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O mal de construir no caminho da água

Por admin

Dezenas de casas, desde as de construção precária às convencionais, continuam submersas no Bairro de Magoanine B, no Município de Maputo, devido a um erro humano de 

ocupação habitacional do leito das águas  que procuram caminho para desaguar no mar, formando, ao longo do percurso, a zona verde da capital do país.

 

Pelo menos naquele local, não teria havido nenhuma desgraça semelhante a que mais de uma centena de famílias agora está a viver, se os espaços recebidos para produção agrícola não fossem “vendidos” para construção de casas, hoje engolidas pelas águas das enxurradas que se acumularam formando lagoas, por onde deviam correr em direcção ao mar.

No terreno, podemos testemunhar in-loco que as pessoas que tiveram que ser reassentadas, primeiro na Escola Primária Completa de Magoanine “B” e depois na Escola Secundária Graça Machel de Magoanine “A”, têm as suas casas construídas no caminho da água do próprio vale e das que escorrem das suas margens sempre que chove.

Desta vez, foi um alerta mais que suficiente de que quem estiver no caminho da água, rio, vale ou planície, cedo ou tarde corre o risco de perder tudo, casa e bens matérias, até a própria vida. Felizmente, no Magoanine “B”, não se verificou nenhuma morte, embora as doenças a emergirem daquelas águas sujas possam posteriormente causar percas humanas.

O perigo estará sempre iminente para as pessoas que insistirem (muitas manifestam vontade urgente de voltar) em viver no percurso da água. O estar seco não significa perder por completo suas características. Há sempre um lençol de água por perto, que quando “acordado” pelas chuvas rompe à superfície da terra e põe-se a andar sobre o leito, o seu caminho, na companhia das águas das enxurradas, causando inundações ou cheias, cujas vítimas, quando não mortais, clamam por socorro de alojamento e alimentar, num ciclo vicioso.  

Está claro que as construções, no caminho da água, só acontecem devido à ausências das autoridades municipais, mais preocupadas em correr com os vendedores informais das ruas de Maputo que em impedir que se ergam palhotas e palácios em locais impróprios. E é pena que dessa ausência e da imoralidade dos que vendem leitos de rios para construção de casa, as principais vítimas sejam as inocentes crianças e mulheres, como observamos nos espaços de reassentamento de Magoanine. Imagine-se quarenta famílias, umas mais numerosas que outras, empilhadas numa sala de aulas, alimentando-se de pouco mais de feijão e de pouco peixe carapau, apoios que inicialmente chegavam às gotas! Vida terrível para filhos e esposas de pais e maridos ausentes.  

 

 

Não fechem

o corredor das águas!

 

Para que o Estado e parceiros, como a Cruz Vermelha, não sejam sempre chamados ajudar os que tudo tiverem perdido na água, é importante que os ocupantes do caminho das águas, em Magoanine, ou de noutro bairro, sejam forçados a retirarem. Desse modo, se evitará que das próximas vezes que chover as crianças deixem de estudar porque as suas salas terão novamente sido transformadas em quartos dos desalojados pelas águas impedidas de seguirem o seu caminho.

Curiosamente, o que trouxe desgraça para uns, trouxe alegria para outros. Das profundas águas de Magoanine, nas quais estão submersas casas de capim e de cimento, já se pesca peixe que passou a engordar refeições de algumas famílias sobreviventes, mas cujas casas correm o perigo de desabarem a qualquer momento, quer chova, quer não. É que, com lagoas do género por perto ninguém deixa de experimentar a actividade de pesca. Aliás, fica evidente que onde há água, há peixe, e onde há peixe, há pesca.

Os que não ficaram tristes com as inundações no Bairro de Magoanine foram os amantes de futebol, pois o seu campo não ficou submerso. Mas, atenção: nos dias de jogo que se chute pouco a bola, porque esta pode ir parar no meio da água que pode afogar os apanha bolas. Chute-se mais para o lado da duna de cerca de cem metros que presta ao local uma beleza de praia, turisticamente atraente, do cimo da qual se visualiza as belas paisagens de Magoanine “A”, “B” e “C”, mais as construções ilegais e desordenadas, no caminho das águas, que o Conselho Municipal de Maputo talvez as desconhece.  

Na hora de sofrimento de uns, há sempre os que se destacam na ajuda. No centro de reassentamento da Escola Primária Completa de Magoanine “B”, podemos anotar nomes de Rafael Filimone Cumbe, secretário de Célula do Partido Frelimo do quarteirão 33, por sinal nosso guia, muito empenhado em organizar os reassentados na recepção de kits de cozinha, mantas, redes mosquiteiras que eram distribuídos pela brigada da Cruz Vermelha de Moçambique (CVM), encabeçada por Maria Celeste Langa, técnica de saúde, pessoa muito simples e simpática. E Cipriana Marcelino Chivambo, uma viva mulher pertencente à Organização da Mulher Moçambicana (OMM) local, ela que se desdobra para ver todos os necessitados  a receber  o pouco que ia chegando em seu socorro. É mesmo para dizer “a Cruz Vermelha e Frelimo sempre presentes.” E nós gostamos de rever gente que não gosta de ver outra gente a sofrer.

A terminar, e para que não venha haver mais sofrimento no Bairro de Magoanine “B”, aqui fica o nosso conselho: Não fechem o corredor das águas, por favor!

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