Os nossos posicionamentos em certas questões centrais, no período inicial da nossa vida política, a visão da FRELIMO e do MPLA, suscitaram incompreensões numerosas, embora secundárias, com países africanos amigos.
Nocernedasquestões:
1. A nossa definição da nacionalidade, que excluía a cor da pele e, por isso, descendentes de colonos ou mesmo colonos podiam aderir às nossas fileiras, para a criação da nação moçambicana ou angolana;
2. A opção pela luta armada, para muitos países africanos, mostrava-se algo incompreensível, porque a via negocial os conduzira à independência. Algumas acções de violência como no Quénia com os MAU-MAU, bastariam, diziam, e Portugal acomodar-se-ia à realidade como as demais potências coloniais o haviam feito. Acreditavam que a recusa portuguesa, cedo ou tarde, se desvaneceria. Dirigentes como Kaunda, Senghor, Boigny, frequentemente, insistiam nesta tecla;
3. O facto da nossa definição do alvo para as nossas armas não corresponder à cor da pele e excluir civis e a recusa de esperarmos que um utópico e inexistente exército continental nos viesse libertar.
Ao nível africano, os movimentos de libertação haviam-se formado na base étnica e racial, por vezes, também, a partir da afinidade religiosa com o Islão, no caso da África do Norte. O ANC sul-africano, decano da causa da libertação nacional na África subsaariana, formou-se a partir de 1912, como South African Native National Congress tornando-se African National Congress aindasob a presidência de John Dube, em 1923. Importa aqui sublinhar o conceito de Nativo, Native que, na prática, não significava apenas nativo, mas negro. O ANC como força dirigente surge quase como uma confederação de agrupamentos políticos com bases na etnia, brancos, mestiços e indianos, com organizações próprias.
De notar ainda que as clivagens tribais faziam-se, mais ou menos, sentir em todos os movimentos de libertação da África Austral, mesmo depois da independência e libertação da Zâmbia, Malawi e Zimbabwe.
Nos países vizinhos, em virtude deste conjunto de vivências diferentes e porque precisamente diferentes, enfrentávamos dificuldades para que a nossa linha política se tornasse compreendida e não questionada.
A dependência da Zâmbia em relação aos sistemas ferro-portuários de Angola, Moçambique e África do Sul, o compromisso de certas elites com os interesses racistas e colonialistas explicam as ambiguidades do governo de Kaunda em relação à FRELIMO e sobretudo os choques que surgiram devido ao apoio zambiano à UNITA e a hostilidade àZANU.
Na essência, porém, entre os dirigentes dos Estados da Linha da Frente e seus colaboradores principais, primaram os seguintes valores essenciais:
1. Opatriotismo;
2. O espírito de unidade e liberdade africana;
3. A relação pessoal de respeito e carinho.
A Linha da Frente, uma não organização de Estados da Periferia, sem peso nas relações mundiais, logrou o impensável, levar as principais potências ocidentais, os Estados Unidos, o Reino Unido, a França, a Alemanha Federal, a reverem o seu posicionamento em relação aos regimes racistas da África Austral, forçarem Smith e Botha a abandonarem o sonho da hegemonia branca, cristã e anticomunista no subcontinente! Não se pode negar, ou de qualquer modo subestimar, a importância da unidade e da força daí derivada, que caracterizou a Linha da Frente e o sucesso que alcançou. A Linha da Frente faz parte da história dos grandes sucessos africanos.
Os ministros Gensher, da RFA, Vance e Young, dos EUA, Owen do Reino Unido e Giringaud, da França, reuniam-se regularmente em Nova Iorque, com Warioba, Kito e comigo para discutir o fim da dominação sul-africana na Namíbia, o fim do regime de Smith e do “apartheid”. De algum modo isto demonstra o peso real da não organização.
O Comité de Libertação, sob a direcção de Hashim Mbita, já estabelecera as suas prioridades em função dos dados adquiridos nas visitas ao interior de Moçambique. Último Secretário do Comité de Libertação, Mbita gozou do privilégio único de acompanhar a libertação final das colónias portuguesas, a independência do Zimbabwe e da Namíbia, das Seychelles e das Comores, a queda do “apartheid”. Com ele terminou a missão histórica do Comité de Libertação, o Banco de Sangue da OUA, como definira o Presidente Ahmed Bem Bella, quando a OUA o criou.
Abraço a valorização da história da Linha da Frente,
P.S. Quando começaram os raptos e assassinatos muitos diziam isto passa-se entre eles. Verdade?
Agora passa-se entre nós, criminosos e vítimas não descendem do Paquistão, todos daqui bem originários!
Lembram-se do Poema de Brecht quando a besta nazi começou a atacar primeiro os judeus e comunistas e depois, todos independentemente da raça, origem étnica, filiação política outra que a nazi?
Um abraço aos que se lembram e nunca pensam que a porcaria e o crime só afectam os outros.
R.P.S. Normalmente num país as realizações e sucessos devem-se a muitos, partidos, máquinas governativas, empresas e povo em geral.
Quando se tenta demonstrar que o que se realizou deriva da acção de um homem só, por mais que se pague a publicidade, isso cai muito mal. Não passa de oportunismo barato, nauseabundo, irritante e com efeitos altamente contraproducentes.
Por favor, não transformem uma pessoa com méritos num ídolo com pés de barro e para isso o meu abraço,
SV