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Quem está a rearmar a Renamo?

Por admin

Redacção

A propósito dos últimos acontecimentos no país, sobretudo a propósito dos pronunciamentos do líder da Renamo em relação à recusa do diálogo, à movimentação de homens armados em todo o país e à criação de quartéis para os seus homens, Bula Bula considera pertinente buscar hoje a história do próprio MNR/Renamo para se poder perceber o actual posicionamento deste partido armado e da sua liderança.

Manda a História que se diga, que a guerra dos 16 anos executada pelo MNR/Renamo começou por ser desencadeada a partir da então Rodésia de Ian Smith, quando este regime ilegal se sentiu ameaçado pela recente independência de Moçambique. O seu comando foi depois transferido para a África do Sul quando se começaram a desenhar no horizonte próximo os acordos de Lancaster House que puseram fim à dominação de Ian Smith e abriram portas a eleições que terminaram com a vitória de Robert Mugabe. Foi, então, que os senhores da guerra racista contra o nosso país, que nos viam como lança apontada no sul da África contra o apartheid reinante na poderosa África do Sul, a braços com a luta democrática conduzida internamente pelo ANC, resolveram servir-se da Renamo como arma estratégica.

A guerra contra Moçambique foi então comandada e dirigida pela África do Sul, como estratégia de defesa do apartheid. Moçambique constituía um mau exemplo que era necessário submeter, não conquistando-o, mas ajoelhando-o, ou tudo fazendo para colocar em Maputo um governo de subserviência aos desígnios racistas.

Com a passagem dos comandos do MNR (sigla inglesa) para a África do Sul, onde o movimento viria a adoptar o nome de Renamo, intensificou-se o uso de moçambicanos para serem infiltrados em Moçambique ao serviço dos patrões do apartheid. Os primeiros dirigentes da Renamo, escolhidos pelos generais sul-africanos, haviam sido portugueses que se refugiaram naquele país após a independência de Moçambique. O primeiro secretário-geral do MNR foi Orlando Cristina, assassinado em sua residência nas imediações de Pretória, substituído, depois, por Evo Fernandes, que viria, mais tarde, a ser assassinado, em Lisboa, a poucos quilómetros da sua residência, na então vila de Cascais. Corria o ano de 1988.

 Note- se que, também, Evo Fernandes havia sido escolhido pelos generais sul-africanos.

Entretanto, a guerra no terreno intensificava-se, uma guerra de tipo terrorista, que não respeitava populações, nem bens, nem estruturas produtivas. Morre André Matsangaíza e sucede-lhe Afonso Dhalkama. Nos entretempos, em 1984, são celebrados os acordos de Nkhomati, entre Moçambique e a África do Sul, convencido que estava Moçambique de que os sul-africanos negociariam com seriedade e o fim da guerra seria uma questão de dias. Não foi. Até Samora Machel é abatido no contexto desta guerra, com os estrategas do apartheid, nos estertores da agonia, a planearem a operação.

Só que na altura do Acordo de Nkomati, a Renamo , auxiliada, financiada e  dirigida pelas Forças Armadas Sul-Africanas, já se havia espalhado por quase todo o país, começando, por ironia da história, a desagarrar-se dos patrões que a haviam lançado e persistiam em dirigi-la. Afonso Dhlakama opõe-se, mais ou menos abertamente, a Evo Fernandes, um cidadão de origem goesa, menos enraizado no chão moçambicano, intelectual e, sobretudo, homem de relações públicas, inteiramente dócil aos comandos militares brancos.

 As autoridades sul-africanas com Pik Bota, a servir de broca, anteviam o fim do regime racista, contestado em todo o mundo, tentando, então, inverter a estratégia política, por motivos de sobrevivência, dentro da qual a Renamo não seria necessária, podendo até tornar-se um empecilho. Moçambique modificara a Constituição, renunciando ao marxismo-leninismo para aderir à economia de mercado, ao sistema multipartidário, com liberdade de Imprensa, promulgando em 1991 uma das leis mais liberais e abertas a este propósito. Previa-se para breve a libertação de Nelson Mandela, o que aconteceria em 1994, procurando os regime branco branquear-se rapidamente e em força de maneira a que os brancos não fossem rechaçados da África do Sul.

 Importa, aqui, reter, que os brancos sul-africanos, ao contrário do que acontecia com os portugueses nas colónias, não tinham outra pátria que não fosse aquela. A luta do ANC não tinha como finalidade descolonizar o seu país, que não era colónia, mas tão somente acabar com o regime racista, de maneira que os homens de todas as raças, fossem cidadãos de pleno direito e igualdade . Botha e De Klerk viram na política de igualdade a melhor forma de salvarem a “etnia branca”.

A Renamo, mais ou menos presente em todo o território nacional, tenta, também, desagarrar-se dos seus patrões e actuar, pouco a pouco, por conta própria, esforçando-se por aparecer internacionalmente como combatente da liberdade contra o regime de partido único de cariz marxista-leninista, congregando à sua volta o descontentamento de algumas populações e algumas simpatias internacionais, já que não acreditavam facilmente na Constituição de 1990. O Apartheid moribundo favorecia esta nova visão, continuando, no entanto, a municiar com armas e bagagens a Renamo,  embora sem lhe proporcionar demasiadas asas.  No seu interior, havia propensões do tipo nacionalista que se acentuavam cada vez mais, e a maioria dos seus combatentes e até dirigentes não perfilhava a ideologia racista. A Renamo ia servindo os senhores do apartheid como arma para fragilizar ao máximo a Frelimo e respectivo governo, embora já estivesse clara de que queria conquistar o poder em Moçambique. Este tipo de aliança entre a Renamo a fortalecer-se nacionalisticamente e o apartheid a antever o fim próximo, não passava de concubinato, cada qual a desconfiar das traições do outro.

Vendo hoje os posicionamentos da Renamo, há que perguntar se DHL não terá ido à busca do seu cordão umbilical conservado entre gente inimiga de Moçambique e retrógrada, alguma da qual esteve ligada ao movimento setembrista que tomou a Rádio Clube de Moçambique e queria proclamar uma independência unilateral à moda dos brancos rodesianos, aliando-se (a Renamo) a outros interesses e estrategas profissionais de desestabilização que não querem ver paz nenhuma em nenhures e sobretudo aqui em Mocambique?

É que não é preciso ter lupa para se aperceber que a Renamo está a ser rearmada ou (já foi rearmada). É só ler as declarações do seu próprio líder e ver os seus movimentos pelo país. Quem o rearmou? Com que interesses o fez?

Uma das coisas que saltam à vista, em redor de Dhlakama, é que possui ali uma frota de veículos novinhos em folha e se gaba de estar a distribuir milhões aos seus homens armados, cujo propósito parece ser ofuscar o Fundo de Paz e Reconciliação, criado em Setembro passado, depois do acordo do fim das hostilidades militares. Donde é que vem esse dinheiro, ninguém sabe. Ele próprio tratou de dizer que não era dinheiro da Renamo. Era dele mesmo, porque a Renamo “não tem dinheiro”.

Nos ditos de DHL figuram aquelas em que disse que iria governar a todo o custo e à força e quem viesse “incomodar” iria “apanhar”, porque ele possui os melhores comandos do mundo que sabem “matar”. Com que meios? Quando foram treinados? Quem os treinou? Onde os treinou? porquê? e para quê foram treinados tais comandos, isso está no segredo dos deuses, (ou melhor de Dhlakama e dos seus financiadores).

Bula Bula que está sempre atento, procurou analisar o alcance desses ditos e melhor ainda o alcance de certas movimentações. E sobre ditos já estamos falados e sobre movimentações ainda há muito por dizer.

Uma destas é a que foi feita por um certo chanceler controverso de um país ocidental a Nampula, a 27 de Maio do corrente ano, onde manteve um encontro com o líder da Renamo, no complexo Copacabana, que segundo algumas hostes da própria “perdiz” terá injectado para DHL qualquer coisa como meio milhão de dólares. Outra movimentação interessante é de um estafeta tuga que levou para Tete, na última estada de DHL ali, no último mês de Agosto, ao Hotel onde este estava hospedado, qualquer coisa como um milhão de euros, doados pela mesma gringada figura caridosa com o líder da perdiz.

O estafeta tuga em questão está ligado a áreas de flora e fauna bravia na zona da “parte incerta” onde Dhlakama esteve encavalitado no ano passado.

Não é por acaso que agora o líder da perdiz contabiliza dezenas de viaturas que as adquiriu e as espalhou por todo o país e assina cheques milionários à vista de todos. Treina, equipa e alimenta homens armados que também estão espalhados por todo o país, prontos para uma nova guerra, de modo a transformar o país num caos que a Renamo já nos habituou e que não queremos ver repetido.

Para confundir a população, os homens armados da Renamo usam fardamento idêntico à dos guardas florestais.

 

 

 

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