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Moçambique honrado pelas mulheres em Pretória

Por admin

Em uma noite espectacular de boxe, Moçambique foi honrado pelas vitórias douradas das quatro pugilistas nacionais, nomeadamente Maria Manuela (54-60kg), Alcinda Panguana (66-69kg), Ângela Machanguana (57-60kg) e Rady Gramane (69-75kg), ao derrotarem sem reticências três sul-africanas e uma tswana.

E graças a elas o nosso país saiu da prova com quatro medalhas de ouro, embora não contassem para a classificação final que colocou no pódio Botsuana, em primeiro, África do Sul, em segundo, e Angola, em terceiro. O nosso país não conseguiu subir ao pódio por não ter ganho ouro em masculinos, o que Angola conseguiu no último dia da prova.

Da preparação dos nossos pugilistas para o “Africano” de Pretória, se pode depreender que ainda se deve reflectir sobre o que queremos com o nosso desporto.

Basta da retórica de que “não há dinheiro”, que à última hora é desembolsado como se alguém o fizesse por favor próprio. E tudo se faz em cima de joelhos, sem perfeição, o que origina resultados desfavoráveis.

O que voltou a acontecer com o boxe podia ser evitado. Os seleccionados não puderam ter uma preparação digna de mérito, porque a Federação Moçambicana de Boxe (FMBoxe) nada podia fazer sem dinheiro do Fundo de Promoção Desportiva (FPD) a tempo e horas.

Do que se chamou de preparação deixou muito a desejar, pois engana-se quem pense que o boxe se treina melhor no chão ao invés de se fazer no ringue.

Não se justifica que os “ringues” dos X Jogos Africanos de 2011 continuem guardados no Estádio do Zimpeto para que não se estraguem. Ao contrário disso, esses equipamentos se vão enferrujando e se estragando por não estarem a ser utilizados.

É neles que os nossos pugilistas deviam treinar com regularidade e fazer provas sistematicamente. Essa é que seria a preparação ideal para o que temos estado a almejar, sucesso desportivo.

Pela fraca e boa produção dos nossos pugilistas (homens e mulheres) houve dois culpados: FMBoxe, que pode dividir o prémio com o MJD, e Lucas Sinóia.

A FMBoxe porque não proporcionou preparação adequada aos atletas. Lucas Sinóia porque não se deixa levar pela inoperância dos outros e fica dia e noite a dar treinos a quem se aproxima da sua academia, na Escola Secundária Francisco Manyanga. Aquelas mulheres que se tornam invencíveis em África são treinadas por si.

E graças a esse empenho e a essa dedicação pelo desporto, por parte de Sinóia, os países da região tiveram que ficar em sentido por quatro vezes para ver a nossa bandeira a ser içada e ouvir o nosso hino a ser cantado. Obra de um homem e quatro mulheres!

Lucas Sinóia mais

regrado que os atletas

Fazer parte de comitiva é sempre uma boa oportunidade para o jornalista conhecer mais dos seus componentes e tirar ilações pertinentes.

Em Pretória foi possível observar que o treinador Lucas Sinóia, por exemplo, faz tudo para continuar aquele desportista, outrora atleta, de vida regrada, que sabe quando descansar, comer, dormir, fazer desporto e brincar.

Sinóia foi capaz de não se ausentar do hotel na noite de folga, anterior aos combates, em que as suas atletas entrariam em acção pela primeira e única vez na prova.

Durante e depois dos combates mantinha as suas atletas longe de qualquer agitação e sempre em conversa com uma e outra sobre como se comportar e como devia ter agido no ringue.

Isso mesmo, Sinóia cuidava das suas atletas todo momento. Não queria que nada desagradável acontecesse com elas. Até parecia de pai para com filhas.

Mesmo aos atletas masculinos, treinados pelo “humorista” treinador Elísio Manhiça, ele impunha disciplina. Exigia que fossem dormir cedo, incluindo aqueles que já tinham combatido e afastados do pódio.

Na noite de despedida, Sinóia não quis seguir para o local de diversão escolhido por alguns elementos da comitiva. Quando soube do destino pediu para descer do carro e voltar para o hotel, alegando que tinha relatório por elaborar. Ele é também da Missão Moçambique pelas modalidades individuais.

Para muitos pugilistas e treinadores Lucas Sinóia devia constituir verdadeiro exemplo de desportista de vida regrada, sempre pela causa nacional.

Carro avariado…

e passaportes confiscados

A viagem da comitiva de boxe para Pretória não foi fácil. Teve muitos transtornos e vaivéns. Houve atraso na partida, 21 de Abril, e não só. Houve quem tivesse ficado em terra à espera de dinheiro.

Atletas, treinadores e dirigentes seguiram em três carros pequenos, dois alugados e um privado. Teriam viajado melhor num autocarro de 35 lugares, onde caberia toda comitiva.

Porque a “libertação” de dinheiro do Fundo de Promoção Desportiva (FPD) atrasava, o presidente da FMBoxe, Benjamim Uamusse (Big-Ben) teve que ficar em Maputo. Só no fim da manhã de 22 de Abril é que os “fundos” foram disponibilizados.

Nesse mesmo dia, ele, presidente da FMBoxe, e o repórter do domingo, finalmente, seguiram para o território sul-africano. Pelo caminho receberam a informação de que em Pretória os passaportes dos moçambicanos tinham sido confiscados no Hotel destinado a hospedagem de todas as comitivas. Porquê? Por falta de pronto pagamento.

Era preciso que o presidente da FMBoxe se apressasse com o dinheiro. Às correrias Big – Ben procurava chegar mais cedo a Pretória. Mas o seu carro não aguentou! Numa curva a cerca de trinta quilómetros de Nelspruit avariou.

Era noite. Ficamos sós na escuridão. Não tínhamos como sair dali. Mas África do Sul é África do Sul. De repente chegou um carro policial, do qual desceram dois polícias que depois se foram embora prometendo que comunicariam a TRAC para o socorro imediato. Nenhum socorro aparecia. Milagrosamente vimos um carro a parar enfrente do nosso.

Do interior desse carro saiu um homem branco falante de português que vivera em Moçambique. Depois de lhe ter sido contado a desgraça, ligou para a TRAC. O senhor Pedro se despediu com a esperança de que os amigos moçambicanos seriam socorridos.

Veio um camião “break down” moderno com apenas um ocupante. O carro de Big-Ben foi transportado até Nelspruit, mediante a um pagamento combinado. No dia seguinte, a mando do motorista do “break down”, vieram ter com os moçambicanos dois mecânicos. Afinal, os tipos pouco entendiam de mecânica. Não conseguiram recuperar o carro, mas pediram que fossem pagos 600 randes, porém, só receberam 400.

De Pretória veio carro da comitiva moçambicana socorrer o presidente da federação e o jornalista do domingo. Finalmente, o dinheiro chegou a Pretória e os passaportes dos compatriotas foram libertados.   

Quem ganha com os atrasos

na atribuição de dinheiro?

Quase todas as federações reclamam pelo atraso na atribuição de dinheiro para as deslocações ao exterior. É sempre venham amanhã ou depois de amanhã.

Os emissários das federações cansam-se de ir ver as “meninas” do Fundo de Promoção Desportiva (FPD) ou do Instituto Nacional do Desporto (INADE) aos celulares.

É uma situação antiga, que tem contribuído para que as federações façam tudo à última hora e em cima de joelhos, criando murmúrios no seio das comitivas.

Se a referida situação não se corrige é porque, eventualmente, pode estar a beneficiar certas pessoas, podendo ser elas do FPD ou das federações. É que, onde tudo é feito em cima de joelhos e de forma organizadamente atabalhoada nada é claro aos olhos de todos, sempre com a justificação de que o dinheiro saiu tarde.

Se anualmente as federações nacionais celebram contratos-programas com o MJD (através do FPD), então por que razão sempre há atrasos na atribuição de fundos para as selecções nacionais se prepararem e viajarem condignamente? As federações não apresentam os calendários das provas de que o país se propõe a participar?

Se é verdade que são as federações que entregam tarde os seus planos, talvez para proveitos inconfessáveis, o que o MJD já vez para travar esse mau costume? 

Texto de Manuel Meque

 

 

 

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