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Dadores continuam com assistência gratuita

Por admin

Comemorou-se, dia 29 último, o Dia Nacional do Dador de Sangue, numa altura em que esforços vêm sendo empreendidos no sentido de incrementar o número de doações.

Uma das medidas adoptadas para responder a este desiderato é dar assistência médica e medicamentosa gratuita aos dadores voluntários.

O Serviço Nacional de Sangue (SENASA) criado para impulsionar a mobilização, o recrutamento de dadores, processamento, armazenamento e uso apropriado do sangue nas unidades sanitárias, indica que em 2010 foram colhidas cento e cinco mil, trezentas e dezanove unidades de sangue sendo que, destas colectas, 59% são doações voluntárias, e 41% corresponde a reposições, isto é, quando indivíduos doam por familiares ou amigos.

Passados alguns anos, os números mostram uma queda na ordem dos 10%, no que respeita às doações não obrigatórias que, por sinal, são fundamentais para garantir o stock razoável nos bancos de sangue.

Assim sendo, em 2015 foram colhidas cento e vinte e cinco mil e seiscentas e dezoito unidades de sangue, no entanto 45% das doações foram feitas de forma voluntária, contra 55% de reposição.

A explicação para a mudança nas estatísticas ganha corpo ao se considerar que, nos últimos tempos, houve melhorias nos meios auxiliares de diagnóstico para diferentes patologias. Os exames são efectuados com brevidade o que leva à solicitação em grande medida de sangue para tratamentos, conforme afirma Dina Ibraimo, do SENASA.

Entretanto, outros factores são apontados, dos quais se destaca o facto de que “a nossa sociedade não tem uma grande consciência da necessidade de doar sangue. Muitas vezes, refere Ibraimo, só o faz quem sente na pele um problema de saúde do seu familiar.

Ainda assim, afirma, “temos grandes dadores com quem contamos em todos os momentos, e alguns que assim se tornaram depois de circunstâncias em que foram chamados para ser repositores”.

Algumas doenças como o HIV e Sida, Diabetes entre outras, constituem, à sua medida, constrangimentos no momento de somar o número de doações, tendo em conta que, os pretendentes são submetidos a inquéritos e, inclusive, a exames com a finalidade de aferir se não fazem parte de grupos de riscos. 

Como se pode ver, há um conjunto de factores que devem ser apreciados mas, acima de tudo, é preciso perceber que actualmente há muita procura do líquido vital na sequência de vários tratamentos que assim o exigem”.

CORRER ATRÁS DO PREJUÍZO

Campanhas de angariação de dadores vêm sendo efectuadas em escolas, igrejas, feiras de saúde, entre outros locais.

Indivíduos a partir dos 16 anos e abaixo dos 65 têm sido alvo de palestras e sensibilização para que “doem de si para salvar vidas.

Para se tornar elegível para esta acção, a avaliação do estado de saúde é fundamental, conforme foi referido. Fora a tensão arterial: “avalia-se o peso, a hemoglobina, neste caso, para analisar se o indivíduo tem sangue suficiente para doar”, explica Sandra Oficiano, Directora do Banco de Sangue do Hospital Central de Maputo (HCM).

Até ao momento, segundo afirma Oficiano, a janela da esperança mostra-se aberta nas instituições de ensino. É nestes locaisquetêm o que consideram“os nossos potenciais colaboradores, pois a adesão às nossas campanhas tem sido boa”.

E, mais do que isso, de uma simples curiosidade e rápida sensação de valentia ao ajudar o próximo, passa-se a contar com “dadores que, de três em três meses, para o caso de homens, e de quatro em quatro meses, mulheres, contribuem com o seu sangue para responder às necessidades clínicas dos diferentes hospitais, clínicas e do Instituto do Coração (ICOR)”.

Até porque há muita procura: “veja-se que em casos de cirurgias do coração, em uma única intervenção, chega-se a usar de 8 a 10 unidades de sangue”, revela Sandra Oficiano.

NÃO SE COMPRA

NEM SE VENDE

Salvar vidas já se mostra um pretexto mais do que suficiente para quem doa sangue. De acordo com a directora do Banco de Sangue do HCM “esse é o maior benefício para o dador”, contudo, a boa acção atrai até si algumas benesses, que servem de estimulantes e/ou plataformas de controlo da saúde de quem ajuda o outro a viver.

Eles têm assistência médica e medicamentosa gratuita em qualquer unidade de saúde pública do país. Encaminhámo-los para as triagens e, caso se mostre necessário, têm igualmente a internação gratuita. A única condição para que isso se efective é a apresentação do cartão de dador, que recebem após algumas doações e mediante a manifestação de interesse em permanecer nesta acção”, aclara.

Apesar de as contas teimarem em não fechar, uma vez que as unidades colhidas não satisfazem a demanda, nada leva a que se promova ou se admita negociatas na doação.

As autoridades da saúde afirmam de maneira peremptória que “não se compra e nem se vende sangue”.

Mesmo em situações de reposição “não existe obrigatoriedade, da parte dos familiares ou amigos do paciente, em fornecer. O tratamento é efectuado da mesma forma, portanto, de maneira nenhuma o doente sai prejudicado”, garante Sandra Oficiano.

A Associação dos Dadores de Sangue de Moçambique é regida pelos mesmos princípios. Através do seu presidente Sérgio Macheque reforça que “a doação de sangue é um acto altruísta. Em nenhum momento se deve admitir a existência de indivíduos que procuram tirar proveito, fazendo algum tipo de cobrança. É preciso denunciar e acabar com essas práticas, pois elas não são lícitas e partem de indivíduos de má fé”, denuncia.

Entretanto, Sérgio Macheque clama pelo apetrechamento dos meios de trabalho e melhoria de estratégias para tornar as mensagens mais profícuas junto das comunidades.

Sensibilizar, principalmente pessoas carenciadas, não tem sido uma tarefa fácil, pois “é complicado lidar com um indivíduo que nem sequer sabe o que será da sua vida no dia seguinte. Então há que melhorar as condições, para o sucesso desta actividade”.

 A Associação dos Dadores de Sangue existe desde 1957. Depois de conhecer um interregno, foi reactivada em 1993, portanto, após a independência.

Conta com dois funcionários a tempo inteiro, na sua sede em Maputo, e um pouco mais de mil associados, espalhados por delegações existentes em quase todo o país.

Poucos incentivos

– Atanásio Balate, dador há mais de 20 anos

“Ao doar sangue ofereço parte do meu coração. Ajudar o próximo é algo inestimável, não há ganho material que possa cobrir este acto mas, mesmo assim, sinto que falta um pouco de incentivo”. Assim se pronunciou Atanásio Balate, da província de Maputo, que soma noventa e três doações, iniciadas no ano de 1994.

A primeira foi motivada por uma situação aflitiva: “o meu pai estava gravemente doente, sofria de anemia”. Chamado a contribuir com o seu líquido vital para salvar a vida do seu progenitor, viu a sua acção frustrada, uma vez que “ele perdeu a vida…”.

O infortúnio levou a que Balate tomasse a decisão de, doravante, contribuir para salvar a vida de quem precisa de sangue. “Fiquei bastante sensibilizado com a situação. Antes não tinha a dimensão da importância de doar, mas a partir daquele momento operou-se uma mudança em mim e decidi não mais parar”, conta.

De qualquer forma, considera que os Serviços de Saúde devem investir de forma opulenta nesta actividade. É que, mesmo tendo em conta a existência de benefícios como diagnóstico automático do estado de saúde, através das análises de sangue,entre outras, “entendo que se devia criar condições mais condignas. Veja que, por exemplo, no passado eram disponibilizadas refeições dignas; havia, inclusive, uma taça de vinho a acompanhar a refeição. Mas hoje em dia, chegam a dar umas bolachinhas… sinto que faltam incentivos”, observa.   

Há muita gente que precisa

Jacinta Dias, dadora desde 1995

A primeira vez que doou foi voluntariamente. Jacinta Dias, de Maputo, fá-lo porque “sangue é vida e estou ciente de que, cada vez mais, muita gente precisa”.

Com os seus sessenta anos de idade (perto da reforma como dadora, já que a idade limite é 65 anos) luta por ter uma saúde de ferro de forma a responder àquela incomensurável missão.

Mesmo não tendo alguma orientação médica, “faço as minhas refeições respeitando determinados períodos e tipos de alimentos. Como o necessário para o meu bem-estar, e sinto-me muito bem fisicamente, capaz de dar de mim ao outro”.

Já a refeição oferecida após a doação, pelo menos ao nível do HCM, conforme atestou Jacinta Dias, consiste em “arroz, bife ou pedaço de frango e sumo”.

As regalias estendem-se para uma assistência médica e medicamentosa. “Com o cartão de dadora não desembolso nenhum valor pelas consultas e na farmácia do hospital levanto medicamentos de borla, para além de que não cumpro nenhuma fila”.

Trata-se de um exercício que “tem valido a pena, apesar de não ter grandes ganhos”. O gesto é grandioso, por talfinca o pé e reafirma, “é importante ajudar a salvar vidas”.

Texto de Carol Banze e Pretilério Matsinhe

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