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Moçambique recupera produção de castanha de caju

Por admin

Moçambique já foi um dos maiores produtores e exportadores mundiais de castanha de caju até finais da década de 1970. Naquela altura, produzia cerca de 200 mil toneladas por ano. 

No entanto, após a independência, um conjunto de factores concorreu para o abandono das fábricas, incluindo a adopção de políticas ditadas pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Mundial, que levaram à redução dos níveis para escassas 15 mil toneladas anuais.

Actualmente, o Instituto de Fomento do Caju (INCAJU) corre contra o tempo e pretende recuperar o lugar que perdeu com o passar dos anos e consta que terá registado alguns avanços com a exportação de cerca de 112 mil toneladas de castanha resultante da campanha 2010-2011.

Entretanto, na campanha passada (2011-2012), devido a diversos factores, com particular destaque para as condições agro-climáticas, a produção foi de pouco mais de 80 mil toneladas, situação que o INCAJU pretende reverter na presente campanha.

No que se refere ao processamento, a nossa Reportagem apurou que o país possui uma capacidade instalada de cerca de 40 mil toneladas porém, apenas 30 mil toneladas são actualmente processadas. Esta cifra, apesar de se situar aquém da capacidade instalada, consegue ser superior ao nível de processamento da Costa do Marfim que é o maior produtor africano.

Dados avançados pela Directora Nacional do INCAJU, Filomena Maiopue, indicam que a meta daquela instituição até 2020 é chegar a 180 mil toneladas de castanha e aumentar a capacidade de processamento para cem mil toneladas por ano.

Para isso vamos aumentar o plantio de árvores e atrair investimentos para a implantação de novas fábricas de processamento, entre outros. Isso deve acontecer até 2020, que é o prazo do nosso Plano Director II”, disse.

Como forma de voltar ao topo na exportação de castanha, o INCAJU tem estado a desenvolver técnicas de manipulação de sementes e enxertia de mudas para que as plantas possam aumentar a sua produtividade. Por outro lado, estão a ser levadas a cabo jornadas de limpeza e de poda, corte de árvores velhas, pulverização, entre outras. 

Podemos dizer que Moçambique está no bom caminho pois, aumentamos a produção comercializável. Contudo, temos que reforçar a nossa capacidade de controlo porque muitos produtores continuam a armazenar castanha nas suas casas, o que não nos permite aferir as quantidades reais de cada época”.

Continuar a expandir o parque cajuícola

Filomena Maiopue entende que para os próximos anos, o país deverá continuar a expandir as áreas de produção de castanha de caju, melhorar a gestão das áreas plantadas e promover a expansão do parque industrial de processamento por forma a elevar a sua posição a nível mundial.

A nossa castanha é exportada para os Estados Unidos da América ou Europa onde é aplicada na produção de chocolates, entre outros, o que faz com que o país perca em termos de valor acrescentado. Para fazer face a esta realidade, entendemos que é importante atrair investidores interessados em fazer o processamento acabado”, referiu Filomena Maiopue.

Outro desafio para área de caju é produção de derivados como são os casos de aguardente e sumos a partir da pêra do caju que está a ser implementada, numa primeira fase, pelo próprio INCAJU. Segundo a nossa fonte,foi instalada uma fábrica em Nampula onde depois de algum tempo será efectuado o treinamento dos pequenos produtores.

domingoapurou que vai se aproveitar a casca da castanha, que em geral é deitada fora, para produzir um tipo de óleo muito valioso para viaturas e aviação. Até ao momento, nenhum país africano produz o referido óleo.

Para Filomena Maiopue apesar de alguns constrangimentos que existem na indústria de produção e processamento de castanha as perspectivas de crescimento continuam boas, pois há investidores interessados no sector. A título de exemplo, consta que existe uma empresa que está a operar no Parque Industrial de Beleluane, na Matola, de empresários norte-americanos e, ao que se sabe, aquela fábrica tem a intenção de alargar e fazer a cadeia completa desde o corte até o processamento final.

Sector familiar em grande

A directora do INCAJU disse ainda se tem deparado com alguns constrangimentos no que concerne à produção de caju, uma vez que a população moçambicana não adere facilmente a esta cultura por considerar que esta não traz resultados imediatos. Aliás, a maior parte dos produtores desta cultura são do sector familiar e as árvores são antigas.

Não é fácil promover a produção de castanha de caju, por isso temos trabalhado com os líderes comunitários, Organizações Não Governamentais, para fazer compreender as vantagens da plantação desta cultura. As pessoas vão aceitando paulatinamente, sobretudo quando começam a ver os resultados”.   

Um dos problemas que o INCAJU tem enfrentado é a prevalência de pragas e doenças, caso não se faça a prevenção regular corre-se o risco de perder a produção toda. “O produto químico que previne essa doença é bastante caro e está a ser subsidiado pelo Governo, temos estado a ajudar os camponeses a ter esse produto”.

Primeiros processadores em África

No continente africano existem países que se situam no topo, pelo menos no que concerne à produção de castanha de caju, no entanto tem problemas no processamento. A nível mundial, o caju é produzido em primeiro lugar em Vietname, Índia, Brasil, e em África, destaca-se a Costa de Marfim, Guiné-Bissau, Tanzânia e Moçambique.

Dados apurados pelo domingo indicam que recentemente foi lançado um programa de 15 milhões de dólares pelo governo norte-americano, através do Banco Mundial, que vai investir em Moçambique na área de produção com o sector familiar.

Nós só vamos prestar assistência às Organizações Não Governamentais que trabalham directamente com o sector familiar. A ideia é garantir o processamento, facilitar a ligação com os empresários do sector de processamento, consumidores, entre outros que fazem parte da cadeia”, disse.

Fomento intensivo de mudas

Uma das apostas do Governo com vista a alcançar as 180 mil toneladas de castanha exportada até 2020 é a produção de mudas que decorre um pouco por todo o país. Na campanha 2000-2009 foram produzidas cerca de um milhão de mudas que foram duplicadas em 2010. Para este ano espera-se que a produção chegue a três milhões e 400 mudas, e em dez anos o país tenha um acumulado de cerca de dez milhões de mudas.

Os valores para a efectivação deste plano são desembolsados pelo Governo moçambicano para a compra de vasos plásticos, sementes, pagar os técnicos que fazem a enxertia, distribuição, entre outros.

A nossa equipe de Reportagem visitou o principal viveiro de produção de mudas a nível da província de Maputo que conta com mais de 30 mil mudas disponíveis para a próxima estação chuvosa. Os cajueiros que são semeados a partir daquelas mudas começam a produzir a partir do terceiro ano, quantidades que variam entre um e dois quilogramas por árvore. No entanto, só a partir do décimo ano é que a produção começa a estabilizar, chegando a 15 e 20 quilogramas.

Soares Banze, delegado do INCAJU na província de Maputo, disse ao nosso jornal que as mudas produzidas naquele local são mais tolerantes a doenças e, geralmente são distribuídas pelas escolas, sector familiar e privados interessados, com vista a renovação do parque cajuícola.

As mudas devem ser plantadas em solos arenosos e profundos, de fácil drenagem das águas, num compasso de 15 por 15. Priorizamos a abertura de campos em bloco, pois nos ajuda a acompanhar o processo todo. Ainda não temos capacidade de assistir os produtores de forma individual devido a exiguidade de meios”, referiu. 

Na província de Maputo existem 200 mil cajueiros que incluem as novas e velhas plantas. No entanto, deste universo, e devido a diversos factores, apenas 40 mil é que recebem tratamentos contra doenças. “Gostaríamos de chegar a 50 mil árvores tratadas, mas isso envolve trabalho dos líderes comunitários e a própria comunidade”.  

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