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Excesso de produção provoca pânico

Por admin

É um caso raro na nossa realidade em que a produção ultrapassa todas as melhores expectativas e, no lugar de gerar um clima de festa entre os intervenientes do processo produtivo, nomeadamente 

os camponeses, a empresa fomentadora (Plexus), bancos e governo, gera lágrimas e ranger de dentes. Nos distritos de Chiúre, Montepuez, Namuno e Balama, sul de Cabo Delgado, estão todos de punhos serrados e prontos para desferir golpes violentos contra os outros, dado que as datas combinadas para o fecho da campanha de comercialização já expiraram, o algodão continua nas mãos dos camponeses e até o diálogo entre as partes envolvidas começa a ser de “poucos amigos”. Vive-se por ali um ambiente de pânico sem precedentes.

A génese do burburinho que hoje se vive em Cabo Delgado remonta da campanha agrícola 2010-2011, na qual o preço do quilograma de algodão carroço foi fixado em 15 meticais, um valor que deixou meio mundo animado e a voltar a olhar para o algodão como verdadeira cultura de rendimento.

Porque o preço de 15 meticais foi fixado numa altura em que poucos tinham lavrado a terra e, por isso, poucos ganharam com ele, na campanha seguinte, 2011-2012, ninguém quis ficar para trás. Todos os camponeses mergulharam na lavoura, correram para os bancos para solicitar créditos para a sacha, a própria empresa fomentadora se desdobrou em esforços para ceder sementes e demais insumos agrícolas e o Governo local fez o seu papel de mobilizador para a produção.

Toda esta azáfama decorreu na convicção de que não haveria grandes mexidas no valor de compra ou, se houvesse algum abrandamento, não seria tão acentuado a ponto de culminar em prejuízos, quando muito julgava-se que poderia haver uma redução ténue na expectativa de lucro.

Conforme é sabido, a lavoura para a produção desta cultura inicia em Dezembro, altura em que as chuvas começam a dar indicações de abundância. As sementeiras são feitas logo a seguir e, seis meses depois, isto é, por volta do mês de Junho do ano seguinte, inicia a colheira.

Entretanto, é por volta dos meses de Março e Abril que são divulgados os preços indicativos do quilograma do algodão. Terá sido por essas alturas que todos ficaram a saber que de 15 meticais da campanha anterior, o prémio caíra para 10 meticais, para o algodão de primeira, e oito meticais para o algodão de segunda.

Ainda assim, ninguém desarmou, sobretudo pelo facto de a campanha estar a meio. Os camponeses refizeram as suas contas e logo perceberam que não ganhariam tanto quanto sonhavam, mas sobraria algo para “contar a estória”.

Quem não fez os mesmos cálculos parece ter sido a empresa fomentadora, a Plexus, que no final da campanha “não se lembrou” da lufa-lufa havida no início da campanha e se deixou surpreender com as quantidades de algodão que começaram a chegar aos seus armazéns. Prova disso é que até os camiões com tracção às quatro rodas que esta empresa adquiriu para escoar a produção são de visível pequena tonelagem.

Outro indício de que a empresa não fazia ideia do que estava no campo é que o recinto da empresa ficou inundado de algodão e não há lonas para cobrir os milhares de sacos que não couberam nos armazéns, o que faz perceber claramente quer em caso de chuva será um “Adeus, encomenda”.

Este cenário de falta de lonas verifica-se também nos celeiros improvisados pelos camponeses, onde o algodão está exposto às vontades da natureza, conforme testemunhamos na nossa ronda pelo interior dos distritos de Chiúre, Montepuez, Balama e Namuno. Aliás, a própria direcção da empresa disse à nossa equipa de Reportagem que estava a par deste facto.

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