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Alfredo Mueche: O Mestre do Fotojornalismo

Por admin

“Mueche -32 anos Clicando Vidas” é o titulo do primeiro livro de gráfica fotojornalística do nosso colega da Redacção do domingo, Alfredo Mueche, a ser lançado na Fortaleza de Maputo esta quinta-feira, dia 15. O acto em si é uma homenagem merecida deste que é no presente o maior da sua arte em Moçambique.

Pretexto bastante este para um dedo de conversa com este embondeiro que na nossa Redacção já ninguém hesita em chamá-lo de Vovó Mueche.

Se é frequente se dizer que contra factos não há argumentos, mais justo e verdadeiro é declarar que a fotografia não mente. E já lá vão 32 anos que Alfredo Mueche, com mestria e profissionalismo, vai produzindo prova dos factos, legitimando assim as estórias que os repórteres de escrita contam.

Muitos dos seus actuais e antigos colegas se revêem na história que Mueche conta através da fotografia no seu livro.

Como já referimos, o lançamento oficial do livro da Gráfica Fotojornalística de Mueche foi pretexto para um dedo de conversa, um pouco difícil para um homem que ultimamente anda bastante atarefado, dividindo a sua vida entre o fotojornalismo e a preparação da sua eminente reforma.

A nossa primeira pergunta é colocada em jeito de confrontação, uma vez que numa das viagens que tive oportunidade de com ele fazer para Manjakaze deparámo-nos com uma chama toponímica anunciando a entrada para aquele distrito da Província de Gaza, numa área que em tempos fez parte de Chibuto. Segundo se podia presumir daquela chapa, a terra natal de Mueche, outrora Chibuto, poderia já ser parte de Manjakaze.

Estávamos a perguntar onde nasceu. A resposta veio peremptória. CHIBUTO. Como assim? Insinuamos. “Eu já fui lá procurar informação certa e fiquei a saber que Maivene ainda faz parte de Chibuto”

Aqui era a voz cultural de um chibutense que não pode ser confundido com um Manjakaziano por nada deste mundo.

Conta Mueche que, sendo filho de pais religiosos, tendo o pai sido pastor da igrejaAfrican Gaza Churche, teve uma infância bem diferente dos seus conterrâneos da era. Por exemplo, ele não apascentou gado como muitos gazenses do seu tempo.

Ele conta que veio a então Lourenço Marques na tenra idade, precisamente com cinco anos de idade, quando os pais se fixaram no Bairro de Maxaquene, o que lhe deu oportunidade de fazer os seus estudos primários no Bairro Indígena, agora Munhuana, seguidos de nível básico de escolaridade.

DE OPERADOR DE LINOTYPE DO NOTÍCIAS A FOTOJORNALISTA

Alfredo Mueche tem um percurso profissional muito curioso. O seu primeiro emprego foi mesmo aqui na Sociedade do Notícias, em 1972, altura em que a impressão era feita com base na tecnologia linotype, em que as molduras eram produzidas em chapas metálicas nas quais os textos eram cunhadas em relevo a chumbo para depois serem carimbadas no papel, saindo assim o jornal.

Mueche foi operador dum desses sectores cujo nome ele ainda guarda bem na memória: EXTEREOTIPIA, que era exactamente o sector que preparava as molduras das chapas onde era cunhados os textos e gravuras, isto antes da era digital. Mueche forjou-se como homem neste ambiente até 1980, altura que recebe transferência para reforçar a equipa de profissionais da Agência de Informação de Moçambique (AIM).

Já na AIM, Mueche entra primeiro para a área das Telecomunicações para lidar com uma tecnologia que era de ponta para o momento. Como explica com particular perícia de quem sabe do que está a falar, Mueche foi trabalhar no sector de Rádio com um sistema electrónico para sintonizar linhas de agências internacionais, de modo a receber o sinal que era convertido em rolos de textos que o sector redatorial tratava de processar ou fazer a sua distribuição em bruto.

O PAI LHE ENVENENOU FOTOGRAFIA DESDE JOVEM

Se esta é a sua trajectória profissional, afinal quando entra este bicho de fotografia? – perguntamos. Mueche conta que a fotografia é uma paixão de infância que começou quando num desses anos ele ainda novo e indeciso quanto a carreira a seguir, o pai lhe ofereceu uma máquina fotográfica manual de 6/6.

Com este bicho já na cabeça, não levou muito tempo na AIM sem que pedisse para ser transferido da área de Telecomunicações para a Fotografia.

Terá sido nessa altura que o seu então chefe, o jornalista Carlos Cardoso, anunciou que uma grande personalidade do mundo da fotografia, Anders Nilson vinha da Suécia para dar formação em fotografia na AIM.

Quando Mueche fala deste seu mestre, os olhos dele brilham de emoção. Aliás, o texto que Mueche escreveu a homenagear Anders Nilson é bastante expressivo da grandeza do homem e do conhecimento dos feitos do mesmo que Mueche tem.

Tentamos cavar a vida privada de Mueche, mas ele se mostra bastante sensível a este respeito. E não é para menos. Muito recentemente Mueche perdeu dois filhos que faleceram quase no mesmo ano, o que marcou profundamente e emocionalmente o homem. É assim que concordamos em devolver a conversa para o mundo profissional, algo que o homem se mostra com palavra de Mestre incansável.

Voltamos para o livro que por si só conta a história do seu autor.

A primeira coisa com que nos deparamos são os diplomas comprovativos da grandeza profissional conquistada por Mueche ao longo dos 32 anos de carreira. E não é para menos. Os jornalistas que já tiveram e têm o privilégio de trabalhar com Mueche, sabem que para este homem não existe trabalho pequeno ou pouco importante.

Com o autor destas linhas , Mueche fotografou desde os dementes, mendigos, até estadistas. Com muitos outros fotografou ainda a paz, guerra, desastres naturais e do erro humano, como foi o caso do catastrófico acidente ferroviário de Tenga, que ceifou mais de 200 pessoas e a objectiva dele testemunhou a tragádia.

DOS PRÉMIOS E RECONHECIMENTO PROFISSIONAL

Quando se olha para o percurso profissional de Mueche, dentro e fora do país, o reconhecimento e galardões recebidos, não será exagerar dizer que Mueche já ganhou tudo. Aqui vão alguns exemplos.

Em 1997 ganhou o primeiro prémio Craveirinha, dos países falantes da língua portuguesa (CPLP). Em 2006, Mueche foi galardoado com o Primeiro Prémio sobre a SIDA a nível da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral  (SADC). Ainda em 2006, Mueche recebeu mais dois prémios nacionais sobre a mesma temática do flagelo da SIDA. Na verdade, não há ninguém que demonstrou tanto as facetas da SIDA por imagens do que este nosso Repórter. O livro do nosso Colega André Matola fez um dos melhores aproveitamentos dessas imagens, mas as nossas várias reportagens sobre a temática que também granjearam prémios vários, são testemunhas do clicar de vidas do Mueche.

Em 2008, Alfredo Mueche volta a arrebatar o prémio de melhor fotografia em HIV-SIDA. O seu reconhecimento internacional mais recente foi em 2012 quando ganhou o prémio da SADC na categoria de água.

Sonho para a reforma? – perguntamos ao embondeiro.

“Quero virar a minha vida para a agricultura. Quero ser um grande farmeiro e para isso já estou a trabalhar em Massaca, onde não vai, obviamente faltar um atelier para exposições fotográficas, isto em Boane, província do Maputo” – concluiu.

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1 comment

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