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A menina que a mãe não conseguiu matar

Por admin

Georgina é uma menina de 8 anos de idade. Nasceu com problemas de pigmentação da pele, vulgo albinismo, no distrito de Inhassoro, província de Inhambane. Mal veio ao mundo abraçou o infortúnio da rejeição.

O pai não a quis assumir. A mãe, por seu turno, pensando que ia preservar o casamento, tentou assassinar a filha em duas ocasiões distintas e ambas dramáticas. Mas, a menina escapou…por milagre.

A menina Georgina nasceu
em 2008 no distrito
de Inhassoro, onde
a sua mãe, Joana, fora
procurar emprego
como empregada doméstica,
ida de Nova Mambone, sua
terra-natal, ambos distritos da
província de Inhambane.
Encontrámo-la no dia 1 de
Junho, na Escola Primária Completa
de Magoanine “B”, na cidade
de Maputo, onde participava,
com a sua mãe adoptiva,
TM, num evento organizado
por uma organização não-governamental
denominada “Naturalmente,
Como Nós”, para a
celebração do Dia Internacional
da Criança.
Foi Nuno Maia, um dos organizadores
do evento, quem
nos chamou à atenção para a
presença da menina Georgina
que, segundo ele, escapou
da morte que lhe tinha sido
destinada pela própria mãe, a
biológica. Abordámos imediatamente
a mãe adoptiva, que
nos contou como tudo aconteceu.
Ainda com poucos dias de
vida, o pai da pequena Isabel
decidiu começar a complicar
o futuro da criança, recusando
a paternidade, alegando que
na sua família não existiam albinos,
e que, logo, aquela não
poderia ser sua filha.
A situação deixou a mãe da
menina confusa, pois, por um
lado não queria perder o seu
lar, e, por outro, não queria
perder também a sua primeira
filha. Contudo, depois de algum
tempo de reflexão tomou a decisão
de tirar a vida à sua filha
para manter a sua união com o
seu marido.
Para lograr os seus intentos
macabros, Joana viajou para
Nova Mambone, para aproveitar
visitar os seus pais e livrar-
-se da criança. Naquele distrito
teve outra situação complicada
na comunidade, porque a criança
albina não foi bem acolhida.
É que, para os residentes
daquelas paragens, um albino
traz muitos azares: como a
falta de chuva, fraca produção
agrícola, pragas, entre outros.
Perante esta realidade, Joana
cimentou em definitivo a ideia
de que o melhor seria livrar-se
da criança.
Numa manhã a mãe pegou
na bebé, recém-nascida, e dirigiu-
se às margens do rio Save,
fez um buraco, embrulhou a filha
numa capulana e enterrou-
-a viva e de seguida pôs-se em
fuga, contando que estava tudo
consumado.
Entretanto, um grupo de
pescadores que se encontrava
nas imediações a concertar redes
apercebeu-se de um movimento
estranho, uma vez que
a mulher abandonou o recinto
a correr. Um deles dirigiu-se ao
ponto de onde a mulher surgiu
e viu uma ponta de capulana a
emergir da terra revolvida há
instantes. O pescador puxou a
ponta da capulana e, à medida
que ia desenterrando aquele
longo pano ouvia-se o choro de
uma criança no fundo da cova.
REGRESSO PARA
INHASSORO

Depois de cometer o acto
Joana voltou para a casa do marido,
em Inhassoro, onde relatou
sobre o sucedido e, mesmo
assim, o homem não quis reatar
a relação porque, na sua óptica,
temia ter mais filhos albinos.
Esta decisão deixou-a frustrada
e a amargura se agravou,
porque em Inhassoro nenhum
homem se dispunha a tê-la
como esposa, amante ou simples
amiga. Contudo, ainda em
Inhassoro, Joana ficou boquiaberta
quando recebeu a informação
de que a sua filha tinha
sido salva por pescadores e estava
sob cuidados dos avós. Envolta
no desespero, regressou
para a casa dos seus pais, em
Nova Mambone, para tentar
nova sorte, onde reencontrou
a menina.
Porém, a sombra do mal
continuava consigo, e porque
também já acreditava que o
problema residia na criança,
pegou na filha, simulou um
passeio para a casa de uma prima
e voltou ao rio Save. Desta
vez determinada a fazer diferente.
Isolada de tudo e todos,
deu uma paulada na nuca da
criança e atirou-a ao rio, convicta
de que a menor morreu
e que a correnteza trataria de
ocultar o corpo. Mas o destino
seguiu na contramão da vontade
da mãe da bebé e, eis que,
mais uma vez, um pescador viu
algo a flutuar em direcção ao
mar e tratou de se aproximar e
resgatar a criança, que já estava
inconsciente.
De referir que o rio Save divide
os distritos de Nova Mambone,
em Inhambane, e Machanga,
na província de Sofala.
Como o ponto onde a criança
foi resgatada era próximo de
um posto de Saúde de Machanga,
o pescador encaminhou-a
àquela unidade sanitária.
Dias depois a Rádio Comunitária
local anunciou o sucedido, quando a mãe da criança, Joana,
já se tinha posto em fuga,
desta vez em direcção à região
de Inchope, na província de
Manica.
ADOPÇÃO
A história da menina comoveu
a senhora T. M. que é tia de
Joana, que se tinha deslocado
a Nova Mambone para visitar
familiares e amigos. Conta que logo que ouviu a estória, contada
pelos pais de Joana, pediu
autorização para adoptá-la. A
criança na época tinha ferimentos
ainda visíveis na cabeça.
TM vive em Maputo e, com a
autorização dos avós maternos
de Georgina, trouxe a pequena
para a capital do país, onde
esta reside desde os dois anos
de idade. De lá a esta parte
nem a mãe, nem o pai procuraram
pela menina.
Tanto eu assim como ela
estamos satisfeitos. Isabel
é uma menina muito activa,
o grande problema que tem
neste momento é o de vista.
O outro é que o protector
solar que aplicamos no corpo
não é compatível à pele
dela”, conta.

Durante a nossa conversa
lembrou que recentemente
apareceu um jovem do bairro
que manifestou um estranho
interesse de vender a menina
num circuito supersticioso por
quatro milhões de meticais.
Fui apresentar o caso à
esquadra da zona. O jovem foi
chamado e disse que não tinha
certeza do que tinha falado
porque estava embriagado. A
partir daí mudei a minha rotina
para passar a levá-la pessoalmente
à escola e trazê-la de
volta à casa em segurança. E
não só. Ela não pode brincar
fora de casa, disse.

Abibo Selemane
abibo.sulemane@snoticicas.co.mz

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1 comment

jogos play-to-earn 17 de Janeiro, 2024 - 1:04

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