Abel Xavier assume oficialmente a partir de amanhã, 1 de Fevereiro, o cargo de Seleccionador Nacional de Futebol de Moçambique. O treinador rubricou um contrato de dois anos renováveis e no acto da sua apresentação pública deixou as suas principais ideias, abordando com convicção e frontalidade todas questões colocadas pelos jornalistas.
1.Ao longo deste último tempo definimos uma estratégia com o presidente e com toda a direcção do que vai ser a partir de hoje a estrutura, organização para podermos ter uma selecção melhor, com valores actualizados, modernizados, com uma mentalidade na qual me revejo para podermos competir com qualquer adversário. Existe trabalho que foi analisado, foi observado. Fiz um levantamento de toda situação da equipa, o comportamento, e não tenho dúvidas nenhumas, e gostava de esclarecer isso, que temos matéria-prima, temos jogadores, temos uma geração rica para poder competir com qualquer adversário. Temos que tirar a ideia de que não podemos competir com outras selecções, isso vai terminar, não podemos olhar para o papel e assumirmos que não podemos competir. No futebol moderno, as equipas que são dominantes nem sempre ganham jogos. As equipas que têm mais posse de bola nem sempre ganham jogos.
2.Há um trabalho que não é visível, há um trabalho que muitas pessoas podem criticar, podem analisar, mas há um trabalho que não é visível, que significa preparação. Nós vamos preparar as coisas com critério, num contexto de coesão, de bom senso, de união. Faço apelo a todas as pessoas que gostam da selecção, que se juntem ao compromisso de termos uma selecção forte. Todas as pessoas que estejam no espaço da selecção que saibam por que jogam e o que significa a selecção. A selecção é o clube mais importante, vai ser o clube mais importante para mim e deve ser para todas pessoas que estiverem dentro da estrutura da selecção.
3.Vamos alterar procedimentos, métodos, mentalidades. É normal que com outras ideias pudessem surgir determinadas rotinas. Venho com objectivo de trabalhar em conjunto, para identificarmos as condições, os recursos que temos, trago as minhas ideias, as minhas convicções, sabendo que sozinho não consigo, e conto com vocês. Vou falar com todos os jogadores, observar os jovens que podem entrar dentro dos selecionáveis, os nucleares. Vou falar com os jogadores, sei que no passado houve casos de fórum disciplinar em relação a alguns jogadores. Vou fazer-lhes perceber efectivamente o que representa a camisola da selecção nacional.
4.Estou muito orgulhoso de voltar ao meu país. Que fique bem claro, é muito importante que eu diga isso porque todos nós temos uma história de vida, de vivências. A minha é feita de vivências que quero colaborar, que eu quero fomentar, quero fomentar dentro duma estrutura fechada, com um código de conduta que eu defini com o presidente, naturalmente vão surgir críticas e nós vamos blindar aquilo que é mais importante. A crítica é bem-vinda quando for construtiva. Neste momento o mais importante é a selecção nacional.
5.Quando temos ambição, não começamos só a trabalhar quando inicia o contrato. Eu já sou adepto da selecção há muito tempo. Sigo a selecção há muito tempo porque me diz obviamente algo. Fiz uma análise do comportamento da selecção nos últimos cinco jogos, tenho todas imagens gravadas porque a minha metodologia de trabalho passa pela observação, identificação das equipas e dos jogadores, e do colectivo também, para depois melhorar a performance dos jogadores nos treinos.
6.Não podemos nos esquecer que o tempo em que os jogadores estão dentro do espaço da selecção é muito curto, mas eu quero criar uma identidade em que o jogador quando chega a selecção sabe qual é o espaço que encontra, e que haja continuidade nos clubes, porque o trabalho está ligado com os clubes, com os treinadores, e nós neste momento não temos só jogadores no país, temos também jogadores no estrangeiro, que tem mais experiência, e é essa experiência que quero que tragam para ser um exemplo dentro do grupo de trabalho. É isso que eu pretendo.
7.Para haver saída, antes de mais deve haver entrada, isso é importante, porque a forma como se entra, ou que se propõe para fazer um projecto, tem de ser sustentado pelas pessoas. Senão vai haver um determinado momento que vai colidir. A seleccao é um projecto de vida, que todos jogadores que passam devem sentir o privilégio de estar no espaço da seleccao nacional. Não é de passagem, é de marcar, é aquilo que eu pretendo com a direcção, com os adeptos, com os dirigentes. É união. Os treinadores são sempre marcados por resultados, se o projecto pode ser interrompido, neste momento não faço futurologia, estou aqui com muita ambição para começar um projecto diferente.
8.Em relação a experiência penso que há duas formas de entender a experiência. Uma é a experiencia jogada, quando fui jogador tive treinadores, e tive treinadores de muita qualidade, mas também tive treinadores de média qualidade. E eu aprendi com todos, porque há aqueles que dizem que só aprendem com aqueles que ganham, mas nós temos de aprender com todos, as coisas que podemos fazer com aqueles que são bons, e as coisas que não devemos fazer com aqueles que são maus. O importante é a gestão. Não são só as questões técnicas ou tácticas, porque o jogador moçambicano sempre teve talento, ao longo do tempo sempre teve talento.
9Tive 20 anos de espaço na selecção, a nível de metodologia de treino, do conceito, aquilo que considero importante é aquilo que vou tentar fazer aqui. É uma convicção minha. E este projecto tem um sentimento mais acumulado, por ser minha terra. Para mim é um começo. A questão do currículo, de ter capacidade ou não, nós vamos aguardar, vamos ver o trabalho que vai ser feito, a forma como vai ser feito para se chegar a determinadas etapas. Todos treinadores têm um começo, mas eu já comecei há muito tempo.
10Sinto que sou capaz, sinto que estou preparado, obviamente tem que haver uma linha condutora e outras peças para as coisas funcionarem. Não tenha dúvidas nenhumas que não estou aqui no espirito de ter entrado na primeira porta que se abriu. Esta é uma porta especial, é uma porta com outro tipo de valor, até de metodologia de treino, do pensamento do treinador, é por isso que é aliciante. Antes de mais, tudo na vida é um desafio. Tudo…
11.Vou trazer um elemento que trabalha comigo, não tenho dúvidas que iremos cobrir muitas áreas que penso que são importantes, porque o seleccionador nacional tem de ter informação vasta e cuidada, vamos ter observadores com formação a nível de vida para identificar o comportamento dos jogadores a nível individual, quero aproximar a relação com os clubes, com os dirigentes dos clubes, porque é importante perceber que tipo de trabalho fazem nos clubes para depois continuar na seleção.
Porquê Abel Xavier?
Alberto Simango Jr., presidente da Federação Moçambicana de Futebol (FMF), foi chamado em vários momentos para responder à questão porquê escolheu Abel Xavier para treinador dos “Mambas” quando a oferta era extensa e integrava técnicos com elevada experiência e já com títulos conquistados.
Sempre sereno, como lhe é peculiar, o presidente da FMF tratou de recordar que a sua direcção tem de tomar decisões para reverter o actual estágio do futebol doméstico.
Referiu que o país está a iniciar um ciclo da gestão do futebol, o qual, prevê uma reestruturação para a médio prazo superar os actuais resultados e níveis de organização.
Anunciou o novo treinador dos “Mambas” nos seguintes termos:
– Depois de termos feito um trabalho de pesquisa e de observação de vários currículos de técnicos estrangeiros e nacionais, chegamos a conclusão de que o Abel Xavier era a pessoa mais próxima daquilo que são as nossas ideias. Chegamos a um acordo com o senhor Abel Xavier para ser seleccionador nacional A e Sub 23 nos próximos dois anos.
Reproduzimos, a seguir, a conversa do presidente da FMF com os jornalistas.
Qual é a duração do contrato do treinador e quais são os objectivos definidos?
O contrato terá a duração de dois anos. Vamos lutar por melhorar a nossa prestação a todos os níveis, sabemos em que posição estamos ao nível do ranking, sabemos que a selecção nacional não tem gozado de boa vida do ponto de vista de resultados. Ao conversarmos, concluímos que queremos melhorar a prestação dos Mambas.
Sendo Seleccionador Nacional A e dos Sub 23, significa que Abel Xavier não vai interferir nas selecções Sub 20 e Sub 17?
Naturalmente que não vai ter responsabilidades a esse nível, mas como vai ser líder duma equipa técnica, naturalmente que se vai alimentar por outros colegas que estarão responsabilizados pelas selecções Sub 20 e Sub 17. Portanto, a responsabilidade deste selecionador é a selecção A e a Sub 23.
Porquê escolheu Abel Xavier quando tinha opções de treinadores com maior experiência?
Naturalmente que temos responsabilidade como direção de tomar decisões a vários níveis. Ao fazermos a abordagem e eu particularmente a conversa que tive com vários candidatos a seleccionador nacional, achei que este reunia mais consenso do ponto de vista de ideias daquilo que é o nosso pensamento para fazermos com que a nossa selecção nacional possa rapidamente vir a obter resultados positivos.
A indicação dele significa que teremos mais alterações no Gabinete Técnico?
Hoje a CAF e a FIFA apelidam o Gabinete Técnico de Departamento Técnico. Encontramos um departamento técnico reestruturado, cujo director – Abdul Abdulá – acabava de ser indicado, portanto está há um ano e algum tempo. Pelas indicações que temos não vamos mexer tanto, mas vamos acrescentar algumas pessoas no departamento técnico para reforçar, porque o director, entanto que tal, até aqui nos satisfaz.
Quanto vai ganhar o seleccionador nacional?
Gostava de omitir essa parte, mas a verdade é que temos patrocínio. Se estiverem lembrados em Dezembro tivemos aqui a assinatura de contrato de patrocínio com a empresa Hidroelétrica de Cahora Bassa. O valor envolvido naturalmente não satisfaz a contratação dum treinador e de toda equipa técnica.
O que seria uma melhor prestação da selecção mediante o estágio actual?
Todos sabemos o que significa melhoria. Se hoje perdemos muito e ganhamos pouco, melhorar significa perdermos pouco e ganharmos muito. Portanto, essa é a melhoria que pretendemos. O desafio que nós temos, e acreditamos, é que com esta equipa técnica iremos ter uma selecção que vai lutar pela melhor identidade da nossa moçambicanidade.
Quem serão os adjuntos de Abel Xavier?
Acordamos que o selecionador nacional vai trazer um treinador que é seu adjunto e nós já indicamos um adjunto da nossa parte, que é o Professor Alcides Chambal, ele é que é o assistente de Abel Xavier.
Quando é que o seleccionador nacional começa a trabalhar?
O Abel Xavier assinou um contrato para começar a trabalhar a partir do dia 1 de Fevereiro, até lá certamente estará composta toda sua equipa técnica e instalada aqui no território nacional.
Sabe-se que a selecção terá poucos jogos porque está quase afastada do CAN 2017.
Primeiro lembrar que vamos ter quatro jogos ainda este ano e são importantes para nós. Vamos ter também alguns jogos amigáveis nas datas FIFA, que iremos capitalizar para podermos melhorar a nossa actuação e a experiência internacional dos nossos atletas. Não há pouco trabalho para ser feito, pelo contrário, há muito. A seleção Sub 23 pode ser chamada para outras competições. Há trabalho sim senhor para o seleccionador nacional. Precisamos de lhe apoiar, precisamos estar todos do mesmo lado e lutarmos para a melhoria dos resultados da nossa selecção. Não há vencedores nem vencidos, há moçambicanos que procuram a melhor solução para o seu futebol.
