Há dinheiro no meio rural, muito dinheiro. Quase todo ele circula longe do sistema financeiro formal, estando guardado debaixo de colchões, em buracos, latas, malas, entre outros locais onde cada camponês entende ser que lhe parece seguro.
domingopercorreu, há dias, várias aldeias daquelas províncias, bem longe das sedes distritais, onde encontrou camponeses que movimentam tranquilamente dois milhões de Meticais em operações de compra e venda de cereais, entre outros negócios.
Muitos destes, particularmente mulheres, aderiram aos grupos de Poupança e Crédito Rotativo (PCR’s), em que cada um deposita a quantia que lhe parece excedentária ao longo da semana ou mês para posterior arrecadação no final do ano com um acréscimo correspondente aos juros que tiverem sido gerados nesse período.
Os membros deste tipo de grupos também canalizam uma pequena percentagem para um fundo social destinado às despesas de saúde e funeral. Parte do fundo social é angariado por via das penalizações aos que atrasam aos encontros da colectividade. O valor mais alto da multa é cobrado a quem falta sem justificação.
Estas associações são criadas um pouco por todo o país pela mão de provedores de serviços contratados por projectos como o de Promoção de Aquacultura de Pequena Escala (ProAQUA), de Promoção de Pesca Artesanal (ProPESCA) e Programa de Promoção de Mercados Rurais (ProMER).
Para estes casos, o financiamento é assegurado por fundos do Governo moçambicano em parceria com a União Europeia e o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrário (FIDA). Mas também há outros organismos do Estado que investem na mobilização das comunidades rurais para este tipo de práticas financeiras, como é caso do Fundo de Apoio à Reabilitação da Economia (FARE).
No caso de Zambézia e Nampula, o ProMER gere 147 grupos em quatro distritos – Guruè, Alto Molócuè, Ribáuè e Malema, e em Cabo Delgado – o mesmo programa gere 90 grupos, sendo 18 em cinco distritos – Montepuez, Balama, Namuno, Ancuabe e Chiúre – o que perfaz 238 só deste programa, sublinhe-se.Conforme referem os gestores desta iniciativa, cada um destes gere em média 200 mil Meticais por ano, sem incluir os montantes que os membros usam para manter as suas actividades económicas activas. “São muitos milhões de Meticais que circulam na economia rural”, disse Luís Chindui, coordenador da OICOS, provedor de serviços contratado pelo ProMER para Cabo Delgado.
Estes grupos são uma alternativa à indisponibilidade de serviços financeiros formais no meio rural, facilitam o acesso o acesso ao financiamento para o fortalecimento de pequenos negócios, além da natural coesão social e entreajuda.