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Doentes entregues à sua sorte

Por admin

Doentescrónicos e crianças recém-nascidas continuam a ser os principais alvos de abandono familiar nos hospitais. Alvitram-se razões financeiras e ou logísticas para os cuidados domiciliários. Apesar de todo o esforço empreendido pelos Serviços de Acção Social Hospitalar, os casos multiplicam-se.

Num dos quartos da enfermaria de Cirurgia do Hospital José Macamo está um jovem de 28 anos de idade. Chama-se Sodolso. Está internado há cerca de um mês naquele Hospital. Padece de uma doença crónica, mas os médicos há tempos que lhe disseram que já se encontrava em condições de voltar às origens. No seu processo, no entanto, não existe contacto de nenhum familiar e durante o internamento, jamais recebeu visitas.

Sodolso repete invariavelmente a mesma resposta quando questionado sobre a sua estadia naquela unidade sanitária: Não tenho família. Não tenho mulher nem filhos!

Emília Nhambire, responsável pela resolução de casos de abandono no Hospital Geral José Macamo, diz-nos que é habitual a ocorrência de casos do género, embora seja impossível que “uma pessoa não tenha nenhum familiar ou alguém conhecido”.

Diante da insistência, quer do domingo, quer da técnica de saúde, Sodolso revela que “acho que meu pai vivia no Benfica e foi ele que me levou ao hospital quando caí doente”.

O doente nasceu em Gaza e veio a Maputo a procura de melhores condições de vida e de assistência médica para lutar contra a doença de que padecia. Porém, nem tudo foi pacífico. A doença foi debilitando gradualmente a sua saúde até que certo dia foi pararno Hospital Geral José Macamo.

De acordo com Emília Nhambire, desde Janeiro do ano passado até o Julho corrente,10 doentes dos quais sete adultos, duas crianças recém-nascidas e um jovem foram abandonados pelos familiares no Hospital Geral José Macamo. No mesmo período em alusão, no Hospital Geral de Mavalane, 15 pacientes foram abandonados, nomeadamente sete adultos e oito crianças.

As doenças crónicas, sobretudo nas pessoas idosas constituem uma das principais causas de abandono de doentes nas unidades sanitárias.

SODOLSO PERDE A VIDA

Dias depois da conversa com o jovem Sodolso, a nossa reportagem soube que o mesmo perdeu a vida. O destino do seu corpo será certamente a vala comum dado que até ao seu último suspiro nenhum familiar ou conhecido se fizera presente.

Mãe abandona bebé no hospital

O abandono de recém-nascidos nas maternidades constitui outro facto que está a preocupar os responsáveis das diversas unidades sanitárias na cidade de Maputo.

A maioria é recém-nascida rejeitada pelas respectivas mães ainda na maternidade. Há um mês, uma mãe adolescente cujo filho se encontrava no berçário, desapareceu do hospital. Conseguimos localiza-la. Ela era mãe pela segunda vez, afirma Emília Nambire.

O bebé continua aqui no berçário e o caso esta neste momento na polícia, mas depois de todo o trabalho pretendemos reintegrar a criança na família pois é lá que ela deve crescer, acrescentou a técnica de Acção Social Hospitalar que, mais adiante, revelou que esta mãe abandonou a maternidade no mesmo dia que deu o parto.

Ainda no âmbito de abandono de recém-nascidos, quando os menores não são reintegrados nas famílias, são encaminhadas aos Centros de Acolhimento.

Mavalane preocupado

com bebés rejeitados

Suzana Mabote, técnica de Acção Social no Hospital Geral de Mavalane, diz que há muitas famílias que simplesmente abandonam os corpos dos seus entes – queridos na morgue.

Ainda semana passada uma família rejeitou o corpo do bebé alegando não ter condições para fazer o funeral. Tentamos sensibilizar a família de que não é preciso muita coisa, senão um funeral digno. O pai da criança, um jovem por sinal, não tinha muita autonomia. O avô, que estava em frente do assunto, recusou-se a tratar do funeral. A solução foi a vala comum, contou.

Para além da morgue, as enfermarias de Pediatria e de Medicina constituem os outros sectores cujo abandono de doentes é frequente. Contudo, o gabinete de Acção Social está a trabalhar com as comunidades ao redor do hospital para a localizaçãode familiares dos doentes abandonados.

Texto de Luísa Jorge
luisa.jorge@snoticicas.co.mz

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