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“Castelo” de argila emerge junto ao “mulauze”

Por admin

Era uma vez… talvez fosse assim que poderia iniciar a estória de um homem pacato, mas ousado, que alimentou o sonho de construir uma casa de dois pisos para proteger a sua família de eventuais cheias ou inundações. O que fez a diferença é que mesmo sem condições financeiras, Lopes Filipe Moreira não desanimou. Recorreu a material precário e o resultado é uma obra que desafia a lógica dos contos infantis nos quais se constroem castelos de areia…

Lopes Filipe Moreira é vizinho da portagem de Maputo, ali na entrada da cidade. Esta lá desde os anos 90 quando saiu da Zambézia, sua terra natal, na busca de melhores oportunidades de vida.

Conseguiu o terreno a preço simbólico feito por uma senhora idosa que pretendia voltar à sua terra natal.

Ergueu uma casa onde vivia com sua família até ao ano 2000 quando ocorreram as inesquecíveis cheias que ceifaram vidas e levaram quase tudo que muitas famílias moçambicanas haviam conquistado com sacrifício.

O sonho de fazer a casa de dois pisos para a família surgiu após eu ter acompanhado o caso da mulher que deu à luz um bebé em cima de uma árvore,conta Lopes Filipe, acrescentando que aquele acontecimento fê-lo reflectir sobre a condição em que sua família vivia.

Pensei que se um dia as inundações voltarem a acontecer, corria o risco de perder a minha casa e família, afirmou.

Recorda o episódio de 2000 com expressão melancólica: Foi milagre. Deus protegeu e guardou aquela mulher e a criança em cima da árvore. Mas não quero que a minha família passe por aquilo. Foi triste, lamentou.

Foi assim que em 2012 decide construir o seu “castelo”.

TORNAR O SONHO

EM REALIDADE

Argila misturada com areia, madeira de eucalipto, casuarinas, barrotes e malhas de seis polegadas foram os principais materiais usados para a construção do “castelo” da família Moreira.

Depois de me preparar no ano antepassado, comecei a construir esta casa com a ajuda da minha esposa. Comprei alguns materiais como pregos e malhas. Outros, como barrotes pedi aos chineses que construíram este gasoduto aqui atrás. Também trabalhei com eles na montagem deste canal, afirma com orgulho.

Mas aquela construção não foi feita de forma aleatória. Lopes Filipe Moreira, com cinquenta anos de idade, é mestre de construção civil. Trabalhou muitos anos numa grande empresa de construção na cidade de Maputo e adquiriu experiência que orienta a sua vida até hoje.

A minha formação não é da escola. Aprendi o ofício com os engenheiros da empresa Dalo Construções. Pela técnica de construção que usei garanto que a minha casa pode durar 20 anos, aponta.

A obra ainda está por terminar. O piso do rés- do- chão é composto por uma cozinha e um quarto. No segundo é composto por um quarto ainda por concluir, uma sala, e uma varanda frontal.

O nosso entrevistado pretende transformar a sala de baixo e adequá-la para fins comerciais. Estou a pensar em fazer uma espécie de barraquinha para minha esposa vender alguns produtos e aumentar assim o nosso rendimento, explica.

PARTICIPEI EM MUITAS OBRAS

A estrutura que tenho aqui dentro da minha casa é a mesma que está no Instituto Nacional de Meteorologia. Participei da construção de parte daquele Instituto. Fiz todos pavimentos do instituto, com excepção do grande edifício, revela.

Afirma ter tido boas referências no processo de aprendizagem na Dalo Construções. Estive em frente de muitas obras. Aquando da tomada de posse do antigo Presidente da República, Armando Guebuza, reabilitei e removi todas as telhas da casa, montei a guarita dos guardas da Presidência, recorda.

Texto de Luísa Jorge
luísajorge@snoticias.co.mz
Fotos de Jerónimo Muianga

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