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Histórias de heróis anónimos

Por admin

Iniciativas comunitárias levadas a cabo por cidadãos anónimos, têm feito diferença na luta contra o HIV/SIDA, o que tem devolvido à sociedade moçambicana a já tradicional acção de ajuda mútua, de amor ao próximo, de colaboração e de mobilização para adesão e melhor aproveitamento dos serviços de saúde a vários níveis.

 No Primeiro de Dezembro, hoje assinalado, domingo traça o perfil desses “heróis anónimos” que merecem o mais incomensurável apreço, por constituírem formatarem uma base sólida de investimento no nosso capital social e essência da sustentabilidade desta longa e contínua luta contra o HIV e SIDA em Defesa da Vida.

 ‘’Ainda quero ser mãe’’

-Paula Esperança Mazida, membro da Associação Tariro na província de Manica

Paula Esperança Mazida vive com HIV há dois anos. Ela é activista da Associação Tariro, criada no ano 2010 na província de Manica. Descobriu que é seropositiva um ano após o seu parceiro perder a vida. “Comecei a adoecer e, após várias recaídas, decidi fazer teste que acusou positivo”, recorda.

Disse ainda que seu o parceiro nunca escondera ser seropositivo e por essa razão sempre fazera testas e ela nunca acusara. Hoje, esta mulher afirma que a família e a associação a que pertence há dois anos constituem a sua fonte de energias. Paula ainda sonha em ser mãe, contudo diz esperar ainda o momento certo para sê-la. Revelou que na sua província a estigmatização está a contribuir para a morte de muitos homens. “É difícil para os homens admitirem que são seropositivos. Apenas aceitam ir à unidade sanitária quando ficam com a saúde deteriorada. Por isso perdemos muitos homens, mas ainda assim convencemo-los que esta doença não mata quando medicamos”

Contudo, com um sorriso no rosto salientou que este ano conseguiu recuperar quatro homens e um deles é hoje guarda na associação. A associação Tariro é integrada por 32 mulheres que se dedicam à luta contra o estigma e descriminação. Presentemente cuida de 53 crianças cujos pais morreram vítimas desta pandemia.

“Assumi e hoje aconselho

colegas na minha empresa

-Laurinda Mazule, representante da empresa Estrapontes na províncvia de Gaza

 Laurinda Mazuze é viúva que encara a vida de forma optimista. Descobriu ser seropositiva há sete anos. Hoje assumiu o seu estado e tornou-se conselheira na empresa trabalha como escriturária. Faz palestras junto dos seus colegas e, com o apoio do seu superior hierárquico, é responsável pela área de HIV e Sida na instituição.

Hoje me sinto mãe dos trabalhadores da empresa. Meus colegas me pedem conselho, aderem a testagem interna e inclusive os acompanho ao hospital quando precisam de apoio”, contou.

Tudo começou com dores e fraqueza no seu corpo até que um dia decidiu se ausentar do seu local de trabalho para ir hospital e fazer o teste. Enquanto conversa, a sua expressão facial transmite-nos muita autoconfiança e serenidade . Conta sua estória com orgulho da vitória que conquistou quando lutou e derrubou as barreiras que esta pandemia tentou impor na sua vida, até assumir publicamente o seu estado de saúde.

“Quando cheguei ao hospital a pergunta que me foi feita foi se eu iria suportar a resposta. Respondi-lhes que se estava ali, era porque estava segura de que queria conhecer o meu estado de saúde. Reflecti bastante para tomar aquela decisão”,revelou.

 Mais adiante contou que depois de receber a resposta voltou ao seu local de trabalho e revelou o seu estado ao seu superior. Senti-me no dever de revelar o meu sero-estado , pois dali em diante precisaria de me ausentar mensalmente para ir ao hospital.

O meu chefe incentivou-me e deu-me forcas. Quando voltei à casa reuni os meus quatro filhos e minha irmã contei-lhes do sucedido e eles também deram-me muito apoio”, ressalva.

 “Não devemos fazer teste

apenas quando estamos doentes”

-Laura Nuvunga, 49 anos

«Não devemos esperar adoecer gravemente para fazer o teste de HIV e Sida. O HIV não mata. O que pode matar é a nossa atitude» Estas foram as primeiras palavras proferidas pela dona Lauraquando iniciou a conversa com odomingo.

O vírus  habita  no seu organismo há 10 anos. Em 2002 adoeceu gravemente. Afirma que desconfiou que poderia estar infectada porque no ano anterior seu marido adoecera gravemente e perdera a vida.

Eu estava muito magra, com o rosto feio e irreconhecível. Algumas vezes não saia de casa porque na rua, sentia que as pessoas não conseguiam olhar duas vezes para mim”, recorda.

Com apoio de uma activista que a visitava no seu domicílio, em 2003 ganhou coragem de ir fazer o teste. O resultado acusou positivo.

 “Fui activista de mim mesmo”

-Narciso Muaganhar, activista na província de Tete

Em 2005 tornou-se activista voluntário em Tete. Narciso prestava ajuda domiciliária a pessoas vivendo com HIV e Sida. No ano seguinte, ao fazer testagem de rotina, veio a descobrir que era também portador do vírus. “Foi difícil para mim, apesar de já trabalhar com pessoas também seropositivas. Mas tive que aceitar. Fui activista de mim mesmo”, afirmou.

Com alguma timidez, Narciso Muaganhar conta que faz parte do Grupo de Apoio e Adesão Comunitária (GAAC) criado pela UNICEF para facilitar a adesão ao tratamento das pessoas vivendo com o HIV.

“Juntamo-nos e mensalmente escolhemos um de nós, de forma rotativa, que com o conhecimento dos postos de saúde, vai buscar medicamentos de um mês para cada um de nós. Assim evitamos que alguém do grupo desista”, acrescentou.

Esta iniciativa está a ajudar as pessoas a aderirem ao tratamento. A obrigação de cada indivíduo tem o papel de fazer a sensibilização dentro das suas famílias e a incentivar a fazerem o teste regularmente.

 “Recusava que podia ser seropositiva”

–  Lídia  dos Santos

Em 2002, Lídia Dos Santos assistiu percurso da doença do seu esposo que padecia de HIV e Sida. Entretanto, um ano depois o seu marido veio a perder a vida. Ao conhecer o sero-estado do seu companheiro, Lídia foi dominada pelo medo e não fez o teste de HIV.

Meu marido dizia para eu fazer o teste. Eu respondia-lhe que ele é que devia fazer o tratamento pois eu me sentia bem e não via ainda necessidade de fazer o teste porque não sentia nenhuma anomalia no meu organismo”, recorda Lídia.

No entanto, dois anos após a morte do meu parceiro, a sua saúde começou a debilitar-se. Com incentivo do um dos seus irmãos ganhou coragem de fazer o teste que foi positivo.

Conta que por receara descriminação de outros membros da sua família  optou pelo sigilo, contando apenas com o apoio de um irmão.

“Naquele tempo as pessoas estranhavam muito. Hoje é diferente, porque já existe muita abertura e o silêncio foi quebrado”, refere.

Hoje é conselheira no Gupo de Apoio e Adesão comunitária na comunidade de Marara, na província de Tete. Afirma que na comunidade as pessoas aderem a testagem. Todavia, lamenta o facto de alguns homens ainda terem receio de fazer. 

 

Luísa Jorge

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