes diplomáticos e de serviço dos dois países.

Os propósitos da visita parecem ser tão modestos quanto ao tempo de estadia do distinto visitante na cidade das acácias: menos de vinte e quatro horas. Esses dois aspectos coincidem com o seu estilo recatado.

Da postura de Wang Yi ressaltam a tradicional cautela chinesa e a prudência da sua carreira profissional – que é diplomática – atributos que estão acima do seu estatuto de representante da segunda potência mundial, habitualmente à vontade no seio de homólogos da sua estatura, tais como John Kerry dos Estados Unidos, Sergey Lavrov da Rússia, Frank-Walter Steinmeierda Alemanha, entre outros.

Especialista em assuntos asiáticos, particularmente do Japão, Wang Yi notabilizou-se pelo exímio papel que desempenhou, como Embaixador da República Popular da China em Tóquio, para a distensão da preocupante crise sino-nipónica em 2005.

Combinou, para esse efeito, o que analistas entenderam como sendo a defesa firme dos interesses chineses, com o pragmatismo e flexibilidade, tão necessários para ultrapassar a tradicional rivalidade e desconfiança entre a China e o Japão.

Terá sido esse talento negocial que levou o seu governo a envolve-lo nas conversações sobre a Coreia do Norte. Mais recentemente, tomou a iniciativa de reavivar o processo conducente à solução da questão palestiniana, deslocando-se com esse propósito à Israel e à Palestina.

Oldemiro Baloi vai acolher  o Ministro dos Negócios Estrangeiros chinês com uma referência histórica curiosa, provavelmente constituinte de um dos elos que o liga à África. Ele é casado com a filha de Qian Jiadong, assessor diplomático de Zhou Enlai, o saudoso primeiro-ministro chinês que, em meados dos anos 70 do século vinte, concedeu, em Pequim, uma audiência ao Presidente Samora Machel, poucos meses antes da proclamação da independência de Moçambique em Junho de 1975.

Zhou Enlai, leal companheiro de Mao Tsé Tung, foi um dos principais apoiantes do movimento de libertação em África, especialmente da FRELIMO. É inegável que a solidariedade chinesa aos lutadores moçambicanos da liberdade foi determinante para a conquista da independência nacional.

Se a história será inevitavelmente recorrente na avaliação das relações sino-moçambicanas, o crescente investimento e apoio multibilionário chinês à Moçambique assumirá lugar de destaque nas conversações de Wang Yi com o Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi, e o Ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Oldemiro Baloi.

Neste quadro, a obra chinesa em Moçambique, particularmente o domínio de infraestruturas, tipifica o modelo positivo e desejável de cooperação entre estados, despontando os BRICS e o Fórum de Cooperação China-África como instrumentos dinâmicos desse relacionamento.

A visita do chefe da diplomacia chinesa a Moçambique ocorre na semana em que a República Popular da China celebra entusiasticamente o ano novo – de acordo com o calendário daquela potência oriental. Um momento tão oportuno quanto auspicioso para relançar e reforçar os laços de amizade e cooperação existentes entre os dois países.

Tembwé Júnior

 

Você pode também gostar de:

Leave a Comment

Propriedade da Sociedade do Notícias, SA

Direcção, Redacção e Oficinas Rua Joe Slovo, 55 • C. Postal 327

Capa da semana