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DOS BENEFICIOS E MALEFÍCIOS DO CURANDEIRISMO

Por admin

“Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, Nosso SENHOR” Romanos 6:23

Durante a passagem do Homem por este planeta, por vezes vê-se confrontado com cada situações e realidades tão complicadas e melindrosas, realidades essas que ultrapassam o seu entendimento e que o obriga a passar por processos por vezes contrários aos seus princípios éticos e até morais e que muitas das vezes lhe provocam traumas irreversíveis. Uma das minhas falecidas avós de que tanto tenho evocado a sua sagrada memória, contou-me um dia que, aquando da construção da Linha Férrea já extinta, que ligava a cidade de Inhambane à vila de Inharrime, num troço de 96 Quilómetros, antes havia um lugarejo chamado Chongola, (deve-se pronunciar Txongola), que mais tarde seria a “Estacão de Chongola”, que servia para reabastecimento da água algumas furgonetas, e que se localizava a pouco menos de 20 Quilómetros da Vila, os operários que montavam os carris de aço tiveram de travar uma verdadeira batalha contra “forças ocultas”, porque diariamente após prepararem o terreno para a colocação das respectivas travessas, dia seguinte estava novamente de pé um grande morro de Muchém, (Formiga Branca ou Térmite), soterrando os carris, operação que só terminaria após a realização duma cerimónia de “Ku Phahla”, muito comum entre nós, e através da qual os Anciãos iniciados conseguem estabelecer ligação entre os vivos e os antepassados, pois acredita-se que o apelo às forças divinas, a caridade e as orações representam o uso correcto e útil para entrar em contacto com o mundo divino. Ultimamente aquela cerimónia “Ku phahla”, tornou-se uma execução tão ridícula e tão sem graça pois, olhamos para um imbecil qualquer, um badameco de palmo e meio, ou mesmo um velho, vestido rigorosamente à cidadão Europeu, (fato e gravata, sapatos nos pés, tendo em vez de aguardente típico, (de cajú, massala, maçanica ou outro fruto natural) uma escoria qualquer, (incluindo vinhos, champanhes ou cervejas), farinha de milho moído em processos mecânicos, contrariando assim todos os usos e costumes que requerem que o oficiante esteja enraizado à terra, através dos pés descalços, de tronco nú e calções ou capulana a cingir-lhe apenas as partes intimas e de cócoras ou de joelhos junto à árvore sagrada. Em princípio só os Curandeiros, os Régulos e alguns anciãos iniciados é que deveriam realizar aquele tipo de cerimónia, em condições especiais, pois “ku Phahla” e/ou consulta aos ossículos, “Ku hlahluva Tinhlolo”, estão conotados e têm características ritualisticas e cerimoniaisque visam entrar em contacto com os aspectos ocultos do Universoe de Divindades Africanas. Estas duas práticas atrás mencionadas para os não Africanos e para os Africanos com “Pernas de Pau”, aqueles que se julgam civilizados, podem não entender, que as mesmas revestem-se duma importância e simbolismo tão fundamentais, caminho para se comunicar com as potências supremas. Os Régulos e outros anciãos iniciados empregavam os seus poderes para auxiliar as pessoas, desde que essa ajuda fosse sempre realizada de harmonia com as leis que regem o seu estágio e crescimento espiritual. Note-se que o Curandeirismo nada tem a ver com o Feiticismo, que é o Culto de objectos que se supõe representarem entidades espirituais e possuírem poderes de magia. Ao passo que Curandeirismo, segundo o Espanhol PAPUS, de seu nome verdadeiro Gérard Anaclet Vincent Encausse, médico, escritor, ocultista, cabalista, maçome fundador do martinismomoderno, que nasceu no final do século XIX e morreu no século XX (Julho de 1865 a Outubro de 1916), dizia aquele cientista que: “Curandeirismoé uma arte ou técnica na qual o praticante – o curandeiro– afirma ter o poder de curar, quer recorrendo a forças misteriosas de que pretensamente disporia, quer pela pretendida colaboração regular dos deuses, Espíritosde mortos etc., que lhe serviriam ou ele dominaria”. Esta introdução serviu de pretexto para contar a triste história verdadeira que tramou a vida de um jovem, já falecido, que se tornou muito famoso nas décadas Cinquenta e Sessenta do século passado na minha Vila. Conhecido, perseguido e odiado pela sua fama de mulherengo, não no sentido de maricas como indicam alguns dicionários, pelo contrário, um verdadeiro “garanhão” concupiscente por possuir um membro reprodutor de tamanho descomunal, (dizia-se de cerca de 25 centímetros no tempo de repouso)! Acusado de “destruidor” de lares, e de ter desvirtuado e engravidado muitas donzelas, Marcos Passe, de seu nome verdadeiro, era de facto um terror para as mulheres. Para a materialização dos seus intentos dizia-se possuir um lenço mágico com o qual, atraía as suas vítimas, bastando para tal, um fingido assoar que elas, irresistivelmente sucumbiam a seus pés. A população, farta das façanhas do insolente, decidiu apresentar queixa ao Administrador, conhecido pela alcunha de “Txibakele”, por esmurrar todas as suas vítimas. Filho de um antigo Assimilado aposentado, Marcos Passe gozava da imunidade de não permanecer na cadeia mais do que 24 horas. No entanto, não podia evitar o julgamento e consequente condenação, cuja pena invariavelmente terminava em Palmatória. Alertado, Marcos Passe recorreu aos trabalhos de um Curandeiro que lhe recomendou, levasse consigo no bolso uma raiz que teria o condão de reduzir o tamanho do seu sexo durante o julgamento de modo que ninguém daria crédito no que dele se falava, pois o pénis teria o tamanho de um CARPO do dedo mindinho, (um centímetro). Assim foi. O Júri, presidido pelo Administrador teria como vogais o Cabo dos Cipaios, o Intérprete e o Chefe da Secretaria, decidiu quer o réu devia ser descalçado, (tirado as calças) no meio da População enfurecida. Espanto dos espantos, ninguém acreditava no que viam, pois, entre os testículos apenas uma minúscula protuberância. O acusado foi imediatamente ilibado, com os acusadores a serem enxotados a pontapés pelo Administrador ante o sorriso de victória do malandrote. Só que, como se costuma dizer, o último a rir, ri melhor. Quando se dirigiu ao seu curandeiro para recuperar o seu “bacamarte”, aquele (o Cura), acabava de ter uma morte súbita fulminado por um “Txingwalangwanza”, (Raio). Nenhum outro curandeiro sabia como fazer para a devolução do “seu a seu dono”. Os últimos anos de Marcos Passe, foram de verdadeiro martírio. Escarnecido e odiado como sempre, morreu sozinho, e só foi descoberto devido ao cheiro nauseabundo uma semana depois. É caso para dizer, “cá se fazem cá se pagam”.

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