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MODALIDADES: Kitesurf insere-se no desporto nacional

Por admin

Oficialmente, o kitesurf pratica-se em Moçambique desde 2007, quando foi concebida a associação da modalidade ao nível da cidade de Maputo. Já movimenta mais de 30 praticantes, entre profissionais e principiantes, que se treinam na praia da Costa do Sol.

 

Estamos na praia da Costa do Sol. Numa tarde quente e ventosa, combinação ideal para a prática de kitesurf. Diante da equipa do domingo, estão os formandos, os instrutores e alguns curiosos que procuram aprender algo deste desporto que atravessa fronteiras e une culturas.

Aliás, este desporto surgiu na França no início da década de noventa e alastrou-se surpreendentemente em pouco tempo pelo mundo fora. O nome vem da junção de duas palavras inglesas, kite, que significa pipa, papagaio ou pandorga, mais surf, o mesmo que navegar.

A modalidade, dizem fontes contactadas pela nossa equipa de reportagem, não precisa de muita força, mas total concentração. O desporto em alusão depende do vento, sem o qual não se pode praticar porque o seu principal instrumento, o kite, não tem como ganhar força e direccionar-se.

Todos concordam que é um desporto relativamente simples, mas, como qualquer outro, necessita de dedicação. Tem algumas vantagens, afirmam os seus praticantes, a começar pela capacidade de relaxamento que oferece, sobretudo quando se começa a ter contacto frequente com a água. Porém, tem perigos a prever e temer.

DUAS ESCOLAS

DE FORMAÇÃO

Kite, barra de cordas, arnês, prancha e capacetes são os materiais básicos necessários para a prática da modalidade. Regra geral, os mesmos são comprados na vizinha África do Sul, num valor estimado entre 10 e 15 mil meticais o kit completo. Daniel Genovese, técnico profissional da modalidade, é quem acompanha a nossa equipa de reportagem e nos detalha.

“O seu material, normalmente, adquire-se por 15 mil meticais. Não é um material tão barato quanto devia ser, mas continuamos nisto porque há amor pela saúde e pelo desporto. Os turistas são os que mais compram esse material e oferecem-nos depois de usarem e começar-se a estragar”, conta, para depois acrescentar que isso faz da modalidade não ser de fácil acesso ao cidadão comum.

Para contornar a situação, o nosso entrevistado contou que compra equipamentos já estragados. “Como sou técnico compro três materiais danificados e concerto-os. Tenho habilidades para fazer isso e gasto pouco do que quando adquiro na África do Sul”.

Com a falta de um dos materiais acima mencionados, a Federação Internacional de Kitesurf não admite a prática da modalidade. Daniel segue essa ordem à risca, mesmo de olhos vedados, como ele mesmo garante. Aliás, esse detalhe de extrema importância faz com que haja falta de muita adesão à modalidade. A fonte garante que vai trabalhar na massificação deste desporto em Moçambique.

Já existem duas escolas, nomeadamente KiteZone e Mozambique Kitesurf, e todas funcionam na Praia da Costal do Sol, formando profissionais que no futuro poderão trabalhar directamente para a associação.

Segundo a fonte, a ideia é formar mais professores para, em seguida, expandir a modalidade pelo território nacional, criando-se mais escolas. A praia da Macaneta (província de Maputo), KaTembe (cidade de Maputo), Bilene (província de Gaza), Vilankulo (província de Inhambane) e Pemba (província de Cabo Delgado) são os locais de preferência.

Isso só vai acontecer quando os nossos formandos tiverem uma autorização pela federação internacional da modalidade para ensinarem os outros.    

Igualmente, o técnico pretende levar o seu projecto às unidades de ensino e o pedido já foi submetido ao Ministério de Educação e Desenvolvimento Humano, esperando-se pela resposta. A ideia é fazer com que os mais novos se interessem por este desporto.

É ARRISCADO APRENDER SOZINHOSilvestre Filipe, 21 anos, é um dos formandos daquelas escolas. Pratica a modalidade há quatro (4) anos e disse estar satisfeito por fazer parte daquela família. Actualmente, integra a associação como um dos funcionários, da mesma forma que auxilia na formação dos novatos no kitesurf.

 

Já com um pouco de estrada, disse ao domingo que o desporto em alusão, mesmo tendo as suas vantagens no que diz respeito à saúde, também possui as suas desvantagens que se resumem nos riscos que os praticantes correm quando se fazem ao mar, como não saber nadar, por exemplo.

“Essa modalidade ajuda na leveza da mente, mas para quem não sabe nadar não se aconselha a praticar. Imaginemos que a pessoa é atingida por uma grande onda, não vai saber como proceder, não tem nenhuma ferramenta, não sabe controlar a direcção do vento e pode-lhe projectar para fora do mar, pode embater numa pedra”.

A velocidade das ondas, acrescenta, constitui um dos riscos, pois, segundo ficámos a saber, quem embate na água em alta velocidade o impacto pode-se comparar a uma pedrada. Para Daniel, profissional da modalidade, é arriscado aprender sozinho.

“Não se permite, o peso das cordas pode também não ser compatível com a capacidade de controlo da pessoa, pode ser arrastado pelo vento para zonas distantes que nem vai conseguir direccionar o kite para voltar. Mas em parte ensina a superar vários problemas”, sublinhou.

Normalmente, são necessárias 15 horas de aulas para se poder aprender o kite perfeitamente.

GARRAFAS NA PRAIA PERTURBAM

Segundo as fontes, são recorrentes situações em que se deparam com cacos de garrafas na praia. Os praticantes dizem que o município de Maputo deve-se responsabilizar pela limpeza constante daquele recinto.

Por outro lado, pedem as autoridades que reservem um espaço para a prática da modalidade, porque muitas vezes disputam a praia com banhistas, colocando em perigo a vida destes, uma vez que o kite pode cair sobre um dos banhistas e causar-lhe ferimentos.

“Costumamos ajudar muitas pessoas aqui, mesmo no tempo em que havia muitos afogamentos devido às covas, salvamos muitas vidas, não fazemos mal a ninguém, mesmo quando há assaltos ajudamos, então gostaríamos que houvesse essa colaboração com as autoridades”, disse Daniel, acrescentando que alguns membros da associação têm ajudado na limpeza da praia.

CAMPEONATO EM MARÇO

domingo ficou a saber que em Março deste ano vai haver um campeonato ao nível da cidade de Maputo, em que só participarão atletas nacionais, já que a associação ainda não tem reconhecimento internacional.

O técnico Daniel Genovese diz pretender formar os futuros campeões moçambicanos de kitesurf. “É um investimento, queremos miúdos de oito anos. Vamos criar essa cultura neles e aos poucos vamos conseguir, ao invés de termos uma maioria feita por crianças vindas de fora”.

Para já, o técnico está à caça de mais mulheres: “até agora são seis”, concluiu. 

Pretilério Matsinhe

 

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