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Almoço em Paris, em casa do Manu Dibango

Por admin

Era uma vez um jovem jornalista moçambicano. Sua área de preferência em termos de escrita foi sempre a cultura.

Uma  das características que marca a sua carreira é no lugar de fazer  entrevistas, preferir conversar  e assim descobrir para além da arte, desvendar o mundo a partir do artista.

Assim o fez em uma das vezes com uma das maiores vedetas do mundo artístico, um ícone mundial na área musica. Um saxofonista cuja alcunha é : Leão de África.  Um senhor que as lides artísticas e não só o chamam de Manu Dibango. Ao lado do outro saxofonista que não é leão, mas seguidor das peugadas, presenciou a conquista do coração e alma artística do Leão africano. Uma conversa de bastidores, de palco e até do momento de despedida, aquando da participação do leão no festival de jazz em Moçambique- More Jazz Series, em Moçambique no ido ano de 2012, cuja finalidade era gravar um disco intitulado M&M (Manu Dibango e Moreira Chonguiça).

Volvidos três anos, a conversa transforma-se em realidade. Os dois saxofonistas decidem trabalhar conjuntamente. E o leão, sendo o mais velho, convida os amigos seus de Moçambique para o visitarem, hospedarem e trabalhar em Paris, na França.

Convite recebido e aceite com muito gosto. Chegados a Paris, cansados por causa das longas horas de voo e desejosos de descansar ou ter uma boa sessão de massagem para relaxar, os jovens, saxofonista e jornalista, são convidados para um almoço na casa do leão, Manu Dibango.

Sem pensar, o cansaço desaparece e ansiedade de lá estar toma conta dos jovens. E assim, tomaram banho, mudaram de roupa e lá se dirigiram para a casa. Chegados à casa são recebidos com honra, respeito e consideração. Da manga, os dois jovens moçambicanos tiram duas garrafas de vinho da marca Moreira Chonguiça/ Carrol Boyes para oferecer Manu Dibango. Anfitrião sorridente, simpático e acolhedor,  Manu recebe as garrafas e com a sua voz estrondosa e com presença sem igual diz: Merci beacoup mon ami. ulalalá. Começava uma tarde memorável naquela casa de um artista e repleta de arte. Livros, discos, DVD’s , esculturas e pessoas com ar inocente, dinâmicas e acolhedoras, sempre prontas a servir.

Minutos depois fomos convidados para ir à mesa. Uma mesa na qual sentaram seis pessoas: Manu Dibango (dono da casa), Moreira Chonguiça (saxofonista moçambicano), Cleire (agente de Manu Dibando), George (uma mulher  amiga de Manu Dibango), Frederico Jamisse (jornalista moçambicano), Dona que cuida da casa( é a empregada de Manu Dibango há mais de vinte anos. Por isso, conhecedora da casa, hoje, é parte da casa e família, tendo ganho o direito de por vezes sentar à mesa com os convidados). Uma experiência fascinante despida de tabus que pudemos testemunhar.

O almoço, especial, tinha aspecto de comida caseira e provado testemunhamos que era mesmo caseira. Um caril de galinha cafreal, arroz cozido à vapor, uma salada temperada com pouco óleo, um peixe de Camarões (terra natal de Manu Dibango), um vinho de uma casta muito boa- Bordeaux. Aliás, antes de irmos à mesa, após a recepção, foi-nos servido um champagne bruto aprazível de beber e repetir. Almoçamos e de forma animada.

Terminado o almoço, sentamos na sala de visitas  do Manu, nas cadeiras de leather tradicionais. Com 81 anos de vida, Manu Dibango é um homem conservador mas inserido na modernidade. Tem um televisor Samsung de 60 polegadas, a partir dos qual delicia sua visão e ouvidos, assistindo sessões de jazz. Ligou um dos canais de televisão de jazz da França. E juntos assistimos um cantor exímio alemão chamado  Till Bronner. Alta performance. Trompetista, Till tem também um timbre de voz fenomenal que agrada ouvir (Pena não termos apanhado o disco à venda na FNAC, no centro de Paris, quando mais tarde fomos procurar para comprar).

Minutos depois, Manu Dibango chamava a George para nos servir café e cognac. Um cognac feito de pêssego, muito bom. E assim passamos a tarde, ouvindo as músicas preferidas do Manu. Até que ele levantou e foi para o quarto de onde trouxe um disco vinil. Era um álbum seu intitulado Soft and Sweet, lançado em 1983. Uma linhagem de jazz clássico. Não dançavel como é o apanágio de alguns discos de Manu Dibango naquela era.  Foi delicioso e sobretudo aconchegador o ambiente caseiro vivido na casa do Manu Dibango.

O frio. Granizos. Chuva .  Bom  vinho e champagne foram nos fazendo companhia naquela cidade cultural.  Uma cidade que tem e preserva as casas do antigamente. Casas com história e que fascinam qualquer turista, executivo. Sem falar das peripécias do Museu louvre, outro cartão de visitas de Paris,  a cidade vive a arte. Há arte na maneira de conversar, de apreciar e enjoar a vida. Há arte na maneira de servir e beber o champagne. Há arte na maneira de comer o baguete.  Mesmo  com o dinamismo que o modernismo traz, a França persiste na classe alta em termos de civilização e vivência. Aurevoir.

Frederico Jamisse
frederico.jamisse@gmail.com

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