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ASSOCIATIVISMO EMPRESARIAL: PME adoptam cooperativismo

Por admin

Vinte e nove Pequenas e Médias Empresas (PME) que produzem artefactos de cimento, na província de Maputo, estão a registar progressos significativos nos seus negócios graças à adopção de um modelo de gestão orientado pela doutrina do cooperativismo. Em pouco menos de um ano de adopção deste modelo, o volume de negócios já ascende os 13 milhões de meticais.

A adopção do cooperativismo por este conjunto de empresas revela-se como uma mudança de paradigma por parte do sector empresarial nacional que, geralmente, prefere operar de forma individual no lugar de abraçar empreendimentos conjuntos, vulgarmente denominados “joint ventures” que apresentam vantagens em termos de capacidade de resposta às solicitações do mercado.

Ao contrário dos que preferem a via solitária, um conjunto de 29 empresas produtoras de artefactos de cimento, nomeadamente bancos de jardins, pavês capazes de suportar o peso de camiões de grande tonelagem, tanques de lavar, vasos decorados, lancis, blocos, balaústre, grelhas (quadradas, diagonais e rectangulares), respiradores, marcos, entre outros, decidiram experimentar agrupar-se e os resultados estão à vista. Gerem um volume de negócios que ultrapassa 13 milhões de meticais em apenas seis meses de funcionamento.

Aliás, dado o sucesso que estas empresas agora registam, começa a haver uma adesão cada vez maior de membros, pois na sexta-feira passada foi realizada uma assembleia geral na qual foram discutidos os pedidos de adesão de nove produtores de artefactos de cimento, o que elevaria o número de membros de 29 para 38 empresas.

Facto surpreendente é que estas empresas, até aos meados do ano passado, enfrentavam problemas de vária ordem, com destaque para a gestão e legalização de negócios, dificuldades para o acesso a financiamentos bancários, dificuldades de penetração no mercado e de domínio de matérias fiscais.

A título de exemplo, os seus gestores revelaram que grande parte dos integrantes desta categoria de empresas que existem no país continua a operar em regime informal porque receiam enfrentar os custos exorbitantes e pouco claros atinentes à obtenção de licenças e alvarás.

Citaram que muitos não se legalizam porque ao custo total para obtenção de uma licença se somam várias taxas cobradas pela prestação de serviços, custos das deslocações do investidor para todas as instituições envolvidas no licenciamento e ainda o que se deve gastar com fotocópias, autenticações e reconhecimentos, formulários, entre outros.

Também referiram que muitas PME não sabem como lidar com a política fiscal e os altos custos dos impostos que, segundo eles, não incentivam o investimento, a produtividade, criação de emprego, o desenvolvimento do sector privado e reduzem a renda disponível para o sector privado.As taxas de impostos e contribuição para a segurança social são altas e insuportáveis para as micro e pequenas empresas que conseguem ascender ao sector formal. Por causa disso, muitos optam por manter-se no sector informal”, afirmam.

 

Uma das principais queixas que as PME levantam em todo o país está relacionada com o acesso ao financiamento que, segundo dizem, comporta muitas e complexas exigências, juros altos, entre outros, “o empresário moçambicano realiza os seus investimentos com recurso a fundos próprios ou a empréstimos concedidos por amigos ou familiares, ou deixa de investir”.

Na mesma esteira referiram que um segundo problema que dificulta o acesso ao crédito bancário relaciona-se com as exigências de garantias bancárias, quando se sabe que a maior parte das PME, pela sua génese, não tem património que lhes possa habilitar a apresentar como objecto de penhora.

NOVOS RUMOS

Estes e outros pressupostos levaram o Instituto para a Promoção das Pequenas e Médias Empresas (IPEME), em parceria com uma Organização não Governamental (ONG) denominada CESAL e o Instituto de Educação e Gestão (IEG), a procurar caminhos para ajudá-las a dar um novo rumo aos seus negócios.

Aliás, esta conjugação de esforços segue ao pé da letra as recomendações feitas no estudo lançado em Dezembro de 2014, por Baker Tilly, intitulado “PME em Moçambique: Desafios e Oportunidades”, o qual refere que esta franja de empresas deve “partilhar informações que possam ser relevantes para outras empresas e manter uma postura proactiva de mudança e busca de novas soluções”.

É que, quando foram analisados os obstáculos, se detectou que apesar de existirem PME devidamente enquadradas no mercado e terem a capacidade de gerar lucro, a maioria não desenvolve planeamento estratégico e determina as suas necessidades de forma pouco organizada.

As empresas operam numa lógica de curto prazo, sem estruturar ou definir objectivos estratégicos para o longo prazo e que medidas terão de tomar para os alcançar. Assim, oportunidades de redução de custos, de economias de gama e de financiamento passam despercebidas e não são aproveitadas por estas empresas, que poderiam induzir a uma taxa de crescimento mais acelerada e sustentada”, refere Baker Tilly.

Mais adiante, aquele estudo aponta que empresas com planos estratégicos e planos de negócio definidos, com uma clara visão do mercado e das oportunidades internas e externas, têm maior probabilidade de obter financiamento, de capturar maior quota de mercado e de transmitir confiança e estabilidade para clientes, fornecedores e investidores, que é o apoio que o IPEME tem estado a conceder.

Aquele estudo, que analisou 344 empresas de micro, pequena ou média dimensão, classificadas pelo número de trabalhadores ou volume de negócios anual, todas elas inscritas no IPEME, foi divulgado muito antes da criação de algumas destas 29 empresas e, já naquela altura, orientava as instituições do Estado que lidam com as PME para, entre outros, consciencializar sobre a importância de trabalhar junto das empresas e criar linhas de apoio direccionadas e padronizadas às suas necessidades.

UNIDOS POR UMA CAUSA

Assim sendo, e conforme apurámos, o primeiro passo para a busca de novas soluções consistiu na formação de uma Cooperativa de Produtores de Artefactos de Cimento da Matola (COOPACIM) que serviria de fulcro para a busca de soluções e também de plataforma para melhores oportunidades de negócio.Com a cooperativa montada, coube à CESAL o dever de funcionar como assessora no estabelecimento de um acordo com a fábrica Cimentos de Moçambique que, no âmbito da componente de responsabilidade social, se dispôs a comercializar o cimento para a cooperativa ao preço de porta de fábrica, pois esta é uma matéria-prima fundamental para o desenvolvimento.

 

Enquanto isso, o IPEME assumiu a responsabilidade de apoiar as 29 empresas na sua legalização e a CESAL e o Instituto de Educação e Gestão (IEG) comprometeram-se a desenvolver um programa de formação que teve a duração de oito meses, nas áreas de gestão, contabilidade e marketing, visando conferir uma maior autonomia aos produtores.

Concluída a fase de formação e constituição da cooperativa, as empresas integrantes retornaram ao mercado com uma nova postura e já contam com clientes de grande dimensão como empresas de construção civil e de engenharia, algo que era impensável quando trabalhavam individualmente.

Aliás, foi devido a este progresso que o IPEME indicou esta cooperativa como um caso de sucesso, porque desde a sua formalização a esta parte (menos de um ano) conseguiu ter um volume de negócios que já ultrapassa os 13 milhões de meticais e o ritmo continua estável, apesar da crise que a economia nacional ainda enfrenta.

Entrámos no mercado de forma agressiva. Começámos do nada. Há um potencial para a cooperativa crescer e esperamos que dentro de cinco anos esta associação seja capaz de liderar o mercado no fornecimento de material de artefactos de cimento, mas de qualidade”, disse João Neto, coordenador de projectos da CESAL.

Nesta perspectiva, a COOPACIM conta com o acompanhamento de um especialista da empresa Cimentos de Moçambique que afere a qualidade da produção em cada estaleiro e outro da CESAL que supervisiona a comercialização dos materiais.

Mesmo assim, e porque a busca da qualidade é primordial nesta fase em que o mercado está cada vez mais aberto aos produtos desta colectividade, João Neto revelou que foram submetidos cinco lotes de peças diversas ao Laboratório Nacional de Engenharia para a respectiva certificação.

O desafio é elevarmos a qualidade da produção, inovar certos artigos do ponto de vista tecnológico e começarmos a comercializar em mercados maiores, designadamente nas grandes obras de construção do sector público e privado, porque temos uma variedade de produtos que julgamos que podem ser apetecíveis para estes sectores”, disse Alzira Nhantumbo, presidente da COOPACIM.

Paralelamente a estes desafios, João Neto disse que os membros acordaram em canalizar os lucrosao banco com vista à aquisição de um espaço comum para o estabelecimento da sede da agremiação e de uma camioneta para facilitar a movimentação de cargas e construir um armazém.A necessidade de aquisição de uma viatura resulta do facto de parte dos cooperativistas não dispor de viaturas próprias para o transporte da matéria-prima e dos produtos acabados, o que concorre para o aumento dos custos de produção.  

 

Até ao momento, a Cimentos de Moçambique fornece cimento e cada um deve procurar meios próprios para transportá-lo e o mesmo acontece quando ocorrem vendas. “Alguns membros têm viaturas próprias mas outros alugam-nas, por isso, estamos a pensar em criar um fundo rotativo para que seja possível fazer empréstimos para a aquisição de meios de trabalho modernos, entre outros investimentos”.

João Neto frisou ainda que, “futuramente, os lucros serão divididos consoante o capital investido por cada membro”, referiu e acrescentou que “até o momento os produtores estão a registar uma poupança de custos e um volume crescente de negócios graças à boa prestação de assistência por parte das entidades parceiras”.   

Texto de Idnórcio Muchanga

aly.muchanga@gmail.com
Fotos de Jerónimo Muianga
 

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