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Moçambique deve encontrar o seu caminho

Por admin

As relações Moçambique-Brasil ganharam mais alguns “pontos” com a recente visita de Lula da Silva, ex-presidente do Brasil, que, sob a tutela do Instituto Lula, de que é presidente honorário, 

visitou alguns projectos em curso no país que contam com financiamento daquele país da América Latina. A visita foi também um momento de partilha de saberes tendo como ponto mais alto uma “aula” de combate à fome.

A visita a Moçambique do ex-estadista brasileiro, antecedeu deslocações à África do Sul e Etiópia, no continente africano, e à Índia, na Ásia. Neste périplo, Lula teve encontros agendados com chefes de Estado, dirigentes sindicais, lideranças populares e empresários para discutir, entre outros temas, acções de combate à fome.

Em Maputo, Lula foi recebido pelo estadista moçambicano, Armando Guebuza, e pelo antigo chefe de Estado, Joaquim Chissano. Também visitou a Fábrica de Anti-retrovirais, na Sociedade Moçambicana de Medicamentos, na Matola e Universidade Aberta do Brasil (UAB), no Campus da Universidade Pedagógica, em Lhanguene, para além de um encontro com empresários brasileiros baseados no nosso país.

Entretanto, o ponto mais alto da visita de Lula da Silva ao nosso país foi a palestra proferida, a convite do Centro de Documentação Samora Machel,no Centro de Conferências Joaquim Chissano, para o qual acorreram diversas personalidades do nosso cenário político, económico, académico entre outras.

Em clima a roçar o informal, Lula da Silva, alardeando boa disposição, transmitiu algumas lições aprendidas durante o tempo em que dirigiu o Brasil (2003 – 2011) a uma plateia bastante atenta. O ex-presidente também passou em revista a sua história de vida desde os tempos de metalúrgico até às acções sindicais em proveito do povo trabalhador.

Refira-se que a governação de Lula abriu uma época de florescimento naquele país latino-americano. Lula da Silva conseguiu realizar um milagre e tornou o país um exemplo de combate à fome, pobreza e miséria. Fomentou projectos de integração social e lançou um amplo programa que apostou fortemente na educação, com especial enfoque para os pobres, infra-estruturação e modernização do país, facto que abriu as portas para milhões de postos de trabalho criados, reduzindo, desta feita, as taxas de desemprego para 4.7 porcento.

O ex-governante lembrou que, quando chegou à Presidência da República, o país tinha uma dívida de 30 biliões de dólares com o FMI. “A primeira coisa que fiz foi chamar o director do FMI e dizer-lhe que queria pagar e livrar-me da tutela do FMI. Paguei e fiquei sem dever um único tostão. Hoje, o FMI deve ao Brasil 14 biliões de dólares”, disse.

 “Queríamos provar que não era verdade que um país tinha que crescer em primeiro lugar para depois distribuir a riqueza. Aprendi, na década de 70, através de um ministro da época que dizia que antes de se distribuir o bolo tinha que crescer. O facto é que o bolo cresceu e a classe trabalhadora brasileira não comeu uma única fatia do bolo. Nós provámos que era possível crescer e distribuir ao mesmo tempo.”, disse.

Sempre usando de uma linguagem simples, Lula lembrou aos presentes que a discriminação assume diversas formas: “Quando o Estado empresta biliões a um empresário é investimento. Quando dá dez reais ao pobre é gasto. Por que razão cuidar da fome não é investimento? Por que razão cuidar da educação não é investimento? A educação é sim o melhor que um país pode fazer. Apostar no conhecimento é rentável. E nós, durante o nosso governo, triplicámos o Orçamento para a Educação. Foi por isso que criámos 15 milhões de postos de trabalho formais. Dilma, a actual chefe de Estado, já criou mais de três milhões de postos de trabalho. Criámos mais universidades em oito anos do que em mais de 500 anos da história do Brasil”,  referiu Lula da Silva, destacando ainda o facto de ele e o seu vice-presidente, José Alencar (falecido recentemente) não terem formação universitária, mas terem construído 16 universidades federais públicas. 

Lula da Silva contou ainda que graças aos programas governamentais de envolvimento, hoje, é possível encontrar jovens provenientes de famílias pobres com formação superior e a trabalhar em organismos do governo ou em apreciadas instituições privadas.

O ex-presidente brasileiro disse ainda que, face ao sucesso do seu primeiro mandato, teve receio de avançar para um segundo mandato: “É engraçado que há gente que quer mais mandatos e há pessoas que matam por pretender mais mandatos. O conselho que tenho dado aos outros é este: o segundo mandato é delicado. Só pode fazer o segundo mandato se tiver a certeza de que fará coisas diferentes e que vai trabalhar mais que no primeiro; que vai fazer coisas melhores que o primeiro. Caso contrário, você perdeu o jogo”, estas declarações arrancaram muitos aplausos e gargalhadas numa altura em que o nosso país está em período de revisão constitucional sem um objecto muito claro.

Discorrendo sob o lema “Brasil e África: opção pelo desenvolvimento sustentável”, Lula da Silva disse que durante muito tempo, África ajudou ao Brasil com a sua produção, gente, cultura e alegria.

“O que os africanos fizeram para o Brasil durante tantos e tantos anos é impagável de ponto de vista financeiro, não é possível medir, nem o FMI nos seus melhores dias não seria capaz de mensurar a dívida que a nossa nação tem para com os povos africanos”, disse.

Para Lula da Silva, a única forma de pagar essa divida é através de parcerias, solidariedade, partilha de ideias, transferência de tecnologias, entre outras. “Ou seja, é obrigação que nós temos de tentar mudar um pouco a relação que o Brasil tinha com os países africanos”, disse ele.

Acrescentou que “nós começámos a colocar um pouco em prática esse papel porque o Brasil não olhava para o continente africano. Brasil era capaz de olhar para a Europa e achar que o continente africano era um vazio no planeta terra que não tinha ninguém e não tinha muita importância. Era muito engraçado porque as pessoas no Brasil muitas vezes falavam de África como se este fosse um único país. E esse é o entendimento ainda”, disse Lula da Silva.
Ele reconheceu que África é, no entanto, um continente cheio de oportunidades, com mais de 800 milhões de habitantes, 300 milhões de pessoas que fazem parte de uma classe média poderosa, com perspectivas de crescimento, e que está a conquistar a democracia e a consolidar as instituições democráticas. “Ou seja, a gente percebe que o mundo desenvolvido poderia olhar os países africanos como uma possibilidade de resolver o problema da crise que para eles parece insolúvel”, defendeu ele.

Para Lula da Silva, se neste momento, os países ricos estivessem a investir nas nações pobres para que elas tivessem acesso a novas tecnologias, receber incentivos para comprar novas máquinas para produzir novas coisas, provavelmente o mundo desenvolvido poderia sair da crise em que se encontra mergulhado e estaria a vender produtos, gerar emprego, salários, renda e desenvolvimento.

“Essa saída, na minha opinião, passa pelo aumento de investimento, créditos, consumo e tudo isso vai acontecer nos países mais pobres. Se o alemão já tem o carro que precisa, a casa que precisa, o televisor que precisa, aqui ainda não tem. Então, é preciso começarmos a criar condições para que o povo pobre comece a ter recursos”, defendeu ele.

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