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Vencidos pela caça furtiva!

Por admin

O Parque Nacional do Limpopo (PNL), na província de Gaza, está a atravessar o período mais azedo da sua história. Bandos de caçadores furtivos palmilham aquele território que, por lei, devia ser

devotado à protecção total da sua fauna e flora. Por ali, em condições normais, nem um coelho devia ser levado à grelha, panela ou ser morto por atropelamento. Devia ser lugar para a natureza seguir o seu rumo, naturalmente.

Entretanto, está a acontecer exactamente o inverso pois, houve desinteligências entre a direcção do parque e os fiscais que culminaram com a recolha de todas as armas que se encontravam em poder dos guardas florestais, escancarando-se, assim, a porta de frente para a caça furtiva de animais valiosíssimos, como rinocerontes e elefantes. Aqui não incluímos a fauna que é abatida para fins de consumo corrente. Falamos apenas daqueles cujos troféus podem ser vendidos a troco de milhões de meticais, randes, dólares ou euros.

Esgotada a fauna do lado moçambicano, numa certa noite, os caçadores tentaram saquear o cofre da própria administração do PNL usando maçaricos, “pés de cabra”, entre outros, mas debalde. Sabiam que naquele cacifo havia três pares de pontas de rinoceronte que pesavam 24 quilos e 900 gramas, e mais três toneladas de marfim. Ousaram porque sabiam que o fiscal de guarda estava desarmado.

Sem rinocerontes pela frente, invadiram o Kruger National Park, na África do Sul, e mataram vários animais a ponto de o governo daquele país ter estabelecido uma força especial para lidar com os malfeitores. Como resultado, cerca de 300 jovens moçambicanos foram mortalmente abatidos nos últimos anos. Mas, o assalto ao Kruger não refreia.

Perante este quadro, o parlamento sul-africano discutiu na semana passada a proposta apresentada pela Aliança Democrática, partido da oposição, para se considerar a caça ao rinoceronte como desastre nacional, pois, segundo a agência Associed Press (AP), só neste primeiro trimestre foram abatidos 162 rinocerontes no Kruger Park.

Perante este quadro avassalador, as entidades que lidam com a Convenção Internacional para a Protecção de Espécies em Vias de Extinção (CITES), da qual Moçambique é signatário, está a mobilizar-se para apelar o nosso país a fazer algo mais para travar a chacina ao rinoceronte.

Nas linhas que se seguem, a nossa Reportagem traz os contornos negros destas operações que são desenvolvidas por adolescentes e jovens do distrito de Massingir, mas com muitas mãos visíveis e invisíveis que financiam as operações e tornam este mercado bastante aliciante a ponto de centenas de pessoas arriscarem as suas vidas. 

Ao longo do ano passado, as autoridades alfandegárias nacionais apreenderam várias pontas de rinoceronte e de marfim nos diferentes aeroportos nacionais, mas também “choveram” notícias de vários terminais aeroportuários por este mundo afora a indicar o mesmo e a relatar que a proveniência dos troféus apreendidos era Moçambique.

Para constrangimento nacional, estas operações lesam a biodiversidade e desestruturam o desenvolvimento do turismo, o que por outras palavras equivale a afirmar que parte da economia nacional está a ser devassada por caçadores errantes e armados. 

Dados recentes indicam que o Governo, por via do Comando Provincial da Polícia da República de Moçambique, em Gaza, está a finalizar a burocracia necessária para devolver as armas aos fiscais do PNL, mas o estrago é imenso e a imagem do país está chamuscada.

Mais do que devolver as armas e reposicionar os guardas florestais dentro desta área de conservação, impõe-se um redobrado esforço para levar o reassentamento a bom porto. Trata-se de um programa iniciado por volta de 2003, com senso populacional feito, financiamento disponível, população sensibilizada e tudo, mas obra feita, nicles.

Naquela época, o senso indicou que por ali viviam mil e 100 famílias distribuídas pelas aldeias de Nanguene, Nakavene, Mavodze, Chimangue, Machamba, Bingo, Makandazulo-A e Makandazulo-B. Hoje, um novo senso mostra que as famílias cresceram, construíram casas de alvenaria e aumentaram o tamanho das machambas e dos currais, e para o Governo já começa a ficar difícil estimar quando e como este processo vai terminar.

Importa aqui recordar que a proclamação da ex-Coutada 16 como Parque Nacional do Limpopo envolveu os estadistas de Moçambique, na época Joaquim Chissano, África do Sul, que era presidido por Nelson Mandela, e do Zimbabwe, o presidente Robert Mugabe. Os três países e o mundo sonhavam com a transformação do PNL, Kruger Park e Ngonarezou (Zimbabwe) num parque único, que se chamaria Parque Transfronteiriço do Grande Limpopo. O sonho está a virar pesadelo.

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