bento.venancio@snoticicas.co.mz
É como se alguém tivesse estendido uma passadeira vermelha e dissesse: “comam como quiserem”. Ninguém controla ninguém numa mineração descrita como uma fraude aos olhos do Estado. domingo revisitou o distrito de Manica e esboça nesta reportagem os contornos do garimpo de ouro, “negócio” sem dúvida chorudo, do qual o Governo não ganha um único centavo.
Cada quintal do distrito de Manica é uma mina de ouro, isto na região montanhosa. Os próprios camponeses olham para a machamba como campo de produção daquele mineral, atirando as hortícolas para o lixo.
Ali cada garimpeiro abre buraco como bem lhe apetece. O descontrolo da actividade estimulou e aguçou o interesse de estrangeiros, na sua maioria zimbabwianos, que tomaram o distrito de Manica, construindo uma rede de contrabando temível, em circuito fechado e com fama além-fronteiras. A própria Polícia pede licença antes de entrar nos campos de mineração ilegal.
O Estado está perante o desafio de controlar a roubalheira, mas nada consegue. Este é o sentimento que domingo colheu na recente deslocação a Manica. Empresários do sector mineiro e o próprio Estado parecem ter capitulado perante o fenómeno “garimpo”, que alimenta um número bem expressivo de pessoas singulares.
O Estado agarra-se num pau de dois bicos: tentar combater o garimpo, por um lado, e desenhar estratégias no sentido de minimizar o problema sem ferir a sensibilidade das comunidades, porque a actividade é vista de auto-sustento naquelas regiões.
Trata-se, sem dúvida, de uma guerra difícil de gerir. A verdade é que são poucos os países, no mundo, que permitem a exploração dos seus recursos minerais por singulares e o argumento de auto-sustento das comunidades não pode ser aceitável.
Cidadãos em Manica apelam para uma mudança de estratégia na intervenção do Estado e destacam o Zimbabwe como exemplo. Do outro lado da fronteira, o garimpo não é tolerado. As reservas de ouro são geridas pelo Governo. Operadores privados não se dão ao luxo de explorar recursos sem autorização.
Sem espaço para fomentar irregularidades no seu país, alguns garimpeiros zimbabweanos atravessam para Moçambique onde a mineração ocorre ao desbarato. Só em Manica, estima-se que estejam dez mil garimpeiros em acção.