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Tempo de festa e de reconciliação

Por admin

Esta quinta-feira, 25 de Dezembro, comemora-se o Dia da Família ou Dia do Natal. Esta quadra natalícia e do fim do ano é especial, porque acontece quase quatro meses depois do fim das hostilidades militares e mais de dois meses depois das eleições presidenciais, legislativas e provinciais. Motivos suficientes para os moçambicanos festejarem pensando na reconciliação e no melhor caminho para levar o país a maiores patamares de desenvolvimento: desenvolvimento do capital humano, desenvolvimento económico e desenvolvimento social.

Por isso, podemos dizer sem papas línguas que nestas alturas deve andar no ar um cheiro à festa e à reconciliação. As pessoas devem presentear-se mutuamente e o país virar, nestes dias, mais comunidade, mais abraços e mais sorrisos. Juntarem-se os amigos e as famílias. Comer-se e beber-se à saúde uns dos outros, trocando-se mensagens e cumprimentos. Seja qual for a nossa ideologia, o nosso credo religioso, a nossa etnia, o nosso extracto social, a nossa língua, a nossa origem e a nossa orientação sexual.

Nestas alturas, o comércio, sempre atento, sabe organizar, fomentar e propagandear uma vasta rede de apetites, que te atiram para um consumo desenfreado, desinibido e, por vezes, exibicionista. As organizações de caridade esmeram-se em refeições aos mais pobres e abandonados, para, ao menos, um dia em 365, poderem saciar a fome e as crianças sem posses acederem a um brinquedo.

O movimento é enorme nas cidades nestes últimos dias. Neste nosso país de contrastes, onde o primeiro mundo se mistura, vivendo paredes meias com a miséria do terceiro ou quarto mundo, ou mesmo de mundo nenhum, sítio onde os pobres absolutos simples ainda são a maioria e não têm voz que chegue aos céus, muito menos aos centros comerciais ou a uma simples loja de bairro.

Sabemos também que as eleições chegaram ao fim, ainda faltando a validação do Conselho Constitucional. Os resultados são o que são. Muitas das propaladas irregularidades devem ser vistas no contexto de um povo onde o analfabetismo ainda dá cor à paisagem e gestos simples, como o de colocar o X num quadradinho, tornam-se bicho-de-sete-cabeças para quem não cresceu na cultura do voto e das letras do alfabeto.

 Os derrotados persistem, amargurados e com muito de frustração à mistura, em não querer aceitar a derrota. Tiveram o poder à mão de semear e fugiu-lhes quase sem darem por isso, muitos deles convencidos que já o haviam seguramente agarrado. Mas o povo prega dessas partidas. Agora há que curar feridas interiores que demoram a cicatrizar, preparar-se para novas batalhas, porque o mundo vai continuar, largos dias têm cem anos e são imprevisíveis as voltas que o planeta dá e há que ter como pano de fundo que a democracia é um sistema mau, talvez péssimo, mas até hoje ainda ninguém conseguiu inventar melhor e que, em democracia, quem ganha é quem manda.

Acontece não apenas em Moçambique, mas por esse mundo fora. E democracia significa alternância no poder em obediência aos votos do povo, que é ele quem mais ordena. O povo não é aquela menina que gosta de ser cortejada pelos políticos, bem tratada e cosmetizada. Não é, não!

 O povo é o agente transformador, o protagonista da política de mudança, progresso e, quando mal interpretado, de retrocesso.

Anda no ar um espírito que nos chama a todos, indivíduos e organizações, à conciliação, assente na fraternidade, na paz, segurança e desenvolvimento, conceitos que se exigem uns aos outros, se completam e se acentuam.

 Não pode haver fraternidade sem paz, nem paz sem segurança e desenvolvimento. Não pode haver paz num país onde uma percentagem assinalável vive na miséria total. Precisamente a luta sem tréguas contra esta miséria tem de ser o objectivo número um do Governo que vai brevemente entrar em funções. Nyusi já o disse que essa é uma das suas grandes prioridades, alavancando a Agricultura para que não falte comida em casa do moçambicano, pois, como defende, “o povo não come carvão nem gás”.

 A quadra festiva é um apelo à consciência dos governantes e dos governados. Um apelo à consciência de todos nós para o trabalho, pois o país precisa de todos para que se fortique na congregação das nações.

No meio deste consumismo sem freios, destas boas festas que cruzam os ares, destas árvores de Natal a luzirem nas noites, quase nos esquecemos das origens e de que Natal significa nascimento e que estamos a comemorar o aniversário de uma das personalidades mais marcantes de toda a história humana, Deus para os Cristãos, profeta para os Muçulmanos, simplesmente genial e técnico de humanidade para os descrentes e agnósticos. Chama-se Jesus Cristo, cuja filosofia de vida revolucionou os mundos, revolveu estruturas, semeou inquietação nas consciências, exigindo a procura constante da fraternidade e do amor ao próximo: “ se entrares na Igreja para colocares no altar uma oferenda ao teu Senhor e te lembrares que estás zangado com o teu irmão, deixa a oferenda e vai, primeiro, reconciliar-te com o teu irmão, para que teu Pai que está nos céus a possa aceitar”, disse um dia Jesus.

Estamos em tempo de reconciliação, a começar pela reconciliação política. A Renamo que se reúne hoje em Gorongosa, deve pensar nessa perspectiva de paz e sossego para o país e para as pessoas deste país e não em arruanças de qualquer espécie, seja qual for o pretexto para fazê-las.

Por fim,domingodeseja aos seus leitores, cidadãos, onde quer que se encontrem, que o sejam a tempo inteiro, e que metam o Natal nas suas actividades. Haja paz e reconciliação. Feliz Natal e Festas Felizes!

 

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