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O chinês descamisado e o polícia manhoso

Por admin

O episódio se desenrola em plena avenida Paulo Samuel Kankhomba, uma das mais movimentadas artérias da cidade de Nampula, urbe que acolhe nativos,

 mas também um número crescente de gente de todas as origens, internas e externas.

Bula-bula também circunvagou por esta cidade há dias, deixou-se misturar com gente anónima e conhecida, enquanto a canícula fazia das suas nos corpos de todos.

Se uns adoram o verão e suas temperaturas elevadas, que fazem transpirar até a quem está imóvel debaixo duma árvore frondosa, outros simplesmente se sentem sufocados e desesperam enquanto procuram uma cobertura fresca.

Nesta mescla de apreciadores do calor abrasador e dos que preferem dias em que “não há temperatura”, um cidadão, de origem chinesa, entende dar uma volta ao quarteirão onde se localizava a sua hospedagem de tronco nu, tendo a camisa amarrada à cintura.

Com ar descontraído, o nosso chinês foi caminhando por entre a multidão na maior leveza. Tanto mais que boa parte dos moçambicanos vê nos chineses a imagem e semelhança de Bruce Lee, Shaolin, Jack Chan, entre outros, pelo que, aquele homem descamisado, gerava entre os que o viam passar um misto de medo e curiosidade.

Mesmo assim, e certo de que o calor poderia ser a mais perfeita desculpa, o cidadão chinês foi caminhando entre a multidão, na avenida Paulo Samuel Kankhomba.

O que ninguém imaginava, nem mesmo Bula-bula, era que dois agentes da Lei e Ordem faziam o seu giro na esquina a seguir. Portavam as suas AKM e mantinham aquele seu ar maroto e desconfiado. Mal viram o cidadão chinês de tronco nu, puseram mãos à obra e, como é de praxe, solicitaram a documentação de identificação. A conversa se tornou de surdos.

– Documentos!
– ¤¥§*¿¡# – dizia o cidadão chinês.
Perante aqueles agentes que já mostravam sinais de desgaste, o visitante sacou o passaporte e depositou nas mãos de um dos polícias.

– Agora vamos para a esquadra! – disseram-lhe os agentes.
Perante o quadro que começava a ser de poucos amigos, o “infractor” asiático começou a perder a postura e a tentar esgrimir argumentos que ninguém entendia, nem Bula-bula, que se misturara na multidão, para ver aquele “vestido apodrecer”.
– §¥*#¤¤¥§¿¿**#### – insistia o chinês.

Porque o clima começava a se tornar complexo, Bula-bula entendeu intervir, ao que os agentes anuíram sem problemas. “Este senhor está a circular sem camisa aqui na nossa Pátria Amada, nesta Pérola do Índico. Se um moçambicano for para a terra dele pode circular sem camisa?” – argumentavam os agentes.

O argumento até mereceu um breve aplauso dos mirones, mas havia a necessidade de tipificar o crime e um dos agentes logo soltou: “É atentado ao pudor”.

Dissemos que o crime de atentado ao pudor poderia se consumar se o chinês tirasse as calças. “Poderia classificar como tentativa de atentado ao pudor”, mas não há provas de que o infractor tivesse manifestado vontade de consumar o crime.

Sem mais argumentos, os agentes devolveram o passaporte ao chinês e partiram para outro ponto de vigia.

A população dispersou e o chinês, suspirou todo aliviado, fez uma vénia e disse algo de tipo: “#~&^§¥*¿*+#¤©®:-s>:-(§§§#”.  Aos nossos ouvidos isto soou a “Obrigado”!

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