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Feizal continua presidente de futebol?

Por admin

Gente de Morrumbala gosta muito de futebol. Mesmo lá nas zonas recônditas quando a rapaziada se reúne para uma peladinha, mulheres e homens, dentre crianças, jovens, adultos e velhos se juntam para assistir e puxar por um e outro grupo.

“Esta semana temos jogo”?, esta é a pergunta que é me feita por todo lado onde passo quando estou de férias em Morrumbala. Por vezes me aborreço, mas acabo compreendendo que eu sou para eles o Feizal Sidat deles, esse presidente da Federação Moçambicana de Futebol (FMF), único que já pós os pés naquele distrito da Zambézia, que outrora incluía Derre, hoje novo distrito.  

“ Chefe, aquele senhor, chamado Feizal Sidat, que há anos veio cá consigo oferecer-nos bolas ainda é dirigente máximo do futebol deste país?”, outra pergunta que me fazem quase todos os dias. Quando digo sim, me perguntam se ele (Feizal) já não tem mais bolas para lhes oferecer.

Aos fins-de-semana, primeiro se vai à missa. Cada um na sua igreja, todos vão orando para o seu bem-estar. Para a pequenada que possui campo e bola nas suas aldeias, depois do encontro com Deus segue-se a jornada desportiva. Joga-se, joga-se até ao anoitecer. É assim por todo lado, futebol aos pontapés, sem regras nem regulamento, mas é isso que é possível onde o Governo do desporto não chega.

“ Porque é que nas províncias e distritos não há directores de desporto”, uma pergunta que não esperava ouvir de um professor secundário, secundado por tantos colegas. Mais do que isso, um rapaz que não cheguei de saber o que faz rematou: “E será que o nosso país tem ministro do desporto?” Eu mantinha-me calado à espera de mais uma pergunta quando alguém entendeu responder por mim.

 “ Talvez o presidente Nyussi traga inovação e indique pela primeira vez um ministro para o desporto e esse indique directores provinciais e distritais do desporto.”

Já estava a ficar farto de ouvir coisas sem pés nem cabeça. Retorqui dizendo que sempre existiu ministro de desporto com funções alargadas à juventude.

“Senhor, não minta para nós! O que tem existido é Ministério da Juventude com tarefas alargadas ao desporto, razão pela qual aqui no distrito não existe nenhuma direcção com designação de desporto. O que existe é Direcção de Serviços Distrital da Educação, Juventude e Tecnologia. Se por aqui se pratica desporto é mais pela popularidade do futebol, que todos gostam, quer sejam intelectuais, quer sejam analfabetos ou camponeses.” Fiquei de boca aberta.

“Aquilo, no fundo, no fundo é somente Direcção Distrital da Educação. O resto não é nada. Qual juventude, qual tecnologia é protegida aqui em Morrumbala?”, outra verdade que não conhecia.

Eu próprio mudei o rumo da conversa, questionando a todos se não seria bom que criássemos um clube que fosse capaz de dar oportunidade a todo o talento emergente nas aldeias de modo a que no futuro possamos ter uma equipa nos campeonatos provinciais e nacionais de futebol, sobretudo no Moçambola.

“Ter um clube passa por ter patrocinadores. Aqui em Morrumbala ninguém patrocina o desporto, nem o Governo nem os comerciantes. Todos ignoram a importância do desporto. Se lhes falar de Moçambola são capazes de te chamarem de maluco. E se lhes for pedir apoio para a criação de um clube, vão te considerar de alguém sem vergonha e que pretende comer à custa do que ganham os outros. Melhor é continuares a trazer bolas e colocá-las à disposição das crianças, dentre as quais um dia poderá emergir um talento que chegado à cidade pode se tornar numa estrela.” Opinião de quem bem conhece a realidade local.

“Meus amigos, não podemos esperar que os da cidade um dia cheguem aqui à busca de talento. Lá só se fala de falta de dinheiro, mas muitos vivem desviando o dinheiro que o desporto produz”, avisei.

Manuel Meque

 

 

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