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Moçambique “dá cartas” em Harare

Por admin

O teatro moçambicano voltou, uma vez mais, a erguer bem alto a nossa bandeira num evento internacional. A peça “Psicose 4:48” de Maria Atália, mercê do sucesso alcançado na VI edição do Protest Arts International Festival (PAIF), foi convidada a participar na próxima edição do Harare International Festival of Arts (HIFA) e no Festival internacional Ponte… na Escena, Espanha.

O Protest Arts International Festival (PAIF) é um evento anual que decorre na cidade de Harare, Zimbabwe, e é organizado pelo Savanna Trust. O festival junta artistas de várias partes do mundo. A sexta edição, que decorreu sob o lema “Quebrando Correntes” contou com grupos de Moçambique, África do Sul e do país anfitrião.

Desfilaram pelo palco do Nicoz Diamond Theatre grupos como Gambelela Arts Ensemble, Jibilika Dance Company, Rumbi Tavaziva & Vibe Culture, Expressive Arts bem como solistas como Michael K, Jasen Mpepho, Doc Vikela, Zvishamiso Arts, para além da trupe moçambicana (M&A Project). Também foram realizadas oficinas de teatro, debates, sessões de poesias, palestras, música entre outras actividades.

Foram dois dias de intensa actividade cultural, com centenas de espectadores e artistas a marcarem forte presença… até porque o mote do festival é algo rebelde, uma espécie de contra-corrente, até porque surgiu em 2009, num momento particularmente difícil para os zimbabweanos que enfrentavam graves problemas sociais, económicos e violações dos direitos humanos políticos perpetrados por políticos e não políticos.

Os objectivos do festival passam por se constituir numa plataforma alternativa de promoção da liberdade de criação e expressão; um espaço para a celebração, com base em exemplos positivos, dos direitos humanos, democracia e desenvolvimento. O PAIT pretende lutar contra todas as formas de opressão e descriminação bem como estabelecer e fortalecer parcerias entre artistas e organizações da sociedade civil zimbabweanas e estrangeiras.

Por causa da filosofia que persegue, a produtora Savanna Trust já foi alvo de manobras intimidadoras. Apesar disso, a organização mantém-se firme no seu propósito de elevar as vozes dos artistas contra o estado da nação.

Daniel Maposa, director do PAIF diz que já houve manobras para se retirar a palavra Protesto por ser considerada mais rebelde do que social.

Acrescenta que o PAIT está a crescer e está a tornar-se um evento importante no panorama artístico zimbabweano. Todos os anos tem estado a registar um número cada vez maior de artistas e grupos interessados em participar quer nacionais quer estrangeiros embora continue a enfrentar grandes dificuldades financeiras.

CELEBRANDO A LIBERDADE

O lema escolhido para a VI edição do Protest Arts International Festival foi “Quebrando Correntes” e teve como mote o combate a violência doméstica nas suas mais diversas formas.

Os grupos e solistas que se apresentaram durante os dois dias que durou o Festival não deixaram os seus créditos em mãos alheias. O público também marcou presença e não deixou de acarinhar os artistas.

A abertura do evento foi através de um debate intitulado “Compreendendo as Associações Teatrais e o seu Trabalho” que originou acesas intervenções porquanto nem todos estão satisfeitos com o trabalho que os artistas desenvolvem junto das comunidades. A ideia quase generalizada é que ainda há muito por ser feito em prol das comunidades e daqueles “que não têm voz”.

Seguiu-se depois uma oficina sobre direcção e encenação orientada pela sul-africana Ntshieng Mogkoro, esta que é a mentora do Womens Theatre Festival, evento anual que decorre em Johannesburg.

Depois foi um desfile de peças teatrais, dança e poesia; nota de destaque para o primeiro dia foi para o espectáculo “She Cold” da sul-africana Millicent Tintswalo. Outro destaque foi para Jasen Mpepho, um solista, que interpretando a peça “1000 Miles” levou os espectadores ao delírio, a par de “Inside my house”.

Mas a grande festa foi vivida com a apresentação da peça “Psicose 4:48” de Maria Atália, interpretada por Milsa Ussene e música de Rolando Alexandre. De resto, a expectativa em relação ao grupo moçambicano era bem grande, dados relatos do enorme sucesso logrado no Womens Theatre Festival.

E se a expectativa era grande, os moçambicanos justificaram em grande a fama que os antecedeu, dando um grande show que culminou com uma explosão de aplausos e praticamente todos espectadores em pé. A aposta da organização estava ganha e, como consequência, surgiram mais dois convites para igual número de festivais.

Taonga Mafundikwa, consultor de arte e cultura, confessou-se enfeitiçado pelo espectáculo moçambicano: “ando nestas coisas há anos mas confesso que é a primeira vez que vejo uma reacção deste tipo; os espectadores ficaram calados durante todo o especáculo e no final foi uma explosão de aplausos e com toda a gente em pé. Foi algo mágico”.

Mafundikwa acrescentou que a peça moçambicana tinha condições para vingar em qualquer parte do mundo: não tenho dúvidas de que mesmo no Japão esta peça teria sucesso.

Como que a dar-lhe razão, Dereck Nziyakwi do Harare International Festival of Arts, disse que seria uma honra contar com a trupe moçambicana na próxima edição daquele festival.

Aliás, o convite ao grupo moçambicano acabou sendo formalizado ao mesmo tempo que surgia outro convite para Espanha (Festival internacional Ponte… na Escena). Vale recordar que a participação de Moçambique no PAIF resultou da excelente performance do grupo no Womens Theatre Festival realizado em Johannesburg, África do Sul, no passado mês de Outubro.

Belmiro Adamugy
belmiroa.damugy@snoticias.co.mz

Fotos de Belmiro Adamugy

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