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Banda elogia combate à corrupção no Malawi

Por admin

A ex-presidente do Malawi, Joyce Banda, saudou o seu sucessor, Peter Mutharika, por ter continuado com medidas rigorosas para investigar e penalizar os implicados no maior escândalo financeiro da história do país, vulgarmente conhecido por “cashgate”.

Falando esta semana durante uma palestra na prestigiada Escola de Economia e de Ciência Política de Londres, Banda elogiou o papel vital desempenhado pelo antigo representante da União Europeia no Malawi, Alexander Baum, em ajudar a perceber que havia desfalques no sistema de administração financeira do Estado, introduzido pelo seu predecessor Bingu wa Mutharika.

Ela disse que o saque dos fundos públicos realmente ocorreu ao longo de um período mais longo, que remonta a 2005, quando Bingu wa Mutharika, que morreu subitamente em 2012, estava no poder.

Ao tomar conhecimento da natureza  e da gravidade do roubo dos recursos do Estado, eu imediatamente institui uma auditoria forense constituída por auditores estrangeiros”, sublinhou Banda, durante uma palestra bastante concorrida e que foi transmitida em directo pela TV da Escola de Estudos Económicos e Políticos de Londres.

Eu tinha decidido ir ao fundo do problema e parar com o roubo e corrupção no governo de uma vez por todas. Relatórios da auditoria do governo indicam que esse tipo de cancro começou por volta de 2001, mas foi deixado crescer até amadurecer”- referiu a ex-estadista malawiana.

Eu mesma tinha assumido compromisso de lutar sem tréguas contra a corrupção e sem medo, mesmo sabendo das repercussões sobre a minha carreira política e com as eleições a poucos meses da sua realização”- disse Joyce Banda.

Eu tinha percebido que se parássemos com roubo e corrupção no governo, poderíamos poupar trinta por cento do nosso orçamento nacional. Eu tomei essas decisões sabendo que as pessoas afectadas iriam  desafiar-me e chantagear-me com todos os meios possíveis, como insultos e ameaças, incluindo ameaças de morte. Mas eu precisava de lidar com o assunto, com todas as minhas energias, duma vez para sempre” precisou a ex-presidente malawiana.

Ela elogiou o governo britânico pela disponibilização do apoio financeiro para permitir a firma Baker Tilly realizar uma auditoria forense externa.

Ela também agradeceu o governo alemão que aceitou o seu pedido para financiar a segunda fase da auditoria forense entre 2009 e 2012.

A Alemanha, um dos países que suspendeu o apoio ao Malawi após que foi despoletado o escândalo cashgate concedeu ao governo de Lilongwe cerca de vinte e cinco milhões de doláres para realizar uma auditoria completa durante o reinado de Bingu wa Mutharika e do seu partido DPP, onde se estima que foram sacados fraudulentamente noventa e dois biliões de kwachas.

A auditoria financiada pelo governo alemão é para quantificar com exactidão, o dinheiro sacado dos cofres do Estado malawiano no período compreendido entre 2009 e 2012, disse Katrin Pfeiffer, director da agência de cooperação alemã para o desenvolvimento.

Um relatório preliminar de uma auditoria realizada entre Novembro de 2011 e o primeiro semestre de 2012 e que foi mantido em segredo por envolver altas figuras do governo malawiano, incluindo o falecido presidente Bingu wa Mutharika indica que Malawi perdeu  mais de noventa biliões de kwachas, devido aos esquemas de corrupção institucionalizada.

A Price Waterhouse Coopers é apontada como a firma de auditoria que vai auditar as contas do Estado malawiano, através de um exercício que poderá levar mais de um ano, devido aos contornos dos roubos ocorridos durante o regime de Bingu wa Mutharika, um fenómeno que veio atingir igualmente o governo da Joyce Banda.

O escândalo financeiro durante o regime da Joyce Banda veio à superfície quando  Paul Mphwiyo foi baleado  em Lilongwe nos finais do ano passado. Milagrosamente, ele sobreviveu ao ataque e está entre as testemunhas arroladas no escândalo “cashgate”.

Ralph Kasambara ex-ministro da Justiça foi acusado de orquestrar a tentativa de assassinato de Paul Mphwiyo  e encontra-se detido e a responder em tribunal.

Ele também enfrenta acusações de lavagem de dinheiro juntamente com o principal suspeito Oswald Lutepo. No entanto, ele nega todas as acusações.

O gabinete de combate a corrupção diz que cerca de vinte biliões de kwachas desapareceram durante a governação de Banda e outros noventa biliões de kwachas provavelmente teriam desaparecido ao longo dos anos da presidência do falecido Bingu wa Mutharika, o equivalente a 500 milhões de dólares a taxa de câmbio da altura.

Quarenta por cento do orçamento do Malawi depende da ajuda externa, mas devido à corrupção, os doadores suspenderam o apoio directo ao orçamento nacional.

O país está  mergulhado numa crise económica sem precedentes, com um agravamento contínuo do custo de vida.

Apesar de o governo ter aumentado há dias o salário dos funcionários públicos em cerca de quarenta por cento, este incremento ainda está muito longe de resolver os problemas dos mais de cem mil funcionários e agentes do Estado, constituídos maioritariamente, por professores, enfermeiros e polícias.

As exportações malawianas dependem essencialmente do tabaco, que geram anualmente cerca de trezentos milhões de dólares, um valor insignificante para garantir a sustentabilidade da sua economia.

Mensalmente, o país precisa de cerca de duzentos milhões de doláres para garantir a importação de bens e serviços essenciais, como combustível e equipamento, mas o governo de Lilongwe é obrigado a fazer uma ginástica para assegurar que o país não fique imobilizado, tal como acontecia durante o regime do falecido Bingu wa Mutharika em que o Malawi ficava semanas sem gasolina e diesel devido à escassez de divisas para a sua importação.

Naquele país, também são frequentes as crises de medicamentos sobretudo nos hospitais públicos.Quase noventa por cento dos medicamentos que o Malawi consome são donativos.

O país por si só não tem recursos financeiros para cobrir as suas necessidades em termos de medicamentos.Por consequência, mais de cinquenta por cento da população malawiana vive com menos de um dólar, segundo as estatísticas oficiais.

Estima-se em catorze milhões de habitantes, o número da população malawiana, com uma taxa de natalidade de dois ponto oito por cento ao ano, uma taxa considerada das mais altas do continente africano.

Avelino Mucavele, em Blintyre

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