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O regresso da “Xirosana”

Por admin

A capulana é uma peça que acompanha a mulher moçambicana e, quiçá, africana, por tudo quanto é lugar. Dá-lhe cor, alegria, beleza e ajuda-lhe na ginga. É coisa puramente de mulher. Só elas entendem o que cada estampa significa e para que ocasião. Recentemente entenderam tirar do fundo do baú velhos modelos e, num ápice, o país ficou inundado de “xirosanas”, entre outros tipos da “velha guarda” que narram estórias e momentos que só o mundo feminino decifra.

A capulana é uma peça antiga e multiuso. É tradicionalmente usada pelas mulheres para cingir o corpo, sendo que outras optam por mandar costurar saias, blusas, vestidos, calças, lenços (de cabeça) e até acessórios como bolsas, entre outros. Em todas as regiões do país ela é usada de diversas formas. Sendo possível encontrar em lojas formais, bem como nos vendedores ambulantes.

O modelo “xirosana”, capulana de fundo azul, creme ou castanho, com rosas estampadas de forma salteada, fez furor em finais da década 70 e primórdios de 80, quando lojas como a Casa Elefante, Gulamo Hussene, Pandia e Casa Cacilda, todas localizadas na cidade de Maputo, acolheram milhares de mulheres determinadas em ter o modelo mais badalado da época.

Entretanto, e passado algum tempo, aquela peça caiu em desuso. Aliás, a moda funciona assim mesmo. Vem, vai e volta. E, como era de esperar, de alguns tempos a esta parte, aquela capulana ganhou vida e voltou com toda a força para as paradas da moda.

Na verdade, hoje é praticamente impossível circular pelas avenidas, ruas, caminhos e becos, ou estar em festas e cerimónias fúnebres sem cruzar com uma mamana trajada de “xirosana”.

A nossa Reportagem saiu à rua com vista a apurar as razões que levam tantas mulheres, de diferentes idades e status sociais, a aderirem a uma capulana tão antiga. As de meia-idade não esconderam que através daquele tecido revivem um pouco do seu passado.

Lina Guedes, de 54 anos de idades, nos revelou que a “xirosana” é muito importante para si, pois traz lembranças da sua juventude e de muitos momentos alegres que passou na vida. “Quando entrei na loja, dei de cara com a capulana e não pensei duas vezes. Comprei “sem pestanejar” porque é muito bonita. Foi um reencontro com muitas lembranças. No passado tive até um mucume (conjunto de quatro capulanas) que depois perdi”, disse.

Para Ermelinda Conde, a capulana “xirosana”, é algo que lhe alegra alma. Usei nos meus tempos de adolescência e juventude, por isso agora que voltou, tomei a decisão de comprar. Penso que todas as mulheres revivem grandes momentos da sua vida quando amarram esta capulana”, referiu.

domingoconversou com a gestora da Casa de Elefante, Meera Ranchoddas, que afirmou que as capulanas antigas geralmente têm mais procura, uma vez que são célebres e as senhoras de uma idade já avançada gostam porque buscam lembranças. Enquanto isso, as jovens procuram porque foram usadas pelas suas mães.

Para além dessa capulana “xirosana”, temos outras que também são muito procuradas e que fazem sucesso entre as mamanas, como são os casos de chitae âncora, disse.

A nossa interlocutora afirmou ainda que “algumas mulheres trazem capulanas antigas para copiarmos e, posterior, mandarmos para a Índia onde são reproduzidas. Em alguns casos, são feitas pequenas alterações com vista a actualizá-las mas, procuramos manter os traços originais.

Reza a história que a capulana também designada por kanga, pano e pagne, surgiu no Quénia em meados do século XIX mas, há versões que indicam que os mercadores portugueses comercializaram lenços estampados provenientes da Índia, muito apreciados na África Oriental. Aliás, consta que desde o século XVII os tecidos indianos eram importantes moedas de troca e fontes de receitas no comércio entre árabes, portugueses e africanos.

Maria de Lurdes Cossa

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