“Na minha angústia, clamo ao Senhor, e Ele me ouve. Senhor, livra-me dos lábios mentirosos, da língua enganadora. (…). Já há tempo demais que habito com os que odeiam a Paz. Sou pela
Paz; quando porém, eu falo, eles teimam pela guerra” Salmos 120: 1-7
Entendo como “Assombração”, um susto, terror ou pânico causado pelo aparecimento de coisas sobrenaturais. Coisas ou acontecimentos muito extraordinários. Num passado que já vai tendo barbas brancas, nós os de ontem vivemos uma série de “Assombrações” que…contados não têm peso. Só encarnados, vivenciados ou testemunhados “in loco”. Nomes como “Sete de Inhambane”, “Zero Fore”, “Zeca Russo”, só para citar como exemplos, cada um desses personagens constituíram-se em genuínas “assombrações”. Sobre o “Sete de Inhambane”, pessoalmente testemunhei uma das suas variadas actuações “assombrosas”, ao ser identificado em casa de um primo seu na minha Vila, quando a Polícia andava ao seu encalço. Corria o mês de Dezembro de 1958. Preso em pleno jantar, foi levado e enclausurado numa pequenina “Célula” de pouco menos de um metro quadrado, na Cadeia local na esperança de, no dia seguinte ser reencaminhado para a Cadeia Civil da sede Provincial. Vigiado por dois Cipaios fortemente armados até aos dentes como sói dizer-se, o “mostrengo” conseguiu escapulir-se, “miraculosamente” na calada da noite, deixando como recordação da sua passagem pela nossa Vila, um bilhetinho com uma única oração ou proposição gramaticalmente classificada como “Oração periódica ou independente” dizendo: “Ninguém consegue deter o Sete de Inhambane”. Samuel Saiete, nosso Professor de Língua Portuguesa da Terceira Classe Elementar, fiel discípulo de Camões, achou aquilo um trecho literário e deu-nos como um “TPC”: Analisar a frase morfológica e sintacticamente! Soubemos depois que o autor da frase era afinal o tal terror das populações de Inhambane, com uma peculiaridade: Somente assaltava casas de comerciantes e gente influente das principais Vilas da Província. Quanto a “Zero Fore”, esse foi uma lenda viva do crime que assolou o Centro e o Sul do País nos finais da década Sessenta princípios da década Setenta do século passado. Proveniente dum Povoado algures na fronteira entre Manica e Rodésia do Sul, (actual Zimbabué), foi “hóspede” de honra em várias Penitenciarias das Províncias de Manica, Sofala, Inhambane Gaza e Maputo. As suas “odisseias” iam desde roubo, assassinato de personalidades de então à violação e humilhação das mesmas. Um dos mais escaldantes e escandalosos episódios, foi quando invadiu, na calada da noite, as casas do Administrador e do Secretario do nosso Distrito. Começou pelo Palácio do Administrador onde “sedou” o casal após o que “higienizou” a senhora Dona Maria Emília Sousa, mulher do Administrador ao depilá-a os pêlos púbicos e dos axilares e de seguida levando-a nas costas, a transferiu para a casa do Sakaratane (Secretário Distrital) que era por assim dizer o Lugar-Tenente do Administrador, que morava a umas duas centenas de metros, após fazer a mesma operação à Dona Maria Beatriz Rouco, esposa do Secretario, permutou os casais, deixando cada uma das senhoras no leito do homem que não era seu marido. Foi um escândalo de bradar aos seus. Escusado será dizer que isso tudo teve como condimento a violação sexual, se é que assim se pode considerar, já que as vítimas estavam sob efeito de sedativos. Sobre “Zeca Russo“, por ter surgido um pouco antes da independência, prolongando depois algum tempo depois, ao protagonizar cenas de verdadeiro “James Bond”, evitarei elaborar seja o que fôr sobre ele, pois muitos ainda são vivos os que acompanharam as suas proezas assombrosas. Hoje por hoje, uma boa parte dos moradores dalguns Bairros das cidades de Matola e Maputo, está passando por situações e momentos de mórbido pavor. Medo e insegurança tomaram conta não só daquelas Populações, como praticamente de todos os moradores das duas cidades. E, não é para menos. Este estado (de medo, pavor e de insegurança), não surgiu do nada. Foi sendo incubado de uns tempos a esta parte. Podemos tomar como ponto de referência do nascimento de tantas Assombrações, o momento que começou-se a falar em eleições Autárquicas. Aquilo que parecia ser uma pontinha dum “Iceberg”, uma espécie de simples borbulha no corpo humano, que provocava uma simples comichão, com o passar do tempo tornou-se num furúnculo doloroso, cheio de pús fedorento. Muitos de nós como já vai sendo hábito nunca levamos a sério quando alguns “Porta-vozes” nos asseguravam que “este ano não haverá eleições neste País porque nós não vamos permitir, enquanto não houver paridade”. Ingenuamente, alguns perguntavam: “mas de que maneira vocês vão impedir a realização de eleições sem recorrer a guerra?”. A resposta era peremptória: “Nós somos pela Paz, não queremos guerra. Por isso, na hora vocês saberão como agiremos”. E, como “Pais e donos da Democracia”, já estão disseminando os seus métodos “pacifistas”. Alguém ainda tem dúvidas sobre os métodos de inviabilização das eleições!? Eu não! Violar, raptar, agredir, insultar, mentir, roubar, confundir e matar, são verbos que os “Pais e donos da Democracia” sempre conjugam no indicativo presente. Estamos num Pais Assombrado. Que Deus nos acuda!