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Já se justifica a presença da Zambézia no Moçambola

Por admin

Mariza é uma mulher do futebol. Discute a problemática da modalidade de igual para igual com os seus colegas do sexo masculino. Critica quando pode e elogia quando merece. Trabalha tranquilamente com as dificuldades que fustigam o desporto nacional, sobretudo ao futebol da Zambézia, cujo campeonato provincial envolve apenas Morrumbala, Mocuba e Quelimane.

Estamos a falar da presidente de Associação de Provincial de Futebol da Zambézia, Mariza de Rosário. Ela faz dos clubes da Zambézia seus filhos, a quem os dedica todo amor de mãe. Dois desses filhos, Ferroviário e Palmeiras, ambos de Quelimane, estão na “poule” da Zona Centro, o primeiro com possibilidade de ganhar o “bilhete de ingresso” ao Moçambola de 2014. Mariza quando pensa nessa possibilidade quase que pula de alegria, que pode vir a encher de lágrimas os seus olhos. Aliás, o seu maior sonho é terminar o seu mandato, em Abril de 2014, com a Zambézia no Moçambola.

A entrevista que segue aconteceu em Maputo, à margem da II Conferência Nacional do Futebol, realizada nos dias 16 e 17 de Outubro. Tudo sobre o futebol da Zambézia.

Talvez importe dizer que antes de assumir o cargo de presidente da associação de futebol da Zambézia, Mariza de Rosário foi dirigente no ex-Clube Saguari de Quelimane e no Clube 1º de Maio. Seu dinamismo no tratamento das coisas de futebol levou com que a ela fosse confiada a tarefa de reestruturação da modalidade, com olhos postos no futebol, tarefa que começou e que ainda está muito longe de concluir. Admite não se recandidatar para segundo mandato.

Qual é a saúde do futebol da Zambézia?

A saúde do futebol da Zambézia é óptima e caminha num bom caminho, como provam as equipas da poule 2013, o que nos dá esperança de que chegaremos lá.

Tem mesmo essa esperança…?

Claro! Chegaremos ao Moçambola, com a vantagem de jogarmos as três últimas jornadas em casa.

Como diz que a saúde do futebol zambeziano é óptima, se o seu campeonato provincial só abrange as cidades de Quelimane e Mocuba e a vila de Morrumbala?

Nunca foi por falta de vontade nossa o alargamento do campeonato provincial. Contamos com a inclusão de Namacurra. Ainda bem que falou de Morrumbala, onde nós deploramos as condições do seu campo.

Quer dizer que aprovaram um campo inadequado para o futebol? Veja que está vedado!

Está vedado minimamente. Se aceitamos que nele se realizem jogos oficiais, é mais por uma questão de abrangência do campeonato provincial. Só por isso incluímos Morrumbala no campeonato. O seu campo tem piso horrível, mas, enfim! O distrito de Alto-Molócuè já nos pediu para participar no campeonato. Tem um campo vedado e com bom piso.

Quer dizer, no campeonato provincial da Zambézia participa quem quer e não quem é apurado?

Não basta querer, há exigências.

Quais são as exigências ou como Zambézia apura participantes do seu campeonato?

O clube tem de ter estatutos devidamente reconhecidos, no mínimo com dez assinaturas e ter um elenco legalmente constituído.

Tem a certeza de que a União Esperança de Morrumbala tem estatutos reconhecidos e elenco devidamente constituído?

Tem, até porque nós comunicamos por carta a todos os clubes aquilo que eram os requisitos de inscrição para o “provincial”.

Se eu amanhã aparecer com a minha equipa registada e com um elenco directivo em conformidade com a lei, participo no campeonato provincial, sem nunca ter participado em nenhuma outra prova?

Inscreve-se, sim, desde que nos apresente um elenco com pessoas idóneas a quem se possam exigir responsabilidades.

Portanto, os participantes do “provincial” não são os campeões distritais, mas sim voluntários. É mesmo isso?

Na verdade não são campeões distritais, apesar de haver campeonatos distritais recreativos. As equipas vencedoras nem sempre têm condições de participar no “provincial”. Dizem-se pobres de dinheiro para as deslocações.

Explique-se bem: quem participa no campeonato provincial da Zambézia?

Em principio nós queríamos que fossem os campeões distritais, mas esses dizem que não aguentam com as despesas. Então, aqueles que se julgam capazes inscrevem-se. Repare que até os clubes de Quelimane enfrentam muitas dificuldades que nós as conhecemos.

A associação tem “pernas” para andar para todos os distritos e inteirar-se das dificuldades locais que afectam o futebol?

Por vezes, porque pernas não temos para grandes aventuras. Temos chegado a alguns distritos, empoleirados nas caravanas das equipas. Temos um delegado em Morrumbala e o outro em Mocuba, pelo que não é necessário fazer deslocar alguém para aqueles dois distritos.

As equipas que frequentam o “provincial” zambeziano têm existência legal?

Minimamente. Nós somos exigentes. Se não fôssemos exigentes este ano a cidade de Quelimane se faria representar por treze equipas, mas tivemos que dizer você não, este sim, para além de que não temos campos para um campeonato com muitas equipas. Estamos a utilizar o campo do Ferroviário para o escalão sénior e o campo do Sporting para as camadas de formação. E com a participação na “poule” de apuramento, ficamos mais apertados em infra-estruturas.

Formação precisa

de fundos que faltam

E o futebol feminino, como vai?

O futebol feminino vai bem. Temos duas equipas em Mocuba e seis em Quelimane. A União Esperança de Quelimane é bicampeã provincial (já é tricampeã).

A União Esperança de Quelimane ou de Morrumbala?

Atenção, temos União Esperança de Morrumbala e temos União Esperança de Quelimane.

Quando posso estar na Zambézia tenho verificado falta de monitores de futebol. Tudo (treinamento e arbitragem) é feito empiricamente por gente que não tem quem os ensine o que não sabem. Que tem feito a associação para inverter a situação?

Para haver formar tem de haver fundos. Temos projecto para isso, mas como concretiza-lo sem dinheiro? Estamos a trabalhar com um grande empresário local, David Ramos dos Reis, na formação de árbitros. Já estivemos em Mopeia, Gúruè e Mocuba e estamos a tentar fazer o mesmo em Morrumbala. Com parceria da Direcção Provincial da Juventude e Desportos. Com a Fundação Lurdes Mutola conseguimos formar treinadoras que trabalham nas escolas. Curiosamente, nessa formação apareceram alguns rapazes de Quelimane que acabaram sendo formados.

O repórter e a entrevistada

Governo provincial apoia

 com dinheiro e material

De que vive a associação que preside?

Vive de patrocinadores de boa vontade. Vive da filiação dos clubes, apesar de alguns estarem em dívida connosco.

 O que dá a federação?

Os nossos principais parceiros são a Direcção Provincial da Juventude e Desportos e o empresário David Ramos dos Reis.

A Direcção Provincial da Juventude e Desportos apoia-nos em valores monetários, paga a utilização dos campos…

Quanto dá?

Não é muito, mas é um contrato-programa que dá minimizar. Com o antigo director recebíamos anualmente sessenta mil meticais. Com o actual foram oitenta mil meticais anuais. Neste momento o Governo está a apoiar os clubes que estão na poule de apuramento. A nossa província é exemplo de onde o Governo apoia o futebol. Palmeiras de Quelimane, que não tem nada, tem alocado pelo Governo, condições para a sua deslocação, alimentação e alojamento, dentro e fora da província. O Ferroviário de Quelimane, que tem condições disponibilizadas pelos Caminhos de Ferro de Moçambique, recebe da Direcção da Juventude e Desportos combustível para a sua deslocação até terminar a “poule”. Portanto, aquilo que o Governo dá é muito mais do que oitenta mil meticais anuais. Todos nós achamos que já se justifica Zambézia estar no campeonato nacional de futebol.

Como mulher, sente ser difícil dirigir o futebol?

Dirigir o futebol não é tão difícil. O que não se deve fazer, é cada um “remar para o seu lado.” Há regulamentos que devem ser cumpridos. Chega-se a altura em que as pessoas querem ditar suas leis no futebol. Felizmente, todos me tratam de igual para igual.

Acha que os homens do futebol da Zambézia respeitam a sua voz de comando?

Acho que sim. Alguns dizem que por ser mulher todas as portas se abrem. Confesso que tenho sido bem sucedida. Não sei se é por ser mulher.

Têm emergido talentos por apostar no futebol zambeziano?

Isso é o que não falta. Temos vinte e três equipas de iniciados. Fica difícil gerir tanta criançada descalça, sem bola e em situação precária, mas com o futebol no sangue.

Os clubes da Zambézia cumprem com a obrigação de movimentação das camadas de formação?

Sim! Nós exigimos, eles cumprem.

E a arbitragem?

É aquilo que se diz dela em todo lado. Não digo que na Zambézia seja óptima. Uns cometem asneiras por falta de conhecimento daquilo que fazem. O ano passado formamos quarenta e cinco árbitros em Quelimane, com a parceria da Direcção Provincial da Juventude e Desportos. Outros actuam mal  de forma propositada por motivos que só eles os conhecem.

E aquilo de jogadores baterem nos árbitros, tem merecido devida punição?

Não são apenas jogadores que batem nos árbitros, há vezes em que são os dirigentes. Eu já vi um dirigente a subir a rede para ir bater no árbitro auxiliar. Esse dirigente está a cumprir uma pena. Não admitimos que um dirigente vá ao campo bater o maqueiro. O que é que o maqueiro faz de mau para merecer espancamento?

Quando termina o seu mandato?

Em Abril do próximo ano.

Pensa em se recandidatar?

Não estou a pensar em me recandidatar. Tenho de me dedicar mais aos assuntos pessoais.

O futebol ocupa-lhe muito tempo?

Para além de ocupar muito, tenho emprego a respeitar na Tipografia Lusa. Se não tivesse um bom patrão, que compreende a minha profissão de recursos humanos, já teria sido expulsa por causa do futebol.

Acha que se a Zambézia subir ao Moçambola, fica por lá por muito tempo?

Claro que sim! Aquilo que se joga no Moçambola não é coisa que não se faz na Zambézia. O país vai poder testemunhar outra vez a beleza do futebol zambeziano, tal como mundo vibra pelo futebol brasileiro.

Há lá outros João Onofres?

Infelizmente, João Onofre já morreu! Idem reportar outros que emergem todos os dias. Temos alguns na Academia Mário Esteves Coluna, que espero que venham a ser bem aproveitados.

Tem boas relações com a federação.

Temos a aquela relação, básica.

Manuel Meque

Foto de Jerónimo Muianga

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