Início » Província de Tete …descola!

Província de Tete …descola!

Por admin

Texto de André Matola

Sair da Redacção do semanário domingo e mergulhar neste imenso Moçambique tem, sempre, como resultado, enxergar mais além, e, em simultâneo, descobrir a “pólvora”. Isto é, encontrar aquilo que para muitos é recordação ou lhes passa, às vezes, completamente por debaixo do nariz.

Ir a província setentrional de Tete e atravessar os distritos de Moatize, Changara, Cahora Bassa mostrou-nos isso mesmo. Vimos como as pessoas vivem, sobretudo aquelas que estão distantes das sedes distritais e, quiçá, da capital provincial.

O distrito de Moatize está transfigurado para melhor. O marasmo cedeu lugar à vida. Os carros da brasileira Vale e da australiana Rio Tinto enchem as estradas. As pessoas estão melhor trajadas. As casas de hotelaria e restauração conhecem um movimento crescente de clientes.

Há sensivelmente cinco anos, a montra de Moatize era pobreza. Elevado índice de contaminação por HIV e SIDA. Locomotivas abandonadas. Zero produção de carvão e …calor, muito calor.

Os forasteiros, referimo-nos aos camionistas de longo curso, sobretudo malawianos, zimbabweanos e alguns sul-africanos, condutores de grandes plataformas, eram os clientes mais estimados por aquelas bandas porque, amiúde, quem se metesse com eles (trabalhadoras de sexo) ganhava uns quantos cobres.

Agora, os transeuntes, automobilistas e motociclistas que circulam pela principal artéria de Moatize, a EN7, não precisam de entrar no acampamento da Vale para ver que o carvão é o “Ás de paus”, ou melhor, o combustível que está a alimentar  o desenvolvimento. O carvão, esse, vê-se amontoado e à espera de ser exportado.

Não é tudo. Ao longo da Estrada Nacional Número 7 também floresce o negócio de quebra e venda de pedra. É frequente encontrar membros de uma mesma família envolvida na actividade, incluindo crianças. Ali não se fala em trabalho infantil, talvez para o desespero da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Em Chitima, distrito de Cahora Bassa, há uma interessante casa de pastos e que segundo soubemos é ali onde algumas equipas que militam no Moçambola passam as suas refeições, quando vão jogar com o HCB de Songo. Antes não havia nada disso. Devem degustar uns bons peixes da albufeira de Cahora Bassa, sobretudo Pende (tilapia), e alguma carne de cabrito.

Tudo isto seria insignificante se não fossem sinais inequívocos de desenvolvimento. Em Chitima as pessoas também respiram vitalidade. Nas bermas das estradas e em pequenas casinhas vêem-se alfaiates, ora abainhando as capulanas garridas das mulheres, ora alargando a cintura das calças dos homens. Mas há também quem venda peças de bicicletas, cereais, roupas usadas (os fardos são comprados preferencialmente em Maputo.

Em Nhacapiriri, o transporte mais popular para a comunidade continua a ser o burro. As mulheres alugam aqueles quadrúpedes para transportar o produto da machamba até à estrada, para ir cartar água ou, pura e simplesmente, para transportar a trouxa até à estrada, onde depois pegam o vulgo chapa-100 para chegarem aonde pretendem.

Em alguns povoados do interior de Cahora Bassa, domingo é dia de farra, de discoteca a céu aberto. Dança-se a valer. Não há lugares como Coconuts, Big Brother ou Macaneta. Ali transpira-se na dança com o sol a bater 15 horas e levantando-se do chão um terrível pó de cor acastanhado ou amarelado.

A aparelhagem é colocada numa barraca, volume alto, de preferência música zimbabweana, e toca a partir o esqueleto na dança. Mulheres dançam com outras mulheres, homens com homens, homens com mulheres, mas também não falta quem dance com uma garrafa de uma bebida qualquer na mão. Em suma, a vida rebola.

A nós que rolávamos de carro era nos lançado um olharzinho sem importância e toca a dançar que segunda-feira é dia da machamba, pesca, artesenato, etc, etc.

Decididamente, a província de Tete já não é apenas embondeiros (Adansonia digitata), malambe, crónicas de Arune Valy, nhama ya mbuze (carne de cabrito), peixe pende e capenta e, logicamente, nyhau, essa dança misteriosa que tem como principal palco de confraternização a vizinha Zâmbia.

A energia eléctrica, que é cada vez mais realidade em muitos distritos de Tete, vai permitindo visualizar cenários até há pouco inimagináveis.

A prosperidade, em alguns casos célere, vai chegando a Zumbu, Marávia, Mágoé, Tsangano, Angónia, Macanga, Chifunde, Mutarara, Changara e Chiúta. A hidroeléctrica de Cahora Bassa continua sendo o principal cromo da província. A província de Tete, com o seu calor, descola.

Você pode também gostar de:

Leave a Comment

Propriedade da Sociedade do Notícias, SA

Direcção, Redacção e Oficinas Rua Joe Slovo, 55 • C. Postal 327

Capa da semana