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O mundo infernal do treinador moçambicano

Por admin

O fenómeno “chicotadas psicológicas” está a consolidar-se no futebol moçambicano. É preciso conhecer as suas razões e compreender as motivações dos gestores dos clubes.

 Não basta lamentar por em apenas duas jornadas do Moçambola 2014 terem sido despedidos dois treinadores, um nacional e outro estrangeiro, para além da saída voluntária do terceiro, alegando falta de mínimas condições de trabalho.

 

No final da segunda jornada, com duas derrotas, uma diante da Liga Muçulmana, 1-4, e outra do Maxaquene, 1-2, o Clube do Chibuto despediu o português João Eusébio. Não observou o factor grandeza dos seus adversários, dois dos crónicos candidatos ao título de campeão nacional de futebol de Moçambique!

O Têxtil do Púnguè despediu António Sábado, alegadamente porque os adeptos (?) exigiam a sua cabeça, depois das derrotas com Desportivo de Maputo, 0-2 e com o Ferroviário de Nampula, 0-1. Zainadine Mulungo não quis esperar por falsas promessas no Estrela Vermelha da Beira, onde depois Ivo Gonçalves abandonou o barco alegando mau ambiente de trabalho.

Curiosamente, todos os treinadores principais demitidos  foram substituídos pelos seus adjuntos! Se à primeira ficamos a saber da incompetência de um determinado treinador, espelhada pelos resultados de jogos, importa saber se os clubes gozam de boa estruturação e administração, se são geridos por gente desportivamente competente, se os agentes desportivos dessas colectividades não sofrem de ansiedade crónica de verem seus clubes campeões nacionais em apenas duas jornadas de uma maratona de 26 jornadas divididas em duas voltas.

Fica a interrogação: Não quererão esses dirigentes de clubes, muitos deles não profissionais do desporto, colher sem nunca terem semeado?  

 

TREINADORES-EMPRESÁRIOS

Certos treinadores da praça andam reféns de colegas influentes nos clubes, que se assumem como sendo seus empresários. Esses treinadores empresários são manipuladores do negócio de contratação de técnicos que quando insatisfeitos dão ordem de se mandar embora aquele que não tenha cumprido com o combinado. Um empate ou derrota por vezes é suficiente para quem não tenha dividido as “luvas” com o colega empresário ser corrido por maus resultados.  

Dentro dos próprios clubes encontramos dirigentes de má fé, que se servem dos cargos que ocupam para a contratação de seus amigos para treinadores. Ao contratado é atribuído um elevado valor de “luvas” e salário astronómico que depois divide com o amigo contratante. Quando o acordado não é cumprido, o treinador é imediatamente despedido.

Importa sublinhar que para esses “maus resultados” certos jogadores mais influentes (ou mais antigos) desempenham papéis importantes para esses desonestos dirigentes, visando ao enfraquecimento do grupo de trabalho que resulte em sucessivas percas de pontos que justifiquem ao afastamento do treinador principal. Sim, apenas do treinador principal.

 

POR ORDEM DOS PATRÕES  

As chicotadas que se verificam à grande escala no Moçambola de ano para ano são parte do sistema a que o nosso futebol está dependente, de algum modo muito controlado pelos “ empresários de jogadores” ou, simplesmente, pelos vendedores dos atletas. Esses senhores, a todo custo, querem ver as suas “mercadorias” aos olhos do mundo, isto é, sempre convocados para jogos.

Porque tais “empresários” controlam o sistema, o treinador que não se sujeita aos seus interesses é corrido por motivos como “provocador de mau ambiente de trabalho”.    

E importa considerar que neste “chuta-chuta” de treinadores principais, os treinadores adjuntos aparecem como actores inteligentes, divididos em dois grupos, um daqueles com qualificações para treinar equipas do Moçambola, outro sem a tal qualificação. Ambos estão sempre à espreita do comando técnico para ver engordado o seu ordenado. São muito amigos dos dirigentes dos clubes, aos quais passam diariamente informações do balneário, com tendência em falar mal do treinador principal, antes ou depois do jogo. São muito amigos dos jogadores menos utilizados. Fofoca e mentira são as suas principais armas de combate.

Os treinadores adjuntos com qualificação para o Moçambola são muito discretos. Fazem-se passar por melhores que os principais. Muito influenciam nas decisões dos dirigentes que nos clubes procuram de qualquer coisa para a sua sobrevivência.

Não é de toda verdade que em Moçambique se diga, por exemplo, “ “mandamos embora o treinador por pressão dos adeptos?” Quem são esses adeptos? Que contributo trazem para os clubes, senão causar distúrbios quando a equipa perde? Como é que um clube sério se guia por uns indivíduos que não tiram nenhum tostão do seu bolso para a conta da colectividade? Seria, isso sim por pressão de sócios pagantes de quotas. No nosso país são poucos os clubes que se possam orgulhar de ter sócios.  

 Já agora, se esses sócios são tão decisivos, porque quando pedem realização de Assembleias Gerais não são obedecidos? Serão esses sócios decisivos na contratação de treinadores nacionais e estrangeiros? Os dirigentes usam esses fictícios adeptos (confundidos de sócios) para mandarem embora os desobedientes amigos treinadores.

Seguem-se abordagens de desportistas sobre este fenómeno de chicotadas psicológicas, que está na moda em Moçambique e desespera o treinador do futebol nacional. 

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