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Emigrar para chorar

Por admin

Muitos moçambicanos atravessam a fronteira para África do Sul à procura do Eldorado. Como se pode adivinhar, inúmeras vezes a sorte é madrasta. Mesmo assim, poucos sabem (ainda) conjugar o verbo regressar.

Para quem nunca visitou as cidades sul-africanas e ouve apenas relatos triunfalistas, fica com a imagem predominante de que se trata dum país de facilidades, que basta um estalar de dedos para ter emprego, pão ou cama para dormir.

O peso da moeda sul-africana (rand) sobre o metical baralha muitos moçambicanos, os quais, quando ouvem dizer que com 100 randes se pode ter 350 meticais, logo pensam que na terra do vizinho a vida é melhor para todos. 

Engana-se redondamente quem assim julga. Na África do Sul a taxa de desemprego está em crescendo e isso até explica as manifestações de xenofobia ocorridas este ano em algumas cidades.

Muitos cidadãos originários de Moçambique continuam a emigrar para África do Sul para fazer trabalhos de baixos rendimentos, como vender crédito, doces e maçarocas nas ruas. Preferem fazê-lo lá do que cá.

Na Cidade de Mbombela (Nelspruit), há vários moçambicanos a trabalhar em farmas, cultivando milho, batata, cebola e frutas. Tantos outros fazem serviços domésticos, em condições de habitabilidade difíceis.

É o caso de dezenas de moçambicanos que habitam num condomínio de estacas, cuja área pertence a um proprietário duma serração. No total, são 35 famílias juntamente com os locais, que neste mês de Outubro tiveram o azar de ver seus esforços multiplicados a zero na sequência dum incêndio que deflagrou numa das cabanas e atingiu toda vizinhança.

Célia Inguane é natural de Inhambane e seguiu para Mbombela atrás do marido que demorava voltar. “Vim de boleia e ele esperou-me na paragem. Cá a vida é difícil. Piorou agora que perdemos tudo por causa do incêndio”.

Ela conta que o fogo devorou 14 mil randes dum grupo de famílias moçambicanas que se preparava para regressar a terra em Dezembro próximo por ocasião do natal e da festa do final do ano.

Em Janeiro era para regressar novamente àquelas cabanas onde no inverno rigoroso da África do Sul é obrigatório multiplicar os cobertores, dado que ventila por todo lado.

ASSIM NÃO VALE

A PENA SAIR DE CASA

Porque o infortúnio referenciado é recente, a direcção do Município de Mbombela tratou de informar a da Matola que havia dezenas de moçambicanos em maus lençóis a precisar de apoio.

A Matola preparava-se para tomar parte no festival intermunicipal que envolve as duas cidades mais Nkomazi (África do Sul) e Mbabane (Suazilândia), no âmbito do protocolo de gemelagem existente desde 2005.

O festival decorreu de 21 a 25 de outubro corrente. As quatro cidades contribuíram para apoiar as vítimas. Ofereceram peças de vestuário, produtos alimentares, entre outros bens.

Na ocasião, o Presidente do Município da Matola, Calisto Cossa, não só manifestou a sua solidariedade e de todos moçambicanos às vítimas, como também exortou aos emigrantes para evitarem atravessar a fronteira para viver em condições deploráveis.

Se for para isto que estamos a ver aqui, penso que é melhor ficarem em casa e trabalhar lá”, vincou o edil da Matola, reforçando que não faz muito sentido jovens abandonarem suas origens para sofrer.

“Infelizmente quando estamos no nosso país acreditamos que cá a vida é melhor, mas em Moçambique também há condições de fazer a vida, o que precisamos é acreditar que com trabalho podemos superar dificuldades paulatinamente”.

No entender do autarca, é necessário os moçambicanos acreditarem nas potencialidades do país e convencerem-se de que cada um pode fazer algo para o seu desenvolvimento sem necessariamente cruzar a fronteira.

“Sei que há casos de sucesso, mas entendo que primeiro deviam esgotar todas possibilidades em Moçambique do que emigrar para viver nestas condições”,apelou Calisto Cossa aos moçambicanos.

Entretanto, no cumprimento do programa social alusivo ao festival intermunicipal, o Município da Matola também doou bens alimentares e roupa diversa a um orfanato de Mbombela, designado Orfanato Esther.

A casa alberga uma centena de crianças, maioritariamente abandonadas pelos progenitores ou órfãs de pais vítimas do HIV/Sida.

Falando no acto, Calisto Cossa sublinhou que toda criança tem o direito de crescer e ser educada, tendo apelado para todos observarem os direitos da criança porque são o garante do futuro de qualquer país.

Custódio Mugabe
custódio.mugabe@yahoo.com.br

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4 comments

Gaza and its Resistance to Israel's Brutal Attacks 29 de Novembro, 2023 - 19:43

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manar tv 9 de Fevereiro, 2024 - 21:44

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