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Clube de Gaza equaciona fechar equipa sénior

Por admin

A crise financeira que se instalou na equipa sénior de futebol do clube de Gaza poderá implicar uma interrupção de actividades por um ano, devendo regressar à competição apenas em 2016, conforme nos revelou o presidente da Mesa de Assembleia-geral (AG) do clube, Mansur Daúde.

O encerramento das actividades da equipa sénior de futebol de Clube de Gaza é uma hipótese forte. A colectividade não tem dinheiro e não está a encontrar parceiros para aguentar-se.

Nada ainda se decidiu em definitivo. A decisão sairá da segunda ronda da Assembleia geral do clube a decorrer brevemente. domingo ouviu Mansur Daúde, presidente da Mesa de Assembleia Geral,  para compreender melhor o que está a acontecer.

Mansur Daúde, correm informações de que o Clube de Gaza vai retirar do campeonato provincial a sua equipa principal de futebol. Será verdade?

Bom! Na qualidade de presidente da Mesa da Assembleia Geral fui solicitado a convocar a AG, na qual se colocaram problemas de dificuldades financeira do clube, uma vez que não se fazia um trabalho interno de se aproveitar os jovens (jogadores) daqui da nossa província de Gaza.

E que opções se tomaram?

Contrataramos quinze jogadores vindos de Maputo, incluindo o treinador, facto que implicou muitos custos, dificultando a gestão normal do clube. É verdade que, à medida do possível, fui apoiando o clube através de certos empresários da praça, graças à consideração que granjeio no seio deles.

Por causa dessas dificuldades, a decisão foi de suspender a equipa sénior das competições….

Temos consciência de que não é essa a solução, mas deve-se assumir que os rendimentos do clube não são grande coisa. O centro social não está a facturar e ele vinha sendo a maior fonte de rendimento do clube. Portanto, foi no meio disto tudo que surgiu a ideia de pararmos um ano, embora pessoalmente não concorde muito, achei que eles tinham razão.

Eles quem?

Parte dos associados que participaram na assembleia geral.

Se a ideia é de interrupção, o que será feito durante o interregno?

A ideia foi de que se parasse um ano e se trabalhasse com a equipa de juniores que devia ser assegurada por jovens locais numa perspectiva de consolidar o mesmo grupo, capaz de assegurar a participação no campeonato em 2016. Foi esse o sentimento.

De que forma isso seria feito?

Com os poucos rendimentos do clube adquiridos através de quotas e de outras receitas, criar-se-ia condições para que os juniores se desenvolvessem e fossem acompanhados condignamente para termos frutos na época seguinte e, com o restante dinheiro, reabilitar-se-ia o centro social que tanto precisa.

Que intervenções requer o centro social?

Requalificar as casas de banho, o tecto falso, entre outras coisas, para depois se ampliar as lojinhas dentro do quintal do clube assim como se redimensionar o salão de festas, de modo que quando se chegasse ao final do ano, ter-se-ia bons rendimentos. Aliás, já nos apareceram pessoas com vontade de ocupar o espaço, propondo a instalação duma clínica e aproveitamento do espaço para a organização de convívios diversos.

Então, decididamente, o clube de Gaza vai parar por um ano…

Nem tanto, nessa assembleia decidiu-se que se devia dar um período de duas semanas para que cada um dos associados melhor reflectisse sobre isso até ao novo reencontro de continuidade dessa reunião. Infelizmente previa-se que a reunião tivesse continuidade no dia em que exactamente a sala esteve ocupada, uma vez que o secretário não se lembrara que a Organização da Juventude Moçambicana (OJM) tinha solicitado o mesmo espaço para outras actividades. Para além deste impasse, coincidentemente caí doente. Todavia, há perspectivas do encontro vir a ter lugar na próxima semana, significando que nada em definitivo esteja assegurado que o clube de Gaza vai parar.

Insisto, qual é o principal argumento dos associados?

A maior parte das sugestões dos associados foi mesmo a de se interromper, contudo, dentro da grandeza que é o clube de Gaza, deu-se tempo para que todos reflectissem melhor e no próximo encontro haver decisão definitiva. Foi assim que se decidiu, mas também considerando que alguns sócios considerados ferrenhos e muito influentes não estavam nesse encontro.

Que implicações pode ter a ausência do Clube de Gaza no campeonato provincial?

Seria um risco maior o clube de Gaza não competir. Seria um risco não só para o clube como para mim próprio.

Porquê

Porque dei muito pelo clube, ou seja, desde 1975, altura em que peguei em dois adeptos ferrenhos do clube com os quais fizemos um trabalho de angariação de sócios para que a assembleia geral tivesse a sua voz.

Como foi essa angariação?

Foi um trabalho de porta-a-porta que se fez junto dos moçambicanos que observamos que eram adeptos do clube.

E nessa altura como estava o clube?

Abandonado. É verdade que tinha instalações como o cinema, o campo polivalente, o campo de treinos, mais nada. Maior parte das coisas que estão ali foi criada por mim.

Nessa altura passou logo à presidência do clube?

Bom! Passo à presidência do clube em 1977, porque antes eu me recusara já que a minha intenção não era ser presidente. Antes era apenas tesoureiro, mas vinha com o clube desde o tempo colonial pela mão dos meus patrões. Quer dizer, em 1976, depois da independência nacional, fui nomeado tesoureiro e é nesse sentido que fico sócio e angario mais moçambicanos como associados.

Que dinâmica imprimiu nessa altura?

Fui buscar o Palma Pinto que acabava de regressar da Alemanha Democrática (extinta RDA). Aliás, antes disso, tive a ideia de construir o centro social do clube de Gaza que constituiria sua fonte de rendimento assim como dinamizamos outras modalidades.

Quais?

Futebol de salão, basquetebol e andebol. Isso fez elevar muito o clube e, em 1982, devido a certos problemas, afastei-me, tendo retomado em 1985. Nessa altura, em 1986, busquei o Cândido Coelho (falecido), tendo daí o clube obtido muitos e grandes sucessos, graças aos fundos que conseguíamos angariar. Depois de Cândido Coelho buscamos sucessivamente o Urbano Pereira Loforte, José Bazar e mais tarde o Joaquim Alói.

Com quem mais gostou de trabalhar?

Com todos eles, mas sobretudo gostei muito de Joaquim Alói porque era muito trabalhador e humilde.

Como se caracterizava tal humildade?

Olha, todas as segundas feira reuníamo-nos para o balanço do jogo anterior e perspectivar o seguinte. Contribuíamos com os nossos conselhos, como Direcção do clube, ele considerava, mas nunca interferíamos no seu trabalho. Foi um bom relacionamento que tivemos com ele. Na altura também tínhamos um departamento de futebol muito forte e uma direcção à altura e tínhamos bons patrocinadores que acompanhavam o nosso atrevimento. Foi daí que surgiram os sucessos.

E hoje?

Hoje as coisas mudaram porque se operaram mudanças que levaram o clube a dificuldades como a perca de cinema devido a um incêndio. O cinema era uma boa fonte de rendimento. Nenhum clube pode pensar que só pode viver de patrocínios, deve ter uma base segura de rendimentos sustentáveis. Foi o que sempre defendi. Se o “Gaza “não entrar no campeonato vai-me custar muito.

Já não há seriedade no futebol

O antigo timoneiro do Clube de Gaza considera haver muita desonestidade no futebol moçambicano, havendo caso de jogadores que facilitam o resultado à equipa adversária.

Nos anos 80, nas Afrotaças na Suazilândia, tiveram um jogo triste em que ganhando por 3-0, acabaram perdendo 5-3. Como foi isso?

Vínhamos ganhando por três a zero e perdemos por cinco a três. O primeiro factor da derrota foi a altitude porque os nossos jovens não estavam habituados a jogar naquele clima. O que mais agravou é que, quase perto do intervalo, a defesa central, Gito, sofreu uma lesão na cabeça ao lado da orelha e jorrou muito sangue numa altura em que ganhávamos três a zero. Na sequência disso, quando voltamos do intervalo, a equipa desmoralizou-se pensando que a lesão de Gito tivesse sido fatal. Estes factores baixaram os rendimentos e acabamos empatando e até perder o jogo.

Nessa altura, o que determinou o sucesso do “Gaza”?

É que a maior parte dos jovens jogadores eram daqui da província exceptuando dois ou três que eram de Maputo, para além de que todo Xai-Xai estava envolvido no apoio ao clube. Penso que, caso se faça um bom trabalho interno nas aldeias e bairros, pode-se encontrar jovens talentosos que assegurem o clube no futuro.

Que avaliação faz da modalidade agora em Gaza?

Foi o que disse anteriormente, o futebol está em baixo porque se continua a trazer jogadores de fora. Não só no clube de Gaza assim como acontece em outras equipas da província, como é o caso do Ferroviário. Para além disso, não há sinceridade, até se vendem resultados…

Tem provas?

Sim! Isso já nos aconteceu contra o Incomáti de Xinavane e contra o Estrela Vermelha num dos certames da “poule” de apuramento.

Como foi isso?

Na hora da verdade, um defesa nosso quase no final do jogo, com empate assegurado, inexplicavelmente, mete a mão à bola. Marcou-se um penalte e perdemos o jogo. Nada nos convenceu que a atitude não fosse propositada e mandamos embora o jovem. Este é um pequeno exemplo de desonestidade que se expande a muitos outros actores. Já não há seriedade no futebol!

Artur Saúde    

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