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Indústria mineira em livro

Por admin

Globalização, Urbanismos e Culturas Locaisé o título de um livro resultante de um estudo sobre o impacto da industrialização mineira nos processos de urbanização e em culturas locais na cidade de Tete e na vila de Moatize, sob a coordenação do Prof. Doutor Isaú Meneses e contou com o financiamento e suporte integral do Instituto Superior de Artes e Cultura (ISARC).

A obra, dividida em 7 capitulos, tem como finalidade analisar o impacto da industrialização mineira nos municípios de Tete e Moatize e avaliar o efeito da globalização subjacente à industrialização mineira, na preservação e desenvolvimento das culturas locais.

O estudo foi realizado num período de 24 meses e envolveu presidentes de municípios, veradores, técnicos municipais, autoridades comunitárias, religiosas, secretários de bairros, outras personalidades influentes, jovens, idosos e a população no geral residente nos dois contextos de estudo.

Entre o conjunto de impactos distinguem-se os visíveis dos invisíveis, quais sejam os referentes às práticas sócioculturais, de índole sócioeconómica e os ligados aos processos de urbanização. Os outros impactos são de carácter invisível. Fazem parte dessa categoria os efeitos sociais resultantes de actos subterrâneos que compreendem a intimidade das pessoas como as relações sexuais e que podem ocasionar o HIV/ SIDA, compromissos matrimoniais não honrados e que eventualmente geraram filhos sem a presença dos pais (mormente estrangeiros) por se terem ido embora, entre outras situações diversas.

Globalização, Urbanismos e Culturas Locais dá uma visão bastante abrangente da situação actual daquelas duas cidades, Tete e Moatize, bem assim como permite fazer projecções para o futuro próximo em resultado das actividades da industria mineira.

José castiano, na apresentação da  obra, buscou valores da nossa cultura secular para estabelecer uma ponte entre essa herança e a actualidade ditada pelo progresso humano e tecnologico. A música, outra faceta de Isau Meneses, não escapou ao olhar atento de Castiano, que, a dado passo da sua intervenção observou o seguinte: “Olha Isaú, a Ntsai gostou muito por estares preocupado com a valorização das suas danças, ritos e gastronomias e ela agradece-te. Ela disse que gostou muito o facto de, por exemplo, a partir da pag. 251 do teu livro, tenhas destacado, apoiando-te em Pereira, que a cultura somente se pode desenvolver com investimentos pecuniários. Cultura tem custos sim: “…gostaríamos de realçar a peculiar relevância aos custos da cultura dada as dificuldades que entidades públicas e privadas enfrentam quando se pretende investir na cultura por esta última constituir uma área que normalmente não é de lucros avultados e imediatos" (p.251). Para não ferir a audiência eu prefiro que eles leiam sozinhos as quantias do orçamento que são dadas para promover a cultura (p.253) no teu livro.

Noutro desenvolvimento, José Castiano diz que  Isaú descreve a cerimónia do Kupita Kufapor ele traduzido como “transpor ou ultrapassar a morte” para purificar a família enlutada. O mesmo Isaú esclarece que, em caso da morte do marido, “um dos irmãos mais velho do finado e a viúva se responsabilizarem em praticar acto sexual, como forma de ultrapassar o pesadelo da morte”. Tenho minhas dúvidas se a Ntsai aconselharia, ainda hoje, que as suas netas passassem pelo rito do acto sexual com um dos cunhados. Todavia, tenho a certeza que a Ntsai aprovaria o valor que está por trás do Kupita Kufa: que as crianças deixadas não fiquem órfãs e que a mulher não perca a dignidade por já não ter uma família. Este valor de solidariedade fundamental africana é o que devemos preservar, porém reinventando novos ritos, mais urbanos e modernizados. Afinal já não vivemos na era em que acreditávamos que as nossas família possuem um crocodilo algures no vale do rio Zambeze.

Globalização, Urbanismos e Culturas Locais, integrado na Colecção Woona, é um livro de leitura obrigatória para quem quer perceber as dinâmicas que se desenvolvem na industria mineira e os seus impactos na sociedade circundante.

 

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