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Algumas das razões da doença profunda

Por admin

Os “Mambas” estão doentes? Ou será todo futebol moçambicano que padece de graves enfermidades? Ou ainda todo o “edifício” desportivo é que não está 

bom de saúde? 

Os adeptos moçambicanos, imbuídos do melhor dos patriotismos, buscam explicações, umas aprofundadas, outras nem tanto, sobretudo após os 4-0 frente a Marrocos. Diz um ditado popular que para grandes males, só grandes remédios. Grandes e de longa duração – dizemos nós. Paliativos, como sejam a substituição do técnico, do Presidente da Federação ou de um ou outro jogador, apenas permitirão disfarçar uma doença que retornará a breve trecho, aguardando nova entrada em coma.

Assim, estamos em crer que as terapias terão que ser de longa aplicação, sustentadas pela entrega, rigor e paciência de todos!

E estas ultrapassam, seguramente o 2.º andar do Fonte Azul.

Dinheiro E Poder: EstesSão Os Seleccionadores

Há cerca de 12 anos, na companhia do então Presidente da FMF, Mário Guerreiro, quis saber do Presidente da Federação ganesa, quantos jogadores tinham eles, espalhados pela Europa, com nível para integrar as Selecção daquele país.

A resposta tardou. O líder federativo do Gana revirou-se na cadeira, apelou para a sua memória e acabou dizendo:

– Olhe. Nos grandes clubes da Alemanha, Itália, Inglaterra e Espanha, seguramente uns 250!!!

Ficámos pasmados. Nós, naquela altura, tínhamos Chiquinho Conde, Paíto e Gonçalves Fumo no Sporting de Portugal, Dário Monteiro na Académica, Avelino, Tchaka-Tchaka e Jojó também na I Divisão lusa, Nuro no Chipre, Paulino, Faife Jossias e Tico-Tico, na África do Sul, Mano no Egipto, como principais seleccionáveis para os Mambas.

Sentiamos então Moçambique no auge e considerávamos o nosso leque de escolhas variado. A Machava era o “cemitério” dos visitantes.

Face ao que ouvímos, não disfarçámos o espanto.

Mas isso foi há pouco mais de uma década. Hoje, que campo de recrutamento tem a nossa Selecção Nacional?

Simão, num clube da China que poucos conhecem; Paíto, sem clube, Jerry e Jumisse em clubes de pouca expressão, Miro Genito e Kampango, de regresso para uma merecida reforma. Apenas Mexer e Dominguez parecem ser excepção, sem contudo serem estrelas reluzentes dos campeonatos onde actuam.

Uma Realidade Mundial

Hoje em dia, quem faz as Selecções Nacionais de quase todos os países, são os grandes clubes. Atentemos no caso de Portugal, que integra o “top 10” da FIFA. De onde vem a equipa de Paulo Bento? Tirando o guarda-redes Rui Patrício e João Moutinho (até quando?), os restantes futebolistas vêm dos grandes clubes europeus. E é assim na Argentina, Brasil, Egipto, Marrocos, Camarões e muitos outros.

É o poder do dinheiro, é a força irresistível dos orçamentos milionários, é o poder dos empresários FIFA, é a lei do mais forte, onde nem algumas potências económicas conseguem resistir.

Aos grandes campeonatos, afluem os maiores “activos”. O Mundial de Futebol, nos dias que correm, não passa de um desfile das estrelas dos grandes clubes, que momentaneamente trocaram as camisolas habituais dos milionários pelas dos seus países.

Quem somos nós para sermos diferentes?

Moçambola: “Bolada” Da Imprevisibilidade

O nosso Moçambola, é uma competição muito pobre e sem condições para produzir atletas para “exportação”. Pobre em tudo. Desde logo, começando pelo piso dos campos em que a maior prova do país é disputada e acabando nas condições dos balneários, as físicas e não só.

Como fazer bom futebol, quando se suporta uma “impensável” viagem de 900 quilómetros para ir, e outros tantos para regressar, semanalmente, como é o caso do Vilanculos, só para falar do exemplo mais gritante?

Com uma prova em que o Centro e Norte se “abastecem” em regra de jogadores que ficaram de fora dos plantéis dos principais clubes de Maputo; em que os resultados são mais do que previsíveis; em que os departamentos médicos não passam de sectores “para inglês ver”…

Que futebol queremos?

Não há dúvida que são os clubes grandes quem faz a pré-selecção, ao longo do país. Os seus orçamentos e os seus olheiros facilmente detectam os talentos e, naturalmente, não fazem mais do que corresponder aos seus anseios. Mas a competição e as exigências internas são débeis.

Depois, vem o sonho de brilhar noutros campeonatos, fora do país. Quem não gostaria?

Esta é a lógica e a prática no futebol actual. Não há lugar para que algum super-talento fique escondido numa província, à espera do olho descobridor do Seleccionador. Nem para depois, num grande, possa ceder aos olhares gulosos dos empresários/FIFA. Ele é procurado pelos poderosos e, naturalmente, tem vontade de ir para as “montras” que dão visibilidade.

Não é, afinal, o futebol, uma das profissões mais bem pagas do Mundo?

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