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SOBRE O RACISMO OU A INCOMPETÊNCIA DOS AMBICIOSOS

Por admin

Lá vão mais de quatro décadas, quando num encontro com populações em Cabo Delgado, um chico esperto, sempre os há, indagou a Samora a razão de não haver membros desse distrito nos órgãos de direcção da Província. Depois de Samora consultar companheiros da província respondeu que Fulano e Beltrano vinham desse distrito.

Aí o nosso chico esperto insistiu afirmando que talvez sim, mas não pertenciam à localidade. Brandamente, mas com o caldo algo já entornado, Samora retorquiu:

Se eles houvessem nascido e crescido nesta localidade, gritarias que não pertenciam à tua aldeia e, se até as suas origens estivessem na tua aldeia, não ficarias contente, porque querias que morassem na tua rua, e…habitando até mesmo ali, a tua conclusão e exigência resumia-se a perguntar e…porque não EU!

Lembrei-me duma intervenção do saudoso Mestre Malangatana na então Assembleia Popular quando se discutia a Lei da nacionalidade, e um quidam queria que só se reconhecesse como moçambicano quem possuísse os quatro costados. Malangatana muito a seu jeito subiu à tribuna e disse:

Como os Ngwenya têm ascendência suazi tiram-me a nacionalidade, mas também a todos com origem zulu, changana, ndebele, nguni, suaíli, indiana, europeia!

Terminou aí o debate da estupidez.

Uma amiga minha negra aparente de quatro costados e olhos rasgados à oriental, disse-me a propósito dos seus olhos:

Faço exames de ADN na minha profissão. Venho de Inhambane e em Inhambane existe muito ADN que provém da Indonésia.

A incompetência do ambicioso leva-o a procurar todos os argumentos por mais absurdos para requerer o seu progresso na escalada para o poder.

Faz dias na comunicação social lia-se que num encontro com Maria da Luz Guebuza houve quem protestasse porque o candidato a edil escolhido viera de um outro distrito ou província.

Alguns, na busca de um lugar ao sol, quase que desejam requererem, à maneira de Hitler ou do apartheid, certificados de pureza racial. Que o façam e veremos onde vamos todos parar.

Não me atormentou a cor da minha pele ou a enorme diversidade de origens raciais que carrego, quando com um punhado de companheiros nos juntamos a Mondlane para se fundar a FRELIMO. Fizemos, gentes de muitas origens regionais, raciais, religiosas, graus diversos de escolarização e formação. Fizemos sem complexos, unidos na vontade moçambicana de criar uma pátria.

Noto que recentemente este e aquele cretino para criticarem A ou B com tonalidade diferente da pele começam por apresentar o argumento contundente que se trata de um expatriado ou mais fino e sem pagar copyright, de um expat. Falam de pessoas desde que surgiu a nacionalidade moçambicana sempre possuíram essa única nacionalidade, nunca abandonaram a pátria. Em paralelo, denunciam a geração e os homens que criaram a independência, defenderam a pátria agredida, construíram o nosso Estado e que, em qualquer parte do mundo se consideramreferências morais, pais fundadores da Nação.

Este comportamento e estas escritas nauseabundas destinam-se a denegrir quem sentem como seus melhores e que aparentam discordar desta ou daquela acção governativa. Fazem-no para afastarem a imagem que os atormenta, a mensagem de hombridade, competência, de entrega ao sacrifício, de renúncia até aos benefícios do poder. Não passa isso de mera e estulta idiotice encobrindo a ambição, o lambebotismo, a tentativa vã de diminuir os seus maiores para melhor enaltecer um chefe tão momentâneo como a vida de cada um, tão insubstituível como qualquer homem honrado e trabalhador.

A acção governativa não está isenta de erros e no seio da enorme máquina governamental existem muitos bons e alguns canalhas completos, gatunos, ignorantes, desleixados, preguiçosos, 100% incompetentes.

A crítica funciona como um espelho, onde se reflecte o que de bom e mau existe no nosso rosto, a beleza dos olhos ou a verruga. Querer abafar a crítica, sufocar o debate e transformá-lo numa ladainha de encómios não passa de cretinice e vontade de agradar lá em cima.  

O Partido FRELIMO, e para falar das referências morais que já não vivem connosco Mondlane, Samora, ensinaram-nos que devíamos combater o racismo, o tribalismo, o regionalismo, com as mesmas armas que combatíamos o colonialismo. Esses lambe botas ainda se lembram destes valores?

Há culpa nos quadros e dirigentes locais ou centrais quando descuram, desprezam, ignoram os esteios da unidade nacional. Estão a destruir a teia que nos une e sempre resistiu a todas as investidas dos inimigos de Moçambique e da moçambicanidade. 

Pela sensatez, contra os oportunismos de todos os quilates, pela vigilância, o meu abraço,

Sérgio Vieira

P.S. Em todas as sociedades existem tarados e psicopatas. As confissões religiosas estão integradas nas sociedades. Os seus membros de um modo geral pertencem à categoria de gentes honestas e trabalhadoras, que não buscam fazer mal ao próximo e ao contrário procuram ajudá-lo. No seio das confissões, porém, também existem fanáticos e loucos.

A tragédia que se repetiu em Nairobi não ocorreu longe de nós. Fanáticos também se podem infiltrar graças à enorme porosidade das nossas fronteiras. Aqui arribam todo o tipo de imigrantes vindos da Ásia, do Médio Oriente, das costas ocidentais e orientais de África, de países onde se sucedem regularmente chacinas para corrigir os erros do Deus em quem dizem acreditar e a Quem negam a bondade, o amor a misericórdia.

Abraço a vigilância, particularmente entre os crentes,

SV

R.P.S. Numa Carta Aberta aos Libertadores da Pátria constato que vem expressamente mencionado o meu nome. Sim, faço parte desse punhado que tudo aceitou para acabar com os sistemas coloniais e racistas nesta parte do mundo. Não me arrependo e orgulho-me disso.

A autora parece-me que dirige há uns bons vinte anos uma ONG assaz barulhenta onde, eternamente presidente, nada recebe em verdinhas ou outas convertíveis (verdade?) pela sua grande dedicação.

Abraçá-la-ia se diminuísse a verborreia,

SV

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